Entenda alguns costumes e hábitos da terra do sol nascente
Imagens The Noun Project
Que os japoneses são um povo com muitos costumes e tradições a maioria das pessoas já sabe, mas nem todas conhecem os significados desses hábitos. Para tentar esclarecer alguns deles, a revista Mundo Ok com a ajuda da professora e diretora geral de ensino da Aliança Cultural Brasil-Japão, Jaqueline Mami Nabeta, reuniu alguns tópicos que permitem conhecer e entender um pouco mais dos hábitos mais comuns entre os japoneses e que também estão presentes na comunidade nipo-brasileira. Confira!
“Diz a mitologia que o primeiro imperador do Japão, Jimmu Tenno, que unificou o Japão antigo, recebeu uma mensagem dos deuses de que o local que o pássaro pousasse, ia vencer a guerra, e esse lugar seria sagrado. Torii significa ‘onde pousou o pássaro’, ao pé da letra”, explica Jaqueline. Na terra do sol nascente, torii remete a um portal, um lugar sagrado e só é construído em frente ou próximo aos templos. “No Brasil é que se criou o hábito de construir em vários locais”, conta.
EM CASA
Tirar os sapatos antes de entrar
Em praticamente todas as residências (e também em escolas, hospitais, empresas…) japonesas há um genkan, uma espécie de degrau abaixo da entrada principal. Os japoneses costumam tirar os sapatos, deixando-os no genkan e entram em casa apenas de meias ou com suripas – um chinelo especial só usado no interior das residências. “É um hábito bem antigo, como no Japão o verão é bem úmido, era normal já fazer a casa em um piso mais elevado. Além disso, ajuda a manter a casa mais limpa e a não trazer as sujeiras da rua”, explica Jaqueline. “Nos templos o objetivo é não levar o que é impuro para dentro de um local santo”, completa.
A posição – que implica em dobrar as pernas sob o corpo, com o bumbum e as costas nos calcanhares – comum em cerimônias como a do chá, “remete a vestimenta, porque antigamente todas as mulheres usavam quimono e era difícil sentar no tatami de outro jeito”, esclarece a especialista.
Nos primórdios, segundo Jaqueline, o quimono era usado como roupa do dia-a-dia. Só após a Era Meiji, que as roupas mudaram e ficaram mais confortáveis e os quimonos passaram a ser mais utilizados em ocasiões especiais, como em festas, cerimônia da maioridade, ou no Hina Matsuri – Dia das Meninas.
Banhos no ofurô
Ao contrário do banho no chuveiro, como é comum entre os ocidentais, os japoneses preferem o “banho de imersão em água bem quente, que serve, principalmente, para esquentar, já que o inverno no Japão é rigoroso, e para relaxar”, comenta Jaqueline. Segundo ela, os japoneses se lavam antes de entrar no ofurô, uma vez que eles têm o hábito de compartilhar a água do banho com outras pessoas.
CUMPRIMENTO E APRESENTAÇÃO
O ojigi (lê-se odigui) ou reverência é a forma respeitosa que os japoneses cumprimentam as outras pessoas. Não é comum o contato muito próximo com abraços e beijinhos no rosto, como no Brasil. “Se for alguém mais importante a reverência deve ser maior, curvando bem o corpo, se for alguém mais íntimo, basta um aceno leve de cabeça”, conta.
Quando se encontra alguém pela primeira vez é comum trocar o cartão de visita (impresso com nome completo, endereço, telefone, nome da empresa e departamento). “O meishi é muito importante para os japoneses, já que eles geralmente se dedicam a vida toda à mesma empresa”, revela Jaqueline. Para não errar, “entregue o cartão com as duas mãos com o escrito virado para o interlocutor. Quem aceita deve recebê-lo também com as duas mãos e ler com atenção o que tá escrito. Não é educado guardar logo de cara. Caso não tenha um porta cartão, fique com ele em mãos, não guarde no bolso, ou amasse. Se estiver sentado a uma mesa, ponha-o sobre a mesa, face para cima de frente para você”, aconselha.
DURANTE AS REFEIÇÕES
É uma toalha quente oferecida, principalmente, em restaurantes para higienizar as mãos. “De acordo com a etiqueta, o oshibori só é indicado para limpar as mãos, não se deve passar no rosto ou pescoço”, lembra Jaqueline.
Antes e depois das refeições deve-se agradecer pela refeição. Antes de comer ou beber é educado dizer “itadakimasu” (ao pé da letra, “vou me servir”), que seria “obrigado pela refeição” e após comer dizer “gochisousama” (ao pé da letra, “obrigado pelo banquete”), que seria “obrigado pela refeição oferecida”. “É uma forma dos japoneses expressarem sua gratidão por todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para aquela refeição estar à mesa. Agradecimento às pessoas que plantaram, aos deuses que permitiram a colheita, até finalmente a pessoa que preparou a refeição”, elucida Jaqueline.
Ao contrário da etiqueta ocidental, sopas e caldos podem e devem ser tomadas direto das tigelas, que devem ser trazidas à boca, ao invés de deixar pender a cabeça sobre os pratos na mesa. Entre os japoneses, também é comum fazer barulho com a boca ao sugar o caldo ou o macarrão. “Se você acha a comida muito boa, aí que você deve fazer mais barulho, pois é uma demonstração de apreciação do prato”, revela a especialista.
Em um jantar japonês, quando receber uma bebida, aguarde antes de beber. Provavelmente todo mundo será servido e alguém vai assumir a liderança, fazer um breve discurso e brindar. Levante o copo com a bebida e brinde com um “Kampai!” (saúde).
Como usar o hashi
Jaqueline explica que a origem do hashi data do século 3 a.C., e na época era como uma pinça de bambu, e seu uso era restrito aos rituais religiosos para fazer as oferendas aos deuses, era como um elo de ligação entre os homens e os deuses. Só no século 8 a.C. que o utensílio se popularizou e passou a ser utilizado por toda a população. “Durante as refeições a tigela de arroz sempre é colocada à esquerda e a sopa à direita. O correto é segurar o hashi com a mão direita, sempre da metade para cima e usar a mão esquerda para levantar as tigelas de arroz e de sopa para comer”, detalha a especialista. Segundo ela, é falta de educação gesticular com o hashi em mãos, apontar para as pessoas ou mesmo chupar a sua ponta. Quando quiser pausar, deve deixa-lo sobre o hashioki (descanso de hashi), caso não tenha, coloque-o em cima da tigela na horizontal. Em hipótese alguma espete o hashi na posição vertical na comida, tal ato é visto como um verdadeiro insulto em uma mesa típica japonesa, pois esta é a mesma posição que são colocados os incensos nas cinzas nos oratórios japoneses. Também não é de bom tom passar os alimentos de um hashi para outro, já que este movimento faz alusão à maneira como os restos mortais são manipulados depois da cremação.
SAQUÊ: MITOS E VERDADES
O saquê – bebida fabricada a partir da fermentação do arroz, com origem estimada há mais de 2 mil anos – é a bebida oficial das celebrações japonesas. Existe até uma “cerimônia do saquê” chamada de Kagamibiraki, que tem o significado de trazer sorte, sucesso, longevidade e, principalmente, superação nos momentos mais difíceis. O ponto alto é quando se quebra a parte de cima do barril de madeira (taru) de saquê com um martelo. Em seguida, as pessoas enchem o massu, copo quadrado de madeira e fazem um brinde. Atualmente, o ritual ainda é realizado em festivais, para celebrar casamentos, inaugurações de lojas, vitórias eleitorais e esportivas.
Como servir
O saquê é, acima de tudo, uma bebida de felicitação, que busca proporcionar momentos de cumplicidade, de aproximação das pessoas. Por isso, o cerimonial que cerca a bebida tende a ser mais informal que o do vinho, por exemplo. A etiqueta diz que o anfitrião deve servir primeiro os convidados, que retribuem imediatamente o ato, em um ritual de troca mútua de atenção e gentileza. Deve-se segurar a garrafa com as duas mãos. Há também a questão hierárquica. Em reuniões de trabalho, o subordinado serve o superior. Por ser uma bebida de confraternização, a regra comum, conhecida e difundida, é que não se deve servir a si mesmo.
Copo ideal
Antes era comum beber o saquê no massu, copo quadrado de madeira. Atualmente ele é usado somente para se fazer brindes em festas de casamento e inaugurações de empresas, onde os convidados ganham o massu de brinde. No Japão não se usa o massu para beber saquê em restaurantes, existe um copo tulipa criado exclusivamente para beber qualquer saquê premium e os superpremium. O formato do copo permite apreciar e perceber a delicadeza, o corpo, a cor e a densidade da bebida. No Brasil, ainda é um hábito comum, mas que está mudando aos poucos. Como o copo tulipa ainda não foi difundido em terras brasileiras, recomenda-se uma taça de vinho branco. Outra opção é o ochoko, o copo de cerâmica ou porcelana, que era usado para saquês quentes, mas que nos dias de hoje também servem para os gelados.
Quente ou frio?
O kanzake (saquê quente) é uma das maneiras de degustar a bebida, mas mesmo no Japão, esse hábito está em extinção. Antigamente, os japoneses aqueciam saquê para disfarçar a baixa qualidade da bebida e esquentar o corpo nos dias de inverno. Atualmente, apenas os mais velhos mantém essa tradição. Os jovens preferem saquê gelado.
Sal no saquê
Antigamente o saquê era uma bebida bem rústica. Então colocava-se sal para disfarçar o sabor. Os primeiros imigrantes que chegaram ao Brasil ainda mantinham o mesmo hábito. Os primeiros restaurantes que começaram a funcionar na Liberdade também. Atualmente não se mistura sal nos saquês premium. O sabor e o aroma são tão complexos e delicados que não faz sentido. Seria o mesmo que misturar energético em um uísque 18 anos.
Fonte: Livro “Guia Prático do Saquê” de Celso Ishiy.