Opinião: O que dizem as urnas

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Estas eleições revelaram que a onda de ódio e de rancor que está tomando conta do País já está ultrapassando os requisitos mínimos de respeito e civilidade. Depois da baixaria do PT pré-eleição, a choradeira tucana pós-eleição não tem sido das mais civilizadas…

Aliás, temos vistos ações e propostas ridículas de quem perdeu (pedido de anulação da eleição, abaixo- assinado para pedir a interferência dos EUA no Brasil e outros absurdos), que acabam nivelando um lado com o outro. Não é porque o meu candidato perdeu que vou torcer para dar tudo errado, só para ter a satisfação de dizer “não falei?”. Ante de ser eleitor do Aécio, sou brasileiro e quero bem ao Brasil. Daí que estou torcendo que surja uma Dilma diferente do primeiro mandato, que acabe com as falcatruas e coloque o país novamente na rota do desenvolvimento sustentável. Pode ser improvável, mas será mais ainda se todos estiverem torcendo contra. Tá todo mundo vaiando o goleiro do próprio time (a presidenta Dilma), que foi escalada pelo técnico (ganhou as eleições), esperando ele tomar um frango (fazer um mau governo), que vai decretar a perda do campeonato (retrocesso social e econômico do Brasil).

Quanto à participação dos nikkeis, nenhuma novidade aconteceu. Tudo mais ou menos dentro do previsto. Quatro candidatos à reeleição, dois estaduais (Jooji Hato e Hélio Nishimoto), e dois federais (Keiko Ota e Walter Ihoshi) lograram êxito. No plano federal, Junji Abe, prejudicado pela acusação de ficha suja; e Willian Woo, por erros estratégicos cometidos em passado recente, tiveram boas votações, suficientes apenas para deixá-los como primeiro-suplentes de suas coligações. Amélia Naomi, do PT, é terceira suplente da coligação e pode sonhar com a titularidade. Marcio Nakashima teve a chamada votação midiática (caso da irmã assassinada), mas não o suficiente. Alex Hato, apesar de ter à disposição a máquina política da família, não logrou sucesso. No plano estadual, o vereador de Santos, SadaoNakai, por ser um estreante e desconhecido fora do seu reduto, até que foi bem com quase 50 mil votos. Mais experiente, deve voltar a concorrer com chances de sucessona próxima eleição. Outros três candidatos, Fabio Sato, Pedro Kaká e Rodrigo Kenji, tiveram mais de 20 mil votos, mostrando uma certa força política. Os outros candidatos, tanto na esfera federal como estadual, formam a “tropa da alegria”. Muitas vezes gastam um dinheiro que não tem, mas vivem sorrindo o tempo todo, mesmo depois de votações ridículas. Os que conseguem um número razoável de votos, ainda tentam barganhar cargos no quarto escalão e outras benesses. Os outros tentam esquecer que um dia foram candidatos.

Jooji Hato pode estar em seu último mandato devido à idade avançada e votação em queda, num partido que começa a ficar sem expressão em São Paulo. Já Hélio Nishimoto teve expressiva votação, principalmente no Vale do Paraíba e especialmente em São José dos Campos. Está credenciado a postular a candidatura tucana à prefeitura da cidade em 2016 ou cargo de destaque na administração estadual. Walter Hiroshi colheu os frutos de ter formado uma boa equipe de assessores e de figurar entre os parlamentares de melhor avaliação dentro do Congresso Nacional. Keiko Ota, apesar de eleita, precisa começar a mostrar mais serviço. A perda de mais de 100 mil votos em relação ao pleito anterior está a lhe avisar que, aparições públicas para prestar solidariedade aos que são vítimas de bandidos – ou para prestigiar festas da comunidade – e a exposição apelativa da carinha singela do filho assassinado nas camisetas, não são suficientes para assegurar o apoio contínuo dos eleitores.

Independentemente de quem e como foram eleitos os políticos nikkeis, a maioria deles precisa mudar de postura. Políticos não são eleitos para arranjar dinheiro para que entidades façam suas festas. Além de ser um costume condenável do ponto de vista moral (o famoso toma lá, dá cá), politicamente é uma atitude burra porque dificilmente acontece o retorno em votos. A insistência com este tipo de atuação é que fez com que os políticos nikkeis acabassem perdendo os votos da comunidade. Cidadãos nikkeis conscientes e bem intencionados, que formam a grande maioria (principalmente os jovens), querem ver o político “patrício” exercendo seu mandato na luta pelas coisas certas para o estado e para o país. Ninguém, ou quase ninguém, está preocupado se o sujeito ajuda ($) ou não as entidades nikkeis. O que a gente quer saber é se o parlamentar está bem avaliado pela sociedade brasileira em geral, por sua atuação correta e digna. Só assim para reconquistar os votos dos nikkeis, que atualmente já não elegem mais ninguém!

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br.