Por razões ainda não bem estudadas, nos últimos anos, uma boa parcela do povo brasileiro vem alterando seu padrão de comportamento. As pessoas estão ficando com o coração duro, odiando seus semelhantes por qualquer bobagem, em níveis nunca vistos antes. Os altos níveis de violência dos bandidos e dos cidadãos valentões, a corrupção desenfreada de nossos políticos, a crise econômica, a desagregação das famílias, o confronto políticos entre ideologias extremistas, isso e mais uma série de acontecimentos cotidianos estão estressando os brasileiros que, até há pouco tempo conhecidos pela sua gentileza, simpatia e hospitalidade, estão se transformando agora em pessoas mal educadas, mal humoradas e principalmente agressivas. Crimes homofóbicos e feminicídios tornaram-se corriqueiros. Brigas no trânsito, discussões no ambiente de trabalho, desentendimentos nos círculos de amizade, quebra pau entre familiares, os valentões e valentonas estão por toda a parte.
Dentro desse quadro angustiante, o presidente Jair Bolsonaro briga com todas as brechas legais para armar o povo brasileiro, com a justificativa que o cidadão tem o direito de se defender dos bandidos. Ora, o povo paga impostos e elege seus representantes para que as polícias sejam bem estruturadas e eficientes, de forma a proporcionar segurança e tranquilidade. E a parcela da população que é serena, não se mete em confusão, não tem a pretensão de se armar e que pelas pesquisas ainda é maioria, onde fica nessa história? Vai correr o risco de morrer nas mãos dos bandidos (o que certamente vai acontecer estando ou não armado) e também dos valentões, numa briga de trânsito? A liberação da posse de arma vai servir para que os valentões de classe média (e cada dia tem mais) possam satisfazer seus desejos dentro da lei. Não são bandidos, mas cidadãos aparentemente de bem, que são altamente agressivos e por qualquer besteira estão arrumando confusão. Os defensores da posse de arma citam os Estados Unidos como exemplo de país desenvolvido onde a posse e o porte de arma são praticamente livres. Esquecem de duas diferenças significativas. Lá os assassinatos tem alto percentual de elucidação, com a polícia altamente treinada e equipada. E crime de morte nos Estados Unidos ou é pena de morte ou prisão perpétua sem direito a nenhum tipo de benefício. Mesmo no Japão, um país altamente desenvolvido sob os aspectos tecnológicos e humanos, assassinos são condenados à pena de morte, geralmente por enforcamento. Em 2018 na terra do Sol Nascente foram 15 execuções e existem ainda 100 criminosos no corredor da morte. No Brasil a probabilidade de um assassinato ser esclarecido é bem baixa. E dos crimes esclarecidos, muitos autores conseguem ficar foragidos da justiça. E os poucos que são presos sofrem penas brandas, uma temporada de férias atrás das grades. E os bandidos, que hoje já não tem tanta dificuldade de adquirir uma arma, vai ter um arsenal nas mãos de cidadãos de bem pronto para serem surrupiados. E no confronto, em cada cem casos, em um ou dois no máximo, o cidadão vai levar vantagem e matar o bandido.
Seria melhor que todos os segmentos da sociedade, homens públicos, mídia, classe artística, professores e outros começassem uma campanha pela paz, pelo bom entendimento, pela serenidade no trato com outras pessoas. Discursos raivosos de políticos da extrema direita contra a turma da extrema esquerda e as respostas destes na mesma linha estão incentivando uma pequena guerra civil por enquanto restrito às redes sociais, mas que podem se tornar coisa mais séria. A facada que o então candidato a presidente Jair Bolsonaro levou parece que não colocou juízo na cabeça dessa gente, ao contrário parece que estão jogando mais lenha na fogueira. A civilidade entre pessoas que pensam diferente é a base para uma sociedade moderna e desenvolvida. Ou nos esforçamos todos por uma sociedade menos agressiva e violenta ou a guerra nas estrelas não vai ser apenas um filme para nossos filhos e netos!!