Opinião: Voltando às origens

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A história é a mesma para centenas de milhares de nikkeis. Os imigrantes japoneses, majoritariamente, tinham sido mandados para as fazendas no interior dos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso. Um bom contingente foi se aglomerando nas cidades do interior. No caso do estado de São Paulo, acompanhavam as estradas de ferro, e, no Paraná, distribuíram-se no norte do estado…

Com a derrota do Japão na segunda guerra, os imigrantes perderam de vez a esperança de retornar à terra natal. Na verdade, a maioria já estava gostando daqui e não queria mesmo voltar, até porque as condições gerais de vida já eram melhores se comparadas com as que viviam no Japão. Mas japonês é “garantidamente” um povo inquieto. Um misto de ambição, orgulho e dedicação é passado de geração em geração, induzindo a mudanças contínuas. Se a maioria não estava contente em ficar onde as oportunidades eram poucas e as posições sócio-econômicas eram limitadas, a solução respondia pelo nome de “São Paulo”. O resultado disso é que, principalmente a partir da década de 50 do século passado, levas de nikkeis saíram no interior para se estabelecerem na cidade de São Paulo – uns no intuito de cursar boas escolas e outros na esperança de melhores oportunidades profissionais.

Não sei se existe estatística a respeito, mas suponho que, atualmente, de cada três nikkeis que vivem na capital, dois são interioranos ou filhos deles. A minha geração (que já passou dos sessenta), veio no final dos anos 60 e início dos 70. A grande maioria para estudar, mas, como ninguém é de ferro, também para farrear. E os primeiros anos da década de 70 certamente foi o auge dos bailinhos, as baladas da época. Os sábados eram reservados os grandes bailes em salões suntuosos(Clube Homs, Clube Atlético Ipiranga, Casa de Portugal, salão de festas do Bunkyo e outros) e as domingueiras aconteciam nos kaikans da periferia.  Lembrando, ainda, que baile bom tinha que ser animado pela banda “APA-TOTA”, formada majoritariamente por nikkeis. Alguns dividiam seu tempo, além de escola e bailes, em atividades esportivas, culturais e até religiosas, como no meu caso, que fui frequentador assíduo dos seminários da Seicho-no-Iê em Ibiúna, entre 1969 e 1973.

Entre longas e milongas, terminamos a faculdade e inseridos no mercado de trabalho. Os namoricos ficaram mais sérios e acabaram em casamentos. Com os filhos, vieram a alegria e a responsabilidade. E a crise econômica dos anos 80/90 foi apertando, quando muitos não tiveram como se safar e embarcaram ao Japão, para trabalhar. Famílias desfeitas ou desordenadas mudaram o rumo da história de muita gente.

Quem ficou foi se ajeitando, os anos passando, os filhos crescendo, os cabelos embranquecendo e, finalmente, a aposentadoria chegou ou está para chegar para todos nós. A grande maioria está relativamente bem de vida e optou por continuar em São Paulo, jogando gatebol, cantando num karaokê, fazendo dança de salão, visitando shopping e comendo periodicamente fora.

Mas tem uma turma que está começando a voltar para sua cidade de origem. Querem fugir do barulho, da poluição, da violência e do corre-corre da cidade de São Paulo. Buscam convivência com pessoas e lugares que lhes são caros, de um passado que traz boas recordações.

Mas outros, querem novidades. Voltar de onde veio é retrocesso, dizem eles. E assim vão morar na praia ou em sítio. Pessoalmente, estou semi-aposentado. O melhor da vida profissional parece que ficou para o fim e vou aproveitar mais um pouquinho. Mas minha última pousada já está lá, me esperando para criar galinhas, plantar milho e aprender a gostar de pescar. Muitos dizem que esta é uma vida para quem tem paciência e piedade. Falou em Piedade? Pois sim, é lá que deve ser minha morada em breve tempo!

NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br.