A cada ano, os brasileiros têm a oportunidade de presenciar grandes espetáculos de artistas nipônicos e, apesar das dificuldades, a tendência é esse mercado se ampliar ainda mais nos próximos anos
Texto: Tamires Alês / Fotos: Daniel Yonamine
Não é de hoje que os artistas japoneses saem do outro lado do mundo e viajam até o Brasil para se apresentar em terras brasileiras para uma plateia composta de fãs calorosos e muito animados. Público esse, formado, principalmente, pela comunidade nipo-brasileira e por não-descendentes que amam os artistas japoneses e a cultura do Japão. Por aqui já passaram grandes nomes da canção japonesa, seja de música tradicional, rock ou J-pop.
“A vinda de artistas japoneses para o Brasil é antiga. Tivemos shows históricos por aqui, na época de programas televisivos como Imagens do Japão e Japan Pop Show. Empresários como Mário Okuhara e Nelson Matsuda investiam em grandes produções, em shows de cantores como Misora Hibari (a maior expressão feminina do estilo Enka), Itsuki Hiroshi (conhecido como o ‘Roberto Carlos’ do Japão, intérprete de clássicos como ‘Kanpai’, ‘Sanga’ e ‘Yokohama Tassogare’), Kitajima Saburo (expoente do estilo Enka), dentre outros. Estamos falando em shows de 20, 30 anos atrás, que enchiam o Ginásio do Ibirapuera e até estádios”, lembra Rodrigo Meikaru, que vem atuando na produção de diversos shows de artistas japoneses no Brasil.
“Recentemente, o dr. Mário Ikeda trouxe grandes cantores do Enka (estilo de música japonesa que é uma mistura de sons tradicionais japoneses com melodias ocidentais), que atraem uma multidão de fãs, reforçando esse elo musical entre Brasil e Japão”, completa.
Na música tradicional, também marcaram presença em terras brasileiras cantores como Horiuchi Takao, Sen Masao, Mikawa Kenichi, Ishikawa Sayuri, e, recentemente, nomes mais contemporâneos, como Miyama Hiroshi, Kitayama Takeshi, Mizumori Kaori e Natsukawa Rimi, cantora okinawana de grandes sucessos como “Nada Sousou”, que esteve no Brasil em novembro do ano passado.
Da ala mais pop-rock, destaque para os shows da banda de rock X-Japan, que esteve no Brasil pela primeira vez em 2011 com os sucessos “Jade”, “Forever Love” e “Endlen Rain”; One Ok Rock, que marcou presença no Brasil em 2017, com a turnê mundial “Ambitions”; da banda okinawana Begin, que em suas visitas ao Brasil encantou o público com os sucessos “Sanshin no Hana” e “Shimanchu nu Takara”, apresentados junto com os integrantes brasileiros dos grupos de taikô Ryukyu Koku Matsuri Daiko e Requios Gueinou Doukou Kai; e do cantor japonês Kazufumi Miyazawa, fundador das bandas The Boom e Ganga Zumba e intérprete de grandes sucessos como “Shima Uta”. Miyazawa esteve no Brasil em 2018, na cerimônia em comemoração aos 110 anos da imigração japonesa no Brasil, e em agosto deste ano no Okinawa Festival 2019.
Esse ano, no mês de novembro, a Zai Live Produções e Eventos realizou um show que ficou na história, da banda okinawana HY. Formada em 2000 pelos amigos Izumi Nakasone (teclado e vocal), Hideyuki Shinzato (guitarra e vocal), Shun Naka (bateria e rap), Shinsuke Kyoda (baixo) e Yuhei Miyazato (guitarra), a HY é conhecida no mundo inteiro pela música 366, que foi tema do dorama (novela) Akai Ito. No Brasil, as músicas mais conhecidas são Toki wo Koe e Kaeru Basho. “Pessoalmente, foi um grande desafio e um evento que ficará para sempre nas minhas lembranças”, comenta Meikaru.
Na área pop, Diego Ragonha, CEO da Maru Division, empresa responsável pela realização do Anime e Ressaca Friends – uns dos maiores eventos de cultura pop oriental do país, ressalta projetos importantes e desafiadores que trouxe para o País: “Um deles, foi a cantora holográfica Hatsune Miku, que participou do Anime Friends do ano passado, pela dificuldade do holograma”, conta. “Também destacaria os shows do Anime Friends desse ano, como o do Ultraman, uma apresentação toda produzida no Japão, e da Banda Snowkel, nossos grandes parceiros. Foi a primeira atração que trouxemos ao Brasil, além de serem os criadores da música tema do nosso evento”, enumera. No Anime Friends desse ano, Ragonha também trouxe para os fãs o show do girl group, Faky e da cantora Yumi Matsuzawa, eternizada com o tema de abertura de O Cavaleiros do Zodíaco.
“Já no Ressaca Friends 2019, que acontece nos dias 21 e 22 de dezembro, no Centro de Eventos Pró-Magno, o público vai contar com grandes nomes do Japão, como o mangaká, Kenji Oiwa e a atriz e dubladora, Sayoko Hagiwara. Estão todos convidados”, exalta.
Apesar das inúmeras produções nipônicas que já passaram pelo Brasil, trazer um show do Japão para cá é um grande desafio para os organizadores. “Conciliar a agenda dos artistas é muito complicado. Uma turnê no Brasil demanda muito planejamento logístico. Praticamente, os artistas necessitam de, pelo menos, uma semana para viajar, realizar shows e voltar para o Japão. Além disso, a questão financeira também é um fator decisivo, pois há todo um custo elevado para realizar eventos com artistas japoneses”, explica Meikaru.
Recepção calorosa
Emoção, carinho e muita animação. Essas são as principais características do público brasileiro, que sempre recebe as celebridades japonesas de forma calorosa, cheios de energia, cantando junto e emocionando os artistas. “O público reage muito bem a todos os artistas. Cada um possui um público específico, mas, no geral, os fãs nipo-brasileiros e de não-descendentes que amam os artistas japoneses se esforçam para não perder os shows japoneses e para recebê-los com muito carinho. Isso mostra que a cultura japonesa é muito admirada e que possui uma legião de admiradores por aqui”, conta Meikaru.
“Os fãs brasileiros são um público apaixonado, eles recebem muito bem e com muita empolgação. Os artistas ficam impressionados com o calor dos brasileiros. Eles adoram a recepção e o carinho que os brasileiros possuem. Eles dizem que a reação dos fãs do Brasil durante os shows ou até mesmo nas palestras é única”, relata Ragonha.
Segundo Meikaru, os artistas gostam muito do Brasil. “A imagem que eles possuem é a de um país grande, conhecido pela hospitalidade e com muita musicalidade. Quando chegam aqui, se surpreendem pelo carinho dos fãs e pelos shows com grande carga emotiva. Todo artista japonês sai do Brasil com boas lembranças e fazem um pedido: ‘por favor, faça um convite para voltarmos ao Brasil o quanto antes’. Tanto é assim que o próprio Begin já visitou o País mais de duas vezes, Itsuki Hiroshi três vezes, entre outros artistas. Isso mostra o quanto os brasileiros são especiais para eles”, enaltece.
Sobre o futuro deste mercado, Meikaru e Ragonha concordam que é uma área que tende a crescer nos próximos anos. “A expectativa é muito boa! O complicador ainda é o câmbio, o dólar aumentando gera uma dúvida muito grande, mas nós sempre acreditamos e vamos em busca das melhores atrações”, relata o CEO da Maru. “Acredito que as perspectivas são muito boas. Definitivamente, o Brasil entrou na rota de turnês dos grandes nomes da música japonesa. E, quando um artista retorna ao Japão pós-show no Brasil, fala muito bem do País para outros artistas, facilitando as tratativas para que outros nomes venham para cá também”, ressalta Meikaru.
Ragonha explica que alguns artistas fazem parte da sua “lista de desejos” para projetos futuros no Brasil: “Estamos com algumas negociações em andamento. Aguardem que, em breve, teremos novidades”. Já Meikaru revela que gostaria muito que artistas como Hikawa Kiyoshi, Kiroro, Matsuda Seiko, Kitajima Saburo, Kayama Yuzo, Arashi e Utada Hikaru viessem para cá. “Com certeza, fariam shows históricos. Aliás, são apostas que podem vingar nos próximos anos”, finaliza.
Vem Por Aí
E falando em mercado aquecido, os fãs da música japonesa já podem se preparar para mais um grande show vindo diretamente da Terra do Sol Nascente. No dia 25 de janeiro de 2020, o cantor Miyavi, um dos maiores nomes do rock japonês, volta ao Brasil para único espetáculo no Tropical Butantã, na capital paulista.
O guitarrista traz para São Paulo a turnê de seu 10º álbum de estúdio, “No Sleep Till Tokyo”, lançado no mês de julho, que segue a tendência dos últimos trabalhos do cantor, com canções com influências da música eletrônica e letras em inglês. Além da faixa-título, o álbum tem canções como “Samurai 45”, “Butterfly” e “Walk With Me”.
O show é uma produção da Highway Star e os ingressos estão disponíveis no site da Ticket Brasil (https://ticketbrasil.com.br/), na bilheteria do Tropical Butantã e nos pontos de venda credenciados da Ticket Brasil, com ingressos a partir de R$ 100,00.