Tradição: Hajichi – Tatuagem

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Até as gerações de nisseis okinawanos no Brasil, pudemos desfrutar do convívio com os velhos imigrantes, o que nos intrigava eram as marcas tatuadas nas costas das mãos das nossas avós e algumas tinham até nos braços, o que diferenciava de outras comunidades, indagadas sobre a finalidade daquelas tatuagens, a resposta era sempre de que eram marcas que identificavam como sendo casadas…

 

Curioso, fui pesquisar sobre as tatuagens – hajichi, as moças em Okinawa, eram tatuadas durante os preparativos para o casamento, como se fosse um talismã que traria a felicidade e preservava a castidade da mulher.

O hajichi era feito com uma agulha fina de bambu e tinta misturada com awamori (saque de Okinawa), o tatuador era chamado de hijitiya, os desenhos diferiam de região para região, mas os mais usuais eram, uma cabeça de seta (flecha) que significava nunca mais voltar, pois a filha ia pertencer a outra família, um círculo que simbolizava um meado de fios, o quadrado  significava uma caixa de costura, porque naquela época era primordial as moças saberem costurar. Mas em 1879 da era Meiji, no fim do Reino Ryukyu, as tatuagens foram proibidas.

No contexto da imigração, as mulheres nascidas no fim do século 19, mantinham essas tatuagens nas mãos, que eram desconhecidas por outras comunidades japonesas. Como a tatuagem no Japão é ligada ao submundo, talvez o hajichi tenha sido um dos fatores que culminou no desprezo da comunidade japonesa em relação à comunidade okinawana, juntamente com outras diferenças entre esses povos, como a língua de Okinawa, os traços da feição mais marcantes, e sua pele mais morena, distintas da fisionomia japonesa.

Como Okinawa era uma terra de mercadores, que navegavam através da corrente marítima Kuroshio, aproveitando os ventos que sopravam de norte ao sul ou vice versa, mantendo em seu relacionamento aproximadamente 40 postos comerciais. No porto de Naha, ancoravam vários navios estrangeiros, do Sudeste Asiático os mercadores traziam artesanato, arroz, enxofre e marfim, da China a batata doce e produtos variados, do norte do Japão vinham as algas marinhas.

O hajichi foi uma forma de preservar e proteger as mulheres, pois, uma vez sequestradas seriam de fácil comercialização, com a tatuagem era possível que os mercadores okinawanos identificassem essas mulheres, caso fossem raptadas e vendidas em outros pontos da Ásia.

Essas mulheres tatuadas trouxeram para o Brasil, o modo de vida okinawano em que os homens trabalhavam na agricultura ou na pesca, e as mulheres comercializavam o produto. Aqui também, nas chácaras da periferia das cidades, os homens criavam porcos ou plantavam verduras e as mulheres saiam para vender seus produtos, carregando em grandes tabuleiros. Por conta disso, muitas pessoas viam as okinawanas trabalhando nas ruas e só viam os homens em seu horário de lazer, quando saíam das chácaras para beber e encontrar seus amigos, por este motivo, passava-se a impressão de que os okinawanos eram folgados e somente as mulheres que estavam na ativa.

Há histórias de líderes imigrantes, mas não de suas mulheres, que lutaram e sofreram tanto quanto eles, devemos agradecer às obachan, grandes batalhadoras, integradoras da força familiar, e que conseguiram deixar um grande legado, aos seus descendentes.

SHINJI YONAMINE é palestrante da cultura e tradições de Okinawa. E-mail: shinjiyonamine9@gmail.com.