Exército da Salvação

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 Antigamente a prole era numerosa. A maioria das famílias tinha mais de cinco filhos. E com tantos pimpolhos para criar os pais não podiam ficar atendendo os caprichos e gostos de uns e outros… 

Por Nelson Fukai

As regras de convivência eram rígidas e não se abriam exceções. Os que desrespeitavam as regras eram castigados com beliscões e tapas; quando a transgressão era mais grave, a surra era de cinta. Naturalmente que os pais dosavam a intensidade do castigo, afinal ninguém tinha a intenção de machucar os filhos, era um mal necessário para que as crianças aprendessem os limites do que podiam fazer. As mães tinham dedicação plena aos afazeres da casa, assim a carga de amor e carinho que davam aos filhos superava em muito os poucos momentos de castigo. Não conheço nenhum caso de amigo ou parente que tenha ficado com seqüelas físicas ou psicológicas desses castigos. Ao contrário, todos nós crescemos fortes, sadios, respeitadores das regras de boa convivência e tendo a mãe como figura máxima de amor e da bondade. Na juventude já tínhamos esquecido as surras e na fase adulta a relação com os pais era tranquila e harmoniosa.

Isso até chegar a tal da revolução feminista e os novos conceitos de educação infantil. Os casais passaram a ter poucos filhos e não raramente apenas um. Com as mães trabalhando fora, os pais estressados pelos afazeres da vida moderna e as novelas tomando um tempo precioso do relacionamento, a dedicação aos filhos passou a ser menor. O fato de ter muito adulto para pouca criança, fez com que acontecesse uma grande inversão no relacionamento, os pais é que passaram a ser dependentes emocionais dos filhos, que espertamente começaram a ditar as novas regras de convivência: uma vida sem limites e com pleno atendimento aos seus caprichos e gostos. Os pais perderam o controle e a autoridade. Naturalmente que isso não aconteceu em todas as famílias, mas foi o suficiente para que o país fosse infestado de crianças pentelhos. Nas festas, no metrô, dentro de casa, na praia, nos restaurantes, em qualquer lugar que fosse sempre havia crianças pentelhas chorando,

esperneando e aprontando sem limites. Os pais davam um sorriso amarelo, ameaçavam uma bronca, mas no fim todas as vontades e caprichos dessas crianças eram atendidos. Essas crianças hoje são jovens, muitos já entrando na fase adulta que, por terem sido criados sem limites, agem sem nenhum traço de civilidade e invadem, sem nenhum constrangimento, os interesses e os direitos dos outros.

Mas temos agora uma luz no fim do túnel. De tanto verem os pais velhos sofrerem com os filhos pentelhos, está aparecendo uma nova geração de pais que resolveu dar um basta na tal educação modernosa. Não que estejam recorrendo a tapas e beliscões, mas estão sendo intransigentes com os filhos, desde pequenininhos, quanto aos limites do que pode ou não. As crianças aprendem a respeitar as regras de boa convivência, principalmente os direitos dos outros e a autoridade dos pais. E desde bebezinhos, os pais não dão atenção quando o choro é de manhã. Rapidinho os bebês aprendem que chorar não adianta, caprichos e gostos não serão atendidos. E tudo isso vem sendo feito sem que a carga de amor e carinho seja diminuída. Ao contrário, sem os choros manhosos e outras pentelhices, o relacionamento entre pais e filhos passou a ser mais intenso e harmonioso. Recentemente estive num hotel-fazenda e as refeições eram servidas em um grande salão. Claro que as crianças faziam algazarra, brincavam, gritavam e corriam de um lado para outro, mas sem as pentelhices tão comuns algum tempo atrás. E quando os pais avisavam que era hora de comer, quase que não havia reclamação. As crianças sentavam e comiam direitinho. Sem truques, sem gritarias e sem imposição. Para muitos que já tinham perdido a esperança em dias melhores, esta nova geração de pais é um alento. Eles são o nosso Exército da Salvação!!

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br