OS NOVOS IMIGRANTES

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A maioria dos primeiros imigrantes japoneses que vieram para o Brasil tinha como meta trabalhar e juntar dinheiro e em pouco tempo retornar rico para o Japão. Mas prometeram sonhos e quando acordaram viram que realidade era bem outra. Estavam preparados para sofrer no início com as dificuldades de adaptação ao clima, aos costumes, à língua, mas o que não esperavam era que os ganhos pelo trabalho árduo na lavoura fossem tão miseráveis. Logo viram que o sonho de retornar rico para o Japão seria muito difícil de ser realizado, então o negócio era trabalhar, pelo menos para melhorar o padrão de vida aqui no Brasil. Quando estourou a Segunda Grande Guerra, essa idéia de voltar ficou sepultada de vez. Uma pequena parcela já tinha começado a se integrar e depois que a guerra acabou e se conscientizaram da derrota japonesa, não tinham mais o que fazer, os japoneses começaram a incutir na cabeça de seus filhos de que eles eram brasileiros e deveriam estudar e trabalhar em prol desse país. E a integração continuou nas gerações seguintes, com os nikkeis cada vez mais integrados.

Mas eis que nos anos 80, algumas décadas atrás, uma grave crise econômica ataca o Brasil, com muitos desempregados e com severa diminuição de ganhos dos que tinham negócio próprio. Começou aí o fenômeno que ficou conhecido como “dekassegui”. Milhares de nikkeis, sozinhos ou em família, foram se aventurar no Japão, também com a mesma idéia dos seus ancestrais imigrantes, ganhar um bom dinheiro e voltar para o Brasil. E nesses 40 anos de vai e vem, uma coisa vem ficando bem claro. Cada dia é maior o número de nikkeis brasileiros que acabam fixando residência definitivamente no Japão, que podemos chamar de os novos imigrantes. Já existem filhos de nikkeis brasileiros nascidos no Japão com mais de 30 anos de idade. Como poderiam ser chamados, de nisseis brasileiros? Talvez já existam até sanseis.

Exatamente esta é uma questão que deve ter importunado (ou ainda estar), muitos dekasseguis, a identificação da nacionalidade dos filhos. Brasileirinhos nikkeis que vão ao Japão, devem ser matriculados em escolas brasileiras ou japonesas? Devem ter uma educação voltada aos costumes japoneses ou manter um pouco de brasilidade? Se estudarem em escolas brasileiras e se mais tarde os pais decidirem ficar no Japão, de certa forma terão dificuldades. Vale também para a situação contrária, de crianças estudando em escolas japonesas e os pais resolvem voltar ao Brasil com os filhos adolescentes. E o que se passa na cabeça dessas crianças, será que não existe uma dúvida quanto à nacionalidade? Será que eles tem como comparar as vantagens e desvantagens de assumir uma ou outra nacionalidade? Certamente que com o passar dos anos, esses filhos de nikkeis brasileiros irão se adaptar e se tornar japoneses de direito e de fato. Muito mais rapidamente do que os imigrantes japoneses e seus descendentes se tornaram brasileiros. Mas até lá um bom caminho para percorrer, com dúvidas, erros e acertos. Uma família que conheci (treinei os meninos no beisebol quando eles eram crianças), foram ao Japão com os filhos já adolescentes. Mas fizeram tudo para que os meninos se tornassem cidadãos japoneses, tanto que eles acabaram cursando até faculdade e casando com japonesas legítimas. Um exemplo de sucesso de readaptação. Mas será que vale como modelo??