Análise: Moral e Ética

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Na linguagem popular é comum confundir a Moral com a Ética que são conceitos diferentes. A palavra “moral” deriva do latim mores que significa relativo a costumes, enquanto que a palavra “ética” tem origem no termo grego ethos que expressa o modo de ser, ou seja, a maneira como o homem deve se comportar em sua vida social…

Historicamente, a Moral precede a Ética à medida que ela existia antes da organização dos homens na sociedade, impondo-se sempre a observância do costume local.  A Ética, segundo a história, surgiu com o Sócrates na Grécia antiga,  por volta de 480 a.C.  Ao contrário da Moral, não se reveste do caráter obrigatório.

O aspecto obrigatório da Moral persiste até hoje nas sociedades politicamente organizadas. Como reflexo de hábitos e costumes de um povo, a Moral varia no tempo e no espaço. No Afeganistão e no Paquistão, por exemplo, as mulheres são obrigadas a usar a burca, vestimenta que cobre dos pés à cabeça deixando uma pequena fresta para visão. Essa vestimenta  representa um símbolo do Talibã. Outro exemplo, mais bizarro,  é a mutilação sexual feminina praticada sob várias formas em mais de 20 países do Continente Africano, em vários países do Oriente Médio, assim como em algumas comunidades de imigrantes radicados na Europa. Na maioria dos países esse ritual macabro é executado em crianças de até cinco anos; outros o fazem em adolescentes de 12 anos como forma de marcar a passagem das “meninas” para  “mulheres”, vencendo a forte oposição da opinião pública mundial manifestada por organismos internacionais, como a Fundação das Nações Unidas para a População  – INFPA – o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF – e a Organização Mundial da Saúde – OMS.

Esse hábito, segundo a nossa Moral configura uma afronta à dignidade humana, um crime contra os costumes,   até mesmo um ato de discriminação sexual. Por que não marcar a passagem dos “meninos” para  “homens”?

A lembrança desses fatos tem o propósito de bem destacar a diferença entre os dois conceitos interligados: a Moral e a Ética.A Moral representa uma convenção que resulta da prática cotidiana, continuada e prolongada no tempo, que orienta a vida do indivíduo na sociedade em que vive. Não requer cultura, sabedoria ou exercício de inteligência.   A Ética, enquanto parte do vasto conhecimento filosófico, preocupa-se com a investigação das regras morais trançando uma orientação de conduta do homem, suscetível de qualificação do ponto de vista do bem ou do mal de modo absoluto ou em relação a uma sociedade determinada. Por isso, o seu campo de atuação não se limita ao conhecimento prático que deriva dos costumes. A Ética, ao contrário da Moral, requer cultura e exercício da inteligência. Daí o vasto campo em que se desdobra a Ética, a ética do advogado, a ética forense, a ética médica, a ética imobiliária. Enfim, a Ética representa um código de conduta do homem moderno. Só que  ela não mais existe como um valor absoluto.

Porém, temos a certeza de uma coisa:  hoje tudo é relativizado. Assim, temos a “ética da conveniência” que se contrapõe a “ética da responsabilidade”. Aquela  permite um individuo mascarar com normalidade o seu caráter verdadeiro, aparentando ser o que não é. No meu entender, isso é ser cínico, mas respeito à opinião da maioria que utiliza a ética da conveniência para reger seus atos diários.

KIYOSHI HARADA é jurista e acadêmico com 29 obras escritas e Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.