A Mundo Ok conta a história da Companhia e dos imigrantes e descendentes que há mais de 40 anos abastecem São Paulo com hortifrutigranjeiro
Fotos Ceagesp, Divulgação e Arquivo Pessoal
Muito além de abastecer 60% da grande São Paulo com produtos agrícolas, o Entreposto Terminal São Paulo da Companhia de Entreposto e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) abriga histórias de pessoas que construíram a vida com muito suor e dedicação entre as caixas de frutas e legumes espalhadas pelo espaço de mais de 700 mil metros quadrados.
Como os japoneses e seus descendentes que foram um dos primeiros a apoiar a construção do centro de abastecimento, localizado na Vila Leopoldina, além de contribuírem de forma decisiva na produção de horticultura, flores, frutas e ovos em terras tupiniquins e na introdução de novos produtos.
“Os imigrantes que chegaram ao Brasil se especializaram na agricultura, trabalhando com verduras, frutas e ovos, e tiveram o apoio da segunda geração, que continuou com a atividade. Imigrantes e descendentes passaram também a se interessar pela comercialização do setor hortifrutigranjeiro, tanto no atacado, na Ceagesp, quanto no varejo, nas feiras livres e quitandas”, explica o deputado federal, Junji Abe (PSD-SP).
Abe revela ainda que as cooperativas, como a Sul Brasil e a Cooperativa Agrícola de Cotia, também colaboraram com o novo centro estruturando a formação do preço e oferecendo produtos de qualidade.
Os avós de Sergio Minataka, 39 anos, foram um desses imigrantes que iniciaram as atividades no Entreposto. “Meus avós trabalhavam na roça e tinham uma banca na Cantareira e em algumas feiras livres de São Paulo. No início da década de 1970, começaram a atuar na Ceagesp e vender os seus produtos”, conta.
O legado passou para o pai e os tios de Sergio e atualmente ele e outros membros da família cuidam dos negócios da Kentisa Comércio de Verduras e Legumes, fundada em 1988. “Vendemos verdura em atacado para todo o Brasil, e também temos uma distribuidora de verduras, legumes e frutas para hotéis, restaurantes e bares da capital e Grande São Paulo”, revela.
O trabalho que começou com os avós, hoje conta com uma equipe de 120 pessoas, atuando em vários setores. “A distribuidora começa a funcionar às 5h da manhã, já o trabalho no atacado tem início às 9h30 e só termina às 21h da noite”, conta Sergio. “É uma rotina puxada, por isso muitas empresas de japoneses fecharam ou foram vendidas, pois os filhos e netos não tocaram os negócios”, relata.
E a família de Sergio não é a única. O presidente do Sindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sincaesp), José Luiz Batista, explica que mais da metade dos permissionários que atuam na Ceagesp estão aqui desde a fundação do Entreposto. “Muitos já estão na terceira e na quarta geração trabalhando aqui. Centenas de famílias criaram seus filhos, que estudaram em boas universidades, com o trabalho de anos realizados aqui, é uma vida inteira dentro da Ceagesp”, ressalta.
Eduardo Shin Yamanaka, de 50 anos, sabe bem o que é isso. Há 33 anos ele atua na Ceagesp. “Depois de sair do banco, comecei a trabalhar no Entreposto na empresa do meu sogro, a Produtos Agrícolas Maruyama, que depois de 20 anos de trabalho na Cooperativa de Cotia, abriu um negócio próprio”, lembra.
Shin abriu o próprio negócio, Shin Comércio de Verduras, em 2000, e agora as duas empresas atuam em parceria, com a família toda colaborando. “Minha esposa Erika está comigo desde o início, a há cerca de um ano minha filha mais nova, Karen, de 20 anos, também passou a colaborar na empresa”, conta.
De acordo com Shin, quando ele e o sogro começaram na Ceagesp vendiam apenas agrião. Atualmente trabalham com quase 170 itens, na venda em atacado. “Como não trabalhamos com produção própria, nossos 30 parceiros produtores, que atuam conosco há muitos anos, também fazem parte da família”, revela.
Atualmente, o número de orientais na Ceagesp diminuiu. “O número de japoneses e descendentes trabalhando na Ceagesp já foi muito maior. A falta de investimento no setor fez com que o número de colônias diminuísse muito, mas eles ainda são presença garantida por aqui”, ressalta o presidente do Sincaesp.
Segundo Abe essa diminuição se deve a dois fatores principais: “A liquidação das cooperativas, que não resistiram à alta inflação. E ao fato das gerações mais novas
passarem a estudar e se especializar em outras áreas, avançando em outros setores da economia, para não passar pelas dificuldades dos avós e pais que atuavam na lavoura”, explica o deputado.
Porém, não foram só os imigrantes japoneses que marcaram presença na Ceagesp. Segundo Batista, a colônia portuguesa e os brasileiros que vieram das regiões Norte e Nordeste do País também ajudaram a construir o Entreposto.
Como o português Amilcar dos Anjos Maçaira, de 71 anos, que trabalha há 45 anos na Ceagesp. “Meu pai era feirante, vendia tomate e em 1969 começou a trabalhar no Entreposto. Ele foi um dos primeiros permissionários a chegar aqui, está desde a fundação até hoje”, conta Aderlete Cristina Maçaira, 43 anos, que ajuda o pai a tocar os negócios da família. Por lá Amilcar e a filha trabalham no Mercado Livre do Produtor (MLP) comercializando verduras no atacado. Um trabalho que Amilcar, assim como todos os outros permissionários, faz com amor e dedicação, apesar das dificuldades.
Histórico
A Ceagesp foi fundada pelo governo paulista com a fusão do Centro Estadual de Abastecimento (Ceasa) com a Companhia de Armazéns Gerais do Estado de São Paulo (CAGESP). O Entreposto da capital paulista surgiu quando o crescimento de São Paulo exigia uma central atacadista de grande porte, capaz de atender a população do Estado. O Mercado Municipal, que respondia pelo abastecimento desde 1933, já não atendia a crescente demanda da época. Foi, então, construído o novo Entreposto, na Vila Leopoldina, com uma área 17 vezes maior que a antiga.
Atualmente, a Ceagesp conta com uma rede que abrange 19 unidades ativas no Estado, instalada em 13 municípios, com capacidade para receber mais de um milhão de toneladas de produtos agrícolas. E o Entreposto Terminal de São Paulo está entre os maiores do mundo em volume de comercialização. Pelos seus portões passam, todos os dias, mais de 10 mil toneladas de verduras, legumes, frutas, pescados e flores, vindas de 1500 municípios brasileiros e de outros 18 países, um fluxo intenso de veículos de carga e uma população de cerca de 30 mil pessoas por dia.
Depois de comercializados, esses produtos partem para abastecer a população de várias cidades e até de outros estados brasileiros. Ao mesmo tempo em que contribuem para escoar as safras, movimentam o comércio atacadista e varejista – já que a maioria dos restaurantes, supermercados e hortifrútis da cidade fazem compras ali, em busca dos produtos frescos e preços em conta – e barateiam os custos para o consumidor.
A Ceagesp também realiza um conjunto de ações de responsabilidade social e ambiental. Os principais projetos são a Associação de Apoio à Infância e Adolescência Nossa Turma – que oferece lazer educativo a mais de 200 crianças e adolescentes moradores do entorno do Entreposto da Capital –; e o Banco Ceagesp de Alimentos – criado em 2003, coleta, seleciona e distribui 200 toneladas de alimentos por mês para mais de 160 entidades sociais e bancos de alimentos municipais. Os produtos doados são oferecidos por produtores e permissionários da Companhia. Os descartes do Banco são transformados em adubo orgânico, por meio de compostagem, além de reciclagem de palhas, madeiras, ferro e papelão.
Mudança de ares
Prefeitura de São Paulo propõe transferir a Ceagesp para outro local dentro de São Paulo, integrado ao Rodoanel
Projeto pretende transformar a atual área da Ceagesp em parque público e habitações populares
No início de outubro a prefeitura de São Paulo divulgou que a administração municipal e o governo federal estudam transferir a Ceagesp da Vila Leopoldina, na zona Oeste da capital paulista, para uma outra região da cidade, que esteja integrada com o Rodoanel. “Essa mudança será decidida pela cidade, durante as audiências públicas da discussão da nova lei de zoneamento”, afirmou o prefeito Fernando Haddad (PT).
O novo zoneamento proposto pela prefeitura, e que será apresentado à Câmara Municipal até janeiro, mudaria a área de zona industrial (ZPI) para zona especial (ZOE), dando possibilidade legal para ocupações diversas no bairro.
Caso o projeto seja aprovado, o terreno, da União, dará lugar a uma área explorada pela iniciativa privada, que também abrigará parque público e habitações populares. De acordo com a prefeitura o parceiro privado poderia erguer torres comerciais e residenciais no espaço, em troca de parceria com o poder público na construção do parque e das moradias, e também ficaria encarregado da construção da nova Ceagesp.
“A nossa ideia é manter a Ceagesp na cidade. Para isso, estamos desenvolvendo um estudo de áreas próximas ao Rodoanel, que seria utilizado como anel de distribuição de produtos hortifrutigranjeiros, favorecendo a logística do abastecimento. O novo terminal teria de ser atualizado. Hoje, ele não incorpora nenhum equipamento moderno de movimentação de mercadorias”, explicou o prefeito. “Por outro lado, a área na Vila Leopoldina será reestruturada para favorecer a qualidade de vida e o desenvolvimento econômico da região”, completou Haddad.
Segundo ele a proposta tem de dialogar com o meio ambiente, a moradia e a economia. “Da forma que está sendo planejado é perfeitamente viável do ponto de vista econômico”, ressaltou. O prefeito também afirmou que a transferência do centro de abastecimento para outra área será discutida com a comunidade do entorno e com os comerciantes e produtores que atuam no local.
A Ceagesp, em comunicado a imprensa, ressaltou que há consenso sobre a necessidade de mudança do entreposto, no entanto, qualquer mudança deve levar em conta questões como nova localização, ocupação do atual espaço físico e condições econômicas para uma eventual mudança.
Para o presidente doSindicato dos Permissionários em Centrais de Abastecimento de Alimentos do Estado de São Paulo (Sincaesp), José Luiz Batista, é necessário um estudo de viabilidade para saber o que é melhor a ser feito: mudar a Ceagesp de local ou reformar e modernizar o espaço atual. “O que precisamos com certeza é ter um entreposto menos defasado, que atenda as novas demandas e a realidade atual da Ceagesp”, esclarece. “Mas, independente do que for decidido não podemos deixar o abastecimento prejudicado”, adverte.
Batista lembra, ainda, que existem outras questões que também devem ser levadas em consideração: “A atividade precisa muito ser melhorada, não existe uma legislação específica e há mais de 20 anos que não se tem avanço no setor. Queremos uma mudança para melhor, tanto para os mais de 10 mil permissionários e trabalhadores, quanto para as pessoas que são abastecidas pela Ceagesp”, enaltece. “Quem trabalha com produtos hortifrutigranjeiros, comercializam um produto vivo e isso é muito complicado. Não é do dia para a noite que se faz isso. As pessoas que trabalham na Ceagesp têm muita experiência no assunto e precisam ser mais valorizadas”, finaliza.
Frutas, verduras, legumes…
Além da atividade atacadista, a Ceagesp também abre espaço para o comércio direto ao público final, nos chamados varejões
Varejões fazem sucesso
na Ceagesp desde 1979
Mais prático para o consumidor final, os varejões são organizados nos moldes de uma feira livre. Esse formato permite que os visitantes tenham acesso a produtos de qualidade e, muitas vezes, difíceis de serem encontrados, mas com um preço mais acessível.
Varejão
O primeiro varejão iniciou suas atividades dentro do Entreposto da Capital em setembro de 1979, funcionando apenas nos finais de semana. Já em dezembro de 1994, entrou em operação o varejão noturno, para oferecer mais uma alternativa de compra ao consumidor. Os varejões são realizados no Entreposto da Capital e na unidade de Sorocaba.
Atualmente, eles movimentam mais de 250 toneladas de produtos por mês e funcionam três vezes por semana: aos sábados, das 7h às 12h30; e aos domingos, das 7h às 13h30, no Pavilhão Mercado Livre do Produtor (MLP); e as quartas-feiras, o varejão noturno, funciona das 14h às 22h, no Pavilhão PBC (Praça da Batata).
No galpão do MLP, com cerca de 20 mil metros quadrados, mais de 1000 barracas vendem frutas, legumes, hortaliças, pescados, ovos, aves e cereais, além de outros produtos típicos das feiras livres como pastéis, lanches, salgados e bolos. No varejão noturno, as quartas, acontece uma versão menor da feira, com 400 estandes.
Santa Feira do Peixe
Na maior parte do ano, o setor de Pescado da Ceagesp, na capital só comercializa no atacado, de terça-feira a sábado, das 2h às 6h, por ano movimenta cerca de 60 mil toneladas de peixes e de frutos do mar. Mas, durante três dias da Semana Santa, vários atacadistas do setor abrem uma exceção e vendem no varejo. A Feira já é tradicional e atrai milhares de pessoas em busca de qualidade e preços mais em conta.
Feira de Flores e Plantas
O Entreposto da capital abriga a maior Feira de Flores e Planta do Brasil, que reúne cerca de 1100 produtores de flores, plantas, grama, mudas e apresenta uma área especial para acessórios e artesanato. As rosas, violetas e demais variedades são vendidas em caixas, maços e algumas até por unidade. A feira funciona de terça a sexta-feira, das 5h às 10h30, também no pavilhão MLP. As cidades de Araçatuba, Bauru, Presidente Prudente, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, São José do Campos e Sorocaba, no interior do Estado também têm Feira de Flores.
Informações
Ceagesp
Entreposto Terminal São Paulo
Avenida Dr. Gastão Vidigal, 1946 – Vila Leopoldina
Tel.: 11. 3643-3700
Onde comprar
Há seis anos no Varejão vendendo legumes e verduras de ótima qualidade.
Inf.: 15. 99743-4186
Com 40 anos de tradição na Ceagesp oferecendo produtos naturais e orientais como o arroz japonês, além da fabricação própria de sushis.
Inf.: 11. 2783-1217
** Barraca Milton e Yara Frutas
Tradição em frutas frescas e de excelente qualidade.
Inf.: 11. 7811-6708
Especializado em verduras frescas e saborosas.
Inf.: 11. 7819-5533
Venda de batatas, cebolas e alhos, desde 1990.
Inf.: 11. 97430-8221
Produtos orientais direto da roça, destaque para o broto de bambu e gengibre.
Inf.: 11. 94745-9347
Hora do Lanche
Além das compras, é possível experimentar algumas delícias tradicionais do Varejão. Confira!
Saborosos pastéis de diversos sabores, todas as quartas-feiras no varejão.
Há mais de 17 anos vendendo o delicioso e tradicional lanche de pernil.
Inf.: 11. 3835-8008
Dica Gastronômica
Até o dia 07 de dezembro acontece o Festival do Pescado e Frutos do Mar da Ceagesp. O bufê, que custa R$ 69,90 por pessoa, inclui três opções de peixes inteiros, pratos quentes, entradas, saladas e antepastos.
Os principais destaques do evento são a paella à marinara, feita em um tacho de 1,20 m de diâmetro e os camarões pistola assados na brasa e servidos à vontade nas mesas.
Os fãs da famosa sopa de cebola do Entreposto – servida nos meses de inverno durante o Festival de Sopas Ceagesp – terão a oportunidade de prová-la também nesse evento.
Os visitantes podem experimentar os mais de 40 pratos servidos no festival, que são alterados todas as semanas, as quartas e quintas-feiras, das 18h às 0h, as sextas-feiras e sábados, das 18h às 2h, e aos domingos, das 11h às 17h.
A entrada para o festival é pelo portão 4 da Ceagesp. O estacionamento tem preço fixo de R$ 5,00, válido para todo o período em que estiver no evento. Mais informações e o cardápio da semana podem ser conferidos no site www.festivaldopescadoceagesp.com.br.