Especialista explica como cantar sem danificar as cordas vocais, tanto para aqueles que aspiram ser profissionais, como para os cantores de chuveiro
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Em tempos de cantoria, já que no mês de julho foi realizado o Brasileirão de Karaokê, um dos principais concursos da comunidade nipo-brasileira, que conta com a participação de centenas de cantores, a Mundo Ok resolveu descobrir a importância de cuidar corretamente do principal instrumento desses artistas: as cordas vocais!
Para isso entrevistou o médico otorrinolaringologista, foniatra e especialista em “voz”, Luiz Cantoni, responsável pela cirurgia nas cordas vocais e pelo tratamento de alguns famosos como Zezé di Camargo, Frejat e Galvão Bueno.
Confira o bate-papo com o especialista, que nas horas vagas, também solta à voz e se aventura diante do microfone.
Mundo OK: Há um jeito certo de cantar? Quanto tempo uma pessoa leva para aprender a cantar corretamente?
Luiz Cantoni: A técnica correta para cantar sem danificar as cordas vocais consiste em utilizar o diafragma, em vez da garganta, para emitir o som. Em uma aula, a pessoa já percebe que ali há algo diferente, a reação é imediata. Mas, para aprender e por em prática é necessário que o ensinamento seja repedido por 3 meses para entrar no automático. Posso dizer que em 6 meses, qualquer pessoa aprende a cantar de forma correta.
MOK: Qual dica daria para os cantores, para que não danifiquem suas cordas vocais?
Cantoni: O mais básico pra um cantor, seja ele iniciante ou consagrado, é a regulagem do som. Não há exercício algum que vai te salvar se você estiver com um som mal regulado. Quando você for comprar seu equipamento de som, dê atenção primeiro a uma caixinha pra você usar como retorno, só pra você ouvir sua voz. Se você ouve sua voz perfeitamente, você não vai fazer nenhum esforço pra cantar, e sua voz vai acabar o show com a mesma qualidade que começou.
MOK: Quais são os erros mais comuns que os cantores cometem?
Cantoni: Há algo que as pessoas devem ficar atentas, se você termina o show rouco, nem que seja um pouquinho, há algo errado acontecendo. Ao contrário do que muita gente pensa, acabar um show com a voz rouca é um problema, pode ser tanto uso errado quanto algo mais grave, mas normal não é. Outra questão, é que quando o cantor tem um problema, ele não procura um médico, e um exercício em uma corda doente, por exemplo, pode significar o agravamento da doença, por isso é importante o diagnóstico médico.
MOK: Como pode nascer um problema nas cordas?
Cantoni: Imagine um cantor, sem técnica, fazendo muita força pra cantar. A primeira coisa que acontece são as lesões traumáticas, e então você tem um súbito sumiço de voz. Você termina o final de semana rouco, descansa durante a semana, e no outro final de semana já está recuperado. Mas com a repetição das lesões, o período de recuperação passa a ser maior. Tem gente que vai nesse ritmo por anos e anos, sem imaginar o que está causando na corda vocal. Quando ele decide ir ao médico, na maioria das vezes, o estado da corda vocal já é grave.
MOK: Para quais casos a cirurgia de reparação nas cordas vocais é indicada?
Cantoni: Os casos de alterações ou lesões diagnosticados por exame de laringoestroboscopia, que deixam visível perturbação da vibração das pregas vocais são indicados serem tratados cirurgicamente.
MOK: Qual é a importância do acompanhamento médico no pós-operatório?
Cantoni: É fundamental o acompanhamento pós-operatório para a monitoração da evolução da vibração das pregas vocais com o exame de laringoestroboscopia. Também se faz necessário acompanhamento para reabilitação vocal com exercícios adequados para estabilização da vibração das pregas vocais, para a eliminação do esforço compensatório ao problema instalado nas pregas vocais, quando são cantores é necessário a reestruturação da técnica vocal para o canto em cada música, pois a evolução do reestabelecimento se inicia logo nos primeiros dias e só está completo após meses quando o organismo se automatizou das correções físicas e emocionais.
MOK: E quanto tempo demora a recuperação?
Cantoni: É possível hoje com todos os procedimentos de prevenção aos riscos e reabilitação adequada, fornecer o retorno ao uso social e profissional da voz em simples alterações em uma semana, ou em lesões em períodos de15 a 30 dias, com repouso vocal de 48hs.