Bebidas: Carolina Oda e o universo das cervejas

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A beer sommelier fala sobre uma das bebidas mais apreciadas pelos brasileiros e como é possível harmonizá-la com a culinária japonesa

Fotos Lilian Nakashima

Carolina Oda: “A cerveja é um produto muito versátil, dá para harmonizar com tudo”
Carolina Oda: “A cerveja é um produto muito versátil, dá para
harmonizar com tudo”

Sushi e cerveja combinam? Para responder a essa e outras questões a revista Mundo Ok conversou com a descendente de japoneses, Carolina Oda. Ela é paulistana, bonita, inteligente e entende tudo de cerveja. Aos 27 anos, a beer sommelier tem um trabalho considerado por muitos como dos sonhos, afinal, entre uma consultoria e outra, uma harmonização aqui e um concurso ali, ela tem que fazer o “sacrifício” de experimentar algumas dezenas de cervejas!

Formada em gastronomia, Carolina entrou no mundo das cervejas “meio sem querer”. Após trabalhar com Cilene Saorin, uma das primeiras especialistas na bebida do Brasil, pegou gosto pelo assunto, fez curso de especialização no Senac São Paulo em parceria com a escola alemã Doemens Academy, e atuou em algumas empresas da área. Há cerca de dois anos, trabalha como freelancer e dá aulas, consultorias e é jurada de concursos.

Mesmo sem anotar ou fazer contas, garante que já bebeu milhares de cervejas. “Só em uma viagem de três meses na Europa, bebi cerca de 300. Em um campeonato, no qual fui jurada, experimentei 80 cervejas em dois dias”, afirma. A melhor parte, é que Carolina não tem ressaca, não passa mal, e pasmem: não engorda! Com ela não tem “barriguinha de chopp”.

Mesmo atuando em um universo dominado pelos homens, a jovem garante que não sofre preconceitos, pelo menos não no trabalho. “Todos me respeitam muito e confiam no meu potencial”, conta. Mas na vida pessoal… “Para arrumar namorado é complicado. Muitos homens não entendem que você está lá a trabalho. Já ouvi também que deve ser difícil namorar comigo porque devo ser o ‘homem da relação’”, desabafa. Felizmente, mesmo ainda sendo minoria no mercado, o número de mulheres no setor vêm crescendo, e muitas se destacam na área.

Com simpatia e bom humor, Carolina falou sobre os tipos, curiosidades, possíveis combinações, enfim, deu uma aula sobre uma das bebidas mais apreciadas pelos brasileiros, de preferência, bem gelada! Será? Confira no bate-papo!

Simpática e de bem com a vida, a jovem revela que já experimentou milhares de cervejas
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Mundo Ok: Em se tratando do universo da cerveja, quantos estilos existem? 

Carolina Oda: São mais de 100 estilos. O universo é muito amplo, tem cerveja ácida, amarga, cítrica, frutada, tostada, de caramelo, com especiarias, condimentos… E também de vários teores alcoólicos. Mas as mais comuns, vão de 0 a 20% de álcool. No Brasil, o máximo que encontramos é de 40%. Em outros países é possível encontrar até de 60%.

MOK: Além da cevada, quais outros cereais podem ser utilizados na produção da cerveja?

Carolina: A cevada é a base de todas as cervejas, mas elas também podem contar com outros cereais como trigo, arroz – como algumas são produzidas no Japão –, milho, aveia… O mais bacana da cerveja é essa liberdade e diversificação, tem milhares de possibilidades.

MOK: O que difere uma cerveja como especial?

Carolina: Tudo é cerveja. O que muda é que nas cervejas consideradas especiais existe uma preocupação e um foco maior na qualidade sensorial do produto, o que não acontece nas cervejas comerciais.

MOK: Com tantos estilos, a ideia de que cerveja é amarga cai por terra?

Carolina: Sim! Eu sempre pergunto: “mas quantas cervejas você já provou?”. Existem várias possibilidades e nem todas são amargas. O ideal é que as pessoas vão experimentando e descobrindo qual estilo gostam mais.

MOK: Para quem prefere as menos amargas, qual indicaria?

Carolina: As que têm trigo na receita possuem menos amargor, são mais refrescantes. As que têm fruta na receita também não são amargas.

MOK: Como está a produção brasileira, já temos boas cervejas?

Carolina: No Brasil temos cerca de 300 produtores. E as cervejas brasileiras são muito bem vistas, estão ganhando muitas medalhas. As da região Sul e Sudeste estão se destacando bastante.

MOK: E o Japão e os países orientais, são bons produtores da bebida?

Carolina: O Japão é bastante conhecido pelas cervejas de arroz e eles tem cervejas artesanais também, é um mercado bem forte lá. A China é a segunda maior produtora mundial, mas faz mais cervejas populares, não tem tradição em cervejas especiais.

MOK: Aqui no Brasil, pelo menos, a cerveja é muito associada ao calor e consequentemente a uma bebida que deve ser consumida super gelada. Existe uma temperatura ideal?

Carolina: De maneira geral posso dizer que quanto mais complexa e mais alcoólica, menos gelada ela deve ser consumida. Uma dica é colocar a cerveja no copo e sentir em que temperatura gosta mais de beber determinada cerveja.

MOK: Existem “regras” para beber cerveja? Por exemplo, com ou sem espuma?

Carolina: A espuma faz parte da cerveja. Então, se a cerveja tem espuma, bebe com espuma.

MOK? É errado colocar ingredientes como limão, sal, ou outras misturas na bebida?

Carolina: Não é errado. Mas, existem cervejas que são muito boas e não precisam de nada. Por outro lado, algumas de qualidade inferior o sal e o limão podem até ajudar a cerveja a ficar melhor.

MOK: Como funciona a harmonização de cervejas e pratos?

Carolina: Harmonização é uma experiência gastronômica. Você come algo, bebe a cerveja, e os dois juntos é uma terceira experiência. O ideal é que haja equilíbrio de potência entre o prato e a cerveja para que o sabor dos dois seja ressaltado. A cerveja é um produto muito versátil, dá para harmonizar com tudo.

MOK: Quais os principais desafios da harmonização?

Carolina: O mais difícil é quando você não conhece a linha do chef que vai preparar os pratos, porque uma mesma receita pode ser feita de várias maneiras. Como eu sou formada também em gastronomia, conheço a maioria dos pratos, então fica um pouco mais fácil harmonizar.

MOK: Dizem que culinária japonesa não combina com cerveja. Você concorda?

Carolina: Ledo engano. O sushi, por exemplo, combina melhor com chá ou cerveja, do que com outra bebida.

MOK: De maneira mais ampla, quais pratos típicos japoneses combinam com quais tipos de cervejas?

Carolina: Cervejas com trigo, por exemplo, vão bem com peixes mais leves, como o branco. Já receitas com atum, pedem uma cerveja com um pouco mais de amargor, mais escura. Pratos de sabores mais intensos, como os defumados, ou feitos na chapa, combinam melhor com cervejas de maltes mais tostados.

MOK: Quais as cervejas mais exóticas que existem no mercado?

Carolina: Tem muitas. A Amazon beer, uma cervejaria de Belém, faz cervejas com os frutos típicos da região da Amazônia, como taperebá (cajá), açaí, cumaru e bacuri. Tem também uma americana feita com bacon.

MOK: Para finalizar, quais os melhores lugares para beber cerveja em São Paulo?

Carolina: Temos alguns bons lugares para beber cerveja aqui. Em Pinheiros, o BrewDog Bar SP – o primeiro bar da cervejaria fora da Europa –, o Empório Alto dos Pinheiros, e a Cervejaria Nacional, por lá eles fazem a cerveja que eles vendem, então as bebidas são super exclusivas. Também podemos destacar o Empório Sagarana, na Vila Romana, o Frangó, na Freguesia do Ó, e a Ici Brasserie, no Shopping JK Iguatemi.