Tradição: UYU – O Grande Universo

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Em Okinawa o Butsudan – oratório, é denominado Gwansu ou Totome – é onde as famílias cultuam os antepassados com orações durante o ano, mantendo uma tradição na linha familiar, o oratório faz parte do mobiliário da casa, é instalado na parte principal onde se recebe as visitas…

 

Já o túmulo do tronco familiar Muntyu Baka, Clã Familiar, pode ser considerado a “célula mãe”, todos os descendentes um dia ali retornam. Fica localizado distante da casa, normalmente em colinas nas cidades ou nas vilas. As visitas e orações são realizadas somente em ocasiões especiais, nos meses de março lunar e julho lunar.

Os túmulos mais antigos tem a forma de um útero de uma mulher, Kameko Baka – carapaça de tartaruga – na região sul de Okinawa na cidade de Itoman é denominado Hara – barriga. Muntyu Baka é também considerado UYU – grande universo, que vai amparar cada elemento da família, pois neste túmulo familiar, entre tantos descendentes estará alguém da família orando pelos seus falecidos.

Os restos mortais são acondicionados em uma urna funerária em forma fetal, já das antigas famílias nobres, eram em potes de porcelana “dishi-gami”, é como se o falecido voltasse para o ventre da mãe, a pessoa não é enterrada, ela volta para a mãe natureza por meio do túmulo. As cinzas do casal simbolizam uma união eterna, nem a morte os separam: “Kaami nu tibi madi tiichi” – unidos na vida e na morte, portanto eles estão unidos pela relação das famílias, como diz o velho ditado: solteiro é metade, casado é inteiro.

Na construção do túmulo há um ritual em que se toca o sanshin (ao pé da letra significa três cordas, é uma viola primitiva com acabamento de couro de cobra), em homenagem a este acontecimento. Pois, a partir daquele momento os falecidos terão um lugar permanente, a apresentação musical reflete a alegria dos ancestrais, não deixando de ter aquela rodada de sake – Sakimui.

Nas cerimônias que são realizadas não existe uma reza padrão, mas uma forma mais primitiva de comunicação humana “o poder da fala”. Assim, a mulher mais velha é a portadora desta mensagem aos ancestrais em todas as ocasiões.

Dentre essas ocasiões especiais, destacamos o “shimii” (seimeisai em japonês), considerado o ano novo dos mortos, celebrado no início do mês de março lunar, nesta oportunidade, os membros da família ou pertencentes ao mesmo tronco familiar, visitam o túmulo, levam oferendas, como se fosse um piquenique e rezam para os espíritos de seus ancestrais, criando assim um ponto de encontro e de confraternização no local.

O ano tem 52 semanas e mais um dia, este dia é considerado um período neutro, livre de manifestações negativas, que é o dia 07 de julho lunar denominado Tanabata, onde são realizadas as limpezas, exumações, ou mesmo a transferência de restos mortais, que envolve a abertura do túmulo. E no dia 13 de julho lunar, um representante da família vai ao túmulo para dar o início ao obon. Toda esta tradição voltada à atividade religiosa fortalece a relação familiar.

SHINJI YONAMINE é palestrante da cultura e tradições de Okinawa. E-mail: shinjiyonamine9@gmail.com.