Tradição: O mundo já não é mais como antigamente

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O mundo de hoje já não funciona mais como antigamente, quando meus avós chegaram ao Brasil em meados de 1934 com cinco filhos, logo a família aumentou chegando a oito filhos, 39 netos, 64 bisnetos e 16 tataranetos… 

Estamos na quarta geração de descendentes, meus avós já faleceram, porém minha avó chegou a conhecer e abençoar pelo menos uns 30 netos e alguns bisnetos. Nessa época, vivíamos da agricultura e não tínhamos muita disponibilidade financeira, porém a família transformava as horas das refeições, em momentos de união familiar, e essa união era também partilhada com a comunidade.

A revolução industrial nos trouxe facilidade, comodidade e modernidade, e a globalização com suas invenções como veículo, celular e computador trouxeram também a distância entre as famílias e sua comunidade. Hoje em dia, percebe-se que as pessoas preferem falar no celular há passar um dia almoçando com seus pais, viajar para um lugar distante a passar uma tarde com sua comunidade. Hoje em dia os valores afetivos, foram substituídos por valores materiais e consumistas, porém tudo o que fazemos relacionamos ao tempo e na verdade são os valores que se confundem.

Nós orientais por meio da nossa cultura, temos muitos costumes e muitas tradições e venho a perceber como tudo isso está sendo deixado de lado, como todas as nossas tradições seculares vem se perdendo, e ate sendo tratadas como se não fosse mais importante para nossa vida e continuação de nossas histórias. As pessoas hoje em dia, não se importam e não mais se preocupam em seguir ou passar adiante para as novas gerações toda nossa cultura que vinha sendo transmitida á séculos por nossos ancestrais. Hoje em dia se importam em comprar o ultimo modelo de celular que foi lançado, se a roupa é de grife, em viagem pelo mundo, carro e casa grandes, e o contato virtual.

Essa necessidade de consumo exagerado, sobre todas essas coisas vem transformando o ser humano, em um ser no fundo solitário. Essa satisfação de se distanciar das pessoas fisicamente, como se só esse contato virtual fosse necessário, na verdade já trás problemas que seriam futuros. As pessoas andam sofrendo com essa solidão, principalmente as pessoas mais idosas, pois pela cultura oriental quando os pais ficam mais velhos é costume ir morar com os filhos, porém isso não vem mais acontecendo, na verdade os filhos vêm deixando-os morar sozinhos e os pais ficam cada vez mais isolados, pois nem a presença dos filhos e netos na hora das refeições, como era costume, são mais realizadas.

Eu como já sou avô, passei pela fase satisfatória de partilhar com minha família e com a comunidade esses momentos inesquecíveis e importantes que não só serviram para manter os costumes e tradições de nossa cultura, mas também para estreitar cada vez mais os laços afetivos, a união entre os parentes e a comunidade, além de obter satisfação e felicidade na honra de poder estar todos juntos partilhando os costumes milenares de nossos ascendentes. E aprendi que por mais sofrimentos e dificuldades que nossos ascendentes passaram, foram eles que deixaram um legado de respeito, amor, honestidade, afetividade e o dever de mantermos nossos costumes e tradições acima de qualquer modernidade, tanto que o Centro Cultural Okinawa no Brasil – Diadema foi honrado com a doação da cidade de Kin de um monumento alusivo ao Centenário da Imigração Japonesa no Brasil.

SHINJI YONAMINE é palestrante da cultura e tradições de Okinawa. E-mail: shinjiyonamine9@gmail.com.