Disputa espacial

0
688

Especialista fala sobre o uso de satélites espaciais para segurança e asconsequências de uma possível corrida armamentista do espaço

Espaço3No âmbito da cooperação e da segurança internacionais, a utilização de satélites espaciais para segurança e prosperidade econômica, principalmente pelos Estados Unidos, pode ter como consequência uma possível corrida armamentista do espaço. Isso porque, os EUA consideram a possibilidade de “armar o espaço” como uma opção para defender seus equipamentos. Esses e outros temas relacionados ao espaço foram detalhados pelo especialista Alessandro Shimabukuro, PhD em Relações Internacionais pela Old Dominion University, em entrevista a Mundo Ok. Confira o bate-papo e entenda melhor as questões práticas que envolvem a utilização do espaço.

Mundo Ok: Que tipos de consequências pode acarretar a utilização de satélites espaciais para segurança?

Alessandro Shimabukuro:Muitos países já utilizam satélites para missões de segurança, defesa e inteligência. Esses satélites são essenciais para monitoramento de atividades militares de outros países, e planejamento e realização de operações militares próprias. O que nenhum país oficialmente lançou e opera são satélites capazes de destruir outros satélites, ou seja, armas espaciais.A maior preocupação da comunidade internacional, caso o uso de armas espaciais se torne uma realidade, é a criação de detritos orbitais, ou lixo espacial. O problema é que esse lixo não é estático, está orbitando a Terra a 10km/s e o menor pedaço ao se chocar com outro satélite ou nave tripulada causaria enormes danos, e há o risco dessas enormes nuvens de lixo espacial inutilizarem certas órbitas e ameaçarem outros satélites, limitando os benefícios do uso do espaço.

MOK: Em sua opinião, por que os Estados Unidos resistem a acordos para banir armas espaciais?

AS:No momento os Estados Unidos resistem negociar e estabelecer acordos para banir armas espaciais porque acreditam que necessitam da flexibilidade para continuarem testando algumas armas espaciais para garantirem sua segurança futura. A preocupação é que rivais potenciais (principalmente a China), que reconhecem que o uso de satélites fornece aos EUA grande capacidade militar, em caso de conflito, atacariam satélites americanos. Portanto os EUA reconhecem que o uso de armas espaciais seria uma opção na defesa de seus satélites e qualquer acordo que impedisse essa busca limitaria suas opções e seria contra seus interesses.
Espaço5MOK: Que tipos de consequências essa resistência pode causar?

AS:Essa resistência ameaça a cooperação com países aliados e amigáveis já que estes questionam as intenções dos Estados Unidos. Na busca por mais segurança, incluindo a possibilidade de lançar e operar armas espaciais, muitos países considerariam o domínio do espaço por qualquer estado como uma ameaça e também tentariam desenvolver suas próprias armas espaciais, o que poderia desencadear uma corrida armamentista espacial.

MOK: Há algum acordo que proteja o espaço do excesso de satélites em órbita? Ou os países são livres para enviar quantos desejarem?

AS:Há diversos acordos internacionais que estabelecem princípios e regulam atividades espaciais, como o Tratado do Espaço Exterior de 1967, mas nenhum que proteja do excesso de satélites. Os países podem lançar quantos quiserem, mas existem limites práticos. O espaço já está ficando “congestionado” já que certas órbitas são ideais para determinadas atividades, como telecomunicações. Há uma competição entre países por essas órbitas e também pela alocação e uso de bandas de telecomunicação para o envio de sinais desses satélites, o que requer da comunidade internacional maior coordenação entre os países.

MOK: Essa hegemonia tecnológica permite que os Estados Unidos interfiram na ordem internacional? Quais as possíveis consequências para os outros países?

AS:O uso do espaço pelos EUA já fornece às forças militares americanas grandes vantagens e a capacidade de operar globalmente. Nenhum outro país se compara nessa capacidade. Sem a capacidade de operar globalmente, os EUA não teriam o peso na manutenção da ordem internacional que atualmente exercem. As consequências para outros países depende do grau de rivalidade ou inimizade que têm com os Estados Unidos. Uma dinâmica interessante para acompanhar é a relação com a China e a estabilidade na Ásia. Na medida em que a China se torna uma potência regional mais agressiva, isto acirra a competição primeiramente com outras potências regionais, como o Japão e Coreia do Sul, e em um segundo momento com os EUA, e o uso do espaço por essas duas potências se torna um elemento estratégico nas estratégias de ambos.

MOK: Atualmente quantos satélites existem em órbita? Quantos deles são americanos?

AS:Segundo os dados mais recentes da Union of Concerned Scientists, atualmente há 1084 satélites operacionais de diversas nacionalidades. Os EUA operam 461 satélites, 42.5% do total.

MOK: Há algum satélite totalmente brasileiro em órbita? Quais os riscos que o Brasil corre ao locar satélites estrangeiros para transmissão de suas informações?

AS:O Brasil atualmente opera oito satélites próprios.Depende do tipo de informação, mas sempre há o risco de outros países serem capazes de interceptarem esses dados para uso próprio.

Espaço2MOK: Por que o Brasil não investe mais nesse tipo de tecnologia para conseguir colocar um satélite próprio em órbita?

AS:O Brasil está investindo no desenvolvimento autônomo do “Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas” que atenderia às demandas governamentais civis e militares do país.

MOK: O governo brasileiro anunciou que em 2016 vai colocar em órbita um satélite antiespionagem… Em sua opinião isso pode resolver o problema de espionagem das informações brasileiras por outros países como os Estados Unidos?

AS: A curto prazo, possivelmente. Mas deve se ter em mente que a espionagem entre países é uma constante nas relações internacionais. Se há interesse em obter informações sobre outros países, serviços de inteligência irão investir e desenvolver ferramentas para obtê-las.