Com apenas 11 anos, uma habilidade admirável e rotina de jogadora profissional, Jaqueline Koki mostra que futebol é coisa de menina, sim!
Texto: Cibele Hasegawa
Desde os 4 anos, Jaqueline Koki é apaixonada por futebol. Ela se infiltrava no meio dos meninos e batia um bolão, mesmo que eles relutassem em deixá-la jogar. E o que era uma brincadeira de criança passou a chamar a atenção. Koki conquistou praticamente todos os prêmios da escolinha de recreação futebolística. Aos 8, participou de sua primeira peneira (termo utilizado para selecionar novos jogadores) do time feminino de São Bernardo do Campo, e passou. Jaque conquistou uma vaga no sub-13 mesmo sem ter a idade mínima de 9 anos para poder compor o elenco. Havia ali um talento nato pedindo para ser lapidado como um diamante.
“As professoras ficaram surpresas com a habilidade dela para a idade, e a deixaram jogar. Foi aí que eu me convenci não só de que ela gostava, mas que levava jeito”, lembra Tânia Koki, mãe de Jaque, que no início tinha um certo receio em deixar a filha jogar. Por isso, mais do que conseguir a tão sonhada posição, a jogadora mirim quebrava ali o seu primeiro paradigma: futebol não é só coisa de menino.
Infelizmente, o futebol ainda é visto como um esporte masculino. No Brasil, durante a Era Vargas (entre os anos 1941 e 1979), as mulheres eram proibidas por lei de praticar o desporto. Embora a lei já tenha sido revogada, os reflexos dessa proibição parecem perdurar até hoje, uma vez que as meninas enfrentam uma série de preconceitos e dificuldades. Ao contrário dos homens, para as mulheres falta estrutura, incentivo, patrocínio e um futuro melhor na carreira futebolística.
A ausência de campeonatos e times de base femininos é uma das provas dessa realidade. Jaque, hoje com 11 anos, joga no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, espaço voltado para o esporte de alto rendimento de São Paulo. Seu time foi a única equipe feminina a disputar a Copa São Paulo de Futebol Júnior 7 na modalidade sub-11. Mas essa nova geração mostrou com todas as letras que “sexo frágil” é coisa do passado. Afinal, elas chegaram à final contra o Santos.
O jogo, ocorrido em junho deste ano, terminou em 3 a 1 para a equipe alvinegra, tornando as meninas vice-campeãs de uma competição masculina. E adivinha quem fez o gol de honra da partida? Jaqueline Koki! “A técnica disse para chutar de longe. Foi o que eu fiz”, conta com um jeitinho tímido e modesto. Um golaço de fora da área para mostrar que futebol é coisa de mulher, sim! E que se houver apoio da sociedade, patrocínio, investimento em times de base e oportunidades para as meninas jogarem, é possível que novas “Martas” apareçam e muitas jovens possam vislumbrar uma carreira no mundo futebolístico equiparável à dos homens.
Enquanto isso, Jaque “dá tudo de si”, como ela mesma descreve, para fazer a sua parte e chegar ao profissional. Com uma rotina puxada, ela se divide entre treinos de futebol, o atletismo e os estudos. “Volto cansada dos treinos e fico até tarde estudando”, conta. E vale a pena todo esse esforço? “Sim”, ela responde com o largo sorriso de quem faz o que ama.
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