Análise: Participação dos nikkeis nas eleições de 2014

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Apesar da grande importância da participação de todos os segmentos da sociedade brasileira no processo de escolha de nossos representantes, os nikkeis que formam o contingente de 1.800.000 pessoas não têm, ainda, o hábito de se engajar nesse processo democrático por meio de debates, encontros e discussões, preferindo apenas manter um bom relacionamento com os eleitos, o que por si só, já é um bom começo. Mas, não basta. É preciso atuar ativamente para ajudar na escolha dos mais aptos… 

Com esse propósito, o Bunkyo e a Associação dos Kenshuseis realizaram, no dia 20 de setembro, o “3º Encontro com os candidatos nikkeis”. Há quem enxergue na iniciativa da espécie um movimento segregacionista, por falta de visão e compreensão da realidade social vigente, em que a busca de valores éticos e morais da sociedade é um desejo ardente de todos os brasileiros. E os nikkeis são herdeiros naturais de uma cultura milenar presa a esses valores, como reconhecido pela sociedade em geral, sem que isso importe em negar esses mesmos valores aos descendentes de outras etnias que compõem a pluralista sociedade brasileira.

Assim, é natural o desejo dessa comunidade de procurar ajudar os candidatos nikkeis mais aptos para o exercício da representação popular, porque a maioria deles, ainda, depende de votos dos nikkeis. Alguns acham que isso irá diminuir a nossa brasilidade; ao contrário, aumentará o espírito de brasilidade à medida que a cultura japonesa representa um plus que se agrega ao perfil do cidadão brasileiro.  Para quem tem o sentimento de “ser nikkei,” que não se aprende  e nem se adquire nas escolas, isso é muito fácil de entender.

Passemos ao exame dos resultados das eleições de 2014 com enfoque no o 1º colégio eleitoral do País, que é o Estado de São Paulo, com 31.979.717 eleitores: 19,25% não compareceram às urnas; 7,85% votaram em branco e 9,23% anularam o voto. Dentro desse quadro, conseguiu-se eleger para deputado federal Keiko Ota, com 102.963 votos; e Walter Ihoshi, com 88.070 votos. Na eleição passada eles haviam obtido, respectivamente, 213.024 e 104.400 votos. Significa que eles obtiveram  apenas 48,33% e 84,35%, respectivamente, da votação recebida anteriormente. O Deputado Junji Abe, apontado como um dos mais atuantes do Parlamento Nacional e que em 2010 havia sido eleito com 113.156, neste ano, obteve apenas 79.909, figurando como 1º suplente, o que nos causa uma surpresa muito grande. William Woo alcançou apenas 54.186 votos, figurando como 1º suplente.

Na esfera estadual houve o surpreendente crescimento do deputado Hélio Nishimoto, eleito com 137.249 votos e aumentando em cerca de 79,93% o número de votos recebidos em  2010, que foi de 78.906.  Em compensação, Jooji Hato, que havia recebido 83.855 votos em 2010, elegeu-se com apenas 67.125 votos, isto é, obteve apenas 80,04% da votação passada.

Uma rápida avaliação.  No nível nacional houve o predomínio da ignorância carinhosa e cuidadosamente cultivada ao longo do tempo pelos donos de feudos localizados em determinadas regiões do País. O binômio ignorância/burrice é praticamente insuperável.[1] Em São Paulo, não há o domínio da ignorância, muito menos nos meios nikkeis. Então, o que aconteceu?  Penso que, de um lado, houve muita dispersão de votos entre os 36 candidatos para deputado federal e 33 para deputado estadual e, de um lado, houve aumento da apatia do maior colégio eleitoral do País em que 36,6% dos eleitores (somados os ausentes, votos em branco e nulos), correspondentes a 11.704.577 eleitores não fizeram a sua escolha.

1. E mais: contaram-me alguns amigos que só conseguiram emplacar o nº 45 na terceira tentativa.  

 

Kiyoshi Harada é Jurista, Acadêmico, escritor e Presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo. Contato: harada@haradaadvogados.com.br.