No século passado, durante décadas a partir dos anos sessenta, a comunidade foi fiel aos seus candidatos e elegeu dezenas de políticos nikkeis…
Hoje, essa fidelidade está bem enfraquecida e não elege mais ninguém, mas estranhamente os políticos continuam a bajular as entidades nikkeis, como se isso fosse fundamental para o sucesso nas urnas. Um erro que muitas vezes tem levado ao fracasso. Esta estratégia é enganosa por vários motivos. Primeiro: comparecer em concursos de karaokê, undokai, festivais, competições esportivas e outros eventos do gênero, não rende voto nenhum. Na maioria das vezes, nem dos diretores das entidades, que são alvo de atenção especial dos políticos. Para o público em geral, a presença deles só serve para atrasar a festa, e como se diz no popular “para encher o saco” de quem foi para se divertir e tem que aturar discursos enfadonhos e repetitivos. Segundo: os políticos são obrigados a gastar dinheiro (os infalíveis “envelopes”), tempo e muita energia, numa atividade que rende poucos votos. E dinheiro não deles, mas dos cofres públicos, que às vezes somam quantias consideráveis. As tais emendas de dezenas – às vezes centenas de milhares de reais – para bancar a realização dos festivais e outros eventos são uma aberração. Político não é eleito para isso, principalmente em um país tão carente de necessidades básicas. Melhor seria mandar esse dinheiro para as entidades que cuidam de doentes e idosos, aí, sim, uma aplicação justa e nobre para o nosso suado imposto.
As entidades têm que ser mais realistas. Quer fazer evento grandioso, quer sair bonito na foto, que trabalhem e banquem com seus próprios recursos. Não tem cabimento fazer festa com dinheiro público. Se metemos o pau no governo e nos políticos pela má aplicação dos recursos públicos, então temos que reprovar também estas emendas. E nos eventos, quando não está o político, lá comparece o assessor, esta figurinha carimbada do nosso folclore político. E aí, a maioria dos políticos comete outro erro, por vezes fatal. Escolhem como assessores pessoas que conhecem, porém, são conhecidas por muita gente, mas que não são necessariamente queridas pelos cidadãos comuns. Aos contrários, são pessoas com alto grau de narcisismo, pelas quais pouca gente tem carinho ou confiança. E sem carinho e sem confiança, ninguém vota no indicado.
Se não fosse pelo lado humano, mas somente pelo interesse em ganhar votos, os políticos deveriam priorizar velórios, casamentos e aniversários, principalmente de gente mais humilde. A viúva, os pais da noiva e a mãe do aniversariante, serão eleitores eternos.
Os políticos nikkeis eleitos na cidade e no estado de São Paulo, sem exceção, são pessoas da mais alta credibilidade moral. Não existe hoje nenhuma suspeita de que tenham praticado ilícitos ou atos moralmente reprováveis. Mas, para melhorar a imagem, não precisam ficar bajulando os dirigentes das entidades nikkeis. Um mandato exemplar de prefeito, como Junji Abe fez em Mogi das Cruzes; a luta pela diminuição de impostos sobre remédios, como vem fazendo Walter Ihoshi, e outros trabalhos feitos por outros políticos visando o bem da comunidade em geral, isso sim faz o cidadão sentir que seu voto está sendo útil para a nação.
Se o apoio de dirigentes de entidades fosse importante, um certo candidato nikkei, que tem o apoio inconteste da elite da comunidade, já teria sido eleito e reeleito nas três tentativas que fez até agora! Se continuar mostrando que é íntimo dos “bacanas” e se não fizer um trabalho visando o cidadão comum, vai continuar tentando. Apoio de dirigentes de entidades da comunidade não garante votos. Eles é que sustentam essa paranoia, para perpetuar a bajulação dos políticos (que eles adoram). O que traz votos é trabalho sério, com objetivos nobres em prol da cidade, do estado e do país.
Não esquecendo que um pouco de carinho e de atenção com o cidadão comum, principalmente o nikkei, ajuda muito!!
NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br.
