Análise: Indústria das multas de trânsito – Parte II

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Cerca de 400 km de vias foram pintadas com faixas privativas para ônibus. As linhas pontilhadas estão praticamente em cima dos locais das conversões fazendo o motorista escolher entre segurança e o risco de levar  multa. Os sinais indicativos de liberação das faixas brancas são nebulosos, variando de um trecho para outro da mesma via pública, além de grafados os diferentes horários arbitrariamente fixados com letras pequeninas…

HaradaApós a fixação da multa para R$53,20 e 5 pontos na CNH a  sua aplicação cresceu 786,8%. Imagine-se agora que a multa passou para R$191,54 e 7 pontos na CNH! Mais radares sofisticados serão espalhados ao longo dessas faixas brancas pintadas a peso de ouro. Apesar de o Executivo ter sofrido três suspensões das licitações para execução dessas faixas em razão de irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas do Município,  a sua execução não para de crescer. É uma indústria rendosa. Na última suspensão determinada pelo TCM foi descoberto um sobrepreço da ordem de 47 milhões. A continuar essa fúria pela caríssima pintura de faixas exclusivas que está produzindo efeitos contrários ao aparentemente visado, as montadoras de automóveis entrarão em colapso. Comprar automóvel pagando impostos caros para guardar na garagem não é razoável. Esses automóveis estão ficando cada vez mais difícil de circular pela cidade, decorrentes de “n” obstáculos: rodízios, faixas de ônibus, faixas de bicicletas, carroceiros, triciclos,  ruas esburacadas; semáforos desregulados e instalados em locais indevidos.

Engenharia de tráfego é ineficiente. Alteram-se as mãos de direção a todo momento, sempre de forma a aumentar o percurso, sem vantagem do fluxo mas ágil. Não é razoável nem racional obrigar o motorista dar uma volta de 2 kilômetros ou mais  para alcançar uma via que dista 50 metros do local onde se encontra. Isso acontece  por conta das inexplicáveis inversões de mãos de direção que obriga o motorista a distanciar-se cada vez mais do local a ser alcançado. Contrariando todas as regras internacionais de trânsito, seguidas vias públicas de São Paulo, frequentemente, têm o mesmo sentido de direção lembrando as ruas de Roma. E mais, quando os usuários encontram uma via alternativa para fugir do congestionamento a CET logo descobre e coloca obstáculos antes inexistentes. Policiamento e fiscalização envolvendo agentes públicos não existe, apenas a fiscalização eletrônica que é eficiente para multar, mas impotente para remover veículos estacionados de baixo de placas proibitivas, responsáveis maiores pelos transtornos. Se for para não fiscalizar seria melhor não colocar placas proibitivas, pois, assim teríamos ao menos como identificar o veículo estacionado daquele aguardando a abertura do semáforo e não correríamos o risco de ficar entalado. Os radares, também são ineficientes para multar os motoqueiros que desenvolvem altas velocidades na Marginal Pinheiros, responsáveis maiores pelos acidentes que levaram a CET a reduzir a velocidade para 50km/hora. Essa redução nada razoável, transformando a via expressa em via de trânsito lento durante as 24 horas do dia, só servirá para aumentar a arrecadação de multas. Contando com isso, foram instalados na Ponte Universitária nos dois sentidos da Marginal Pinheiros seis radares de última geração que conseguem captar a imagem de uma formiguinha andando. Porém, os motoqueiros nada sofrerão, pois esses radares, apesar de sofisticados, só conseguem identificar veículos com a chapa dianteira. Agora, essa velocidade foi estendida para a Radial Leste, Av. Aricanduva e Estrada do Jacu-Pêssego, onde o trânsito já era bastante complicado.

(Continua na próxima edição.)

KIYOSHI HARADA é jurista e acadêmico com 29 obras escritas e Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.