Em Araçatuba, famílias nipo-brasileiras se encontram para comemorar centenário do bairro Água Limpa
Fotos Koji Matsumoto (São Paulo Shimbun)
Um evento histórico e recheado de emoção. Tal definição simboliza bem o encontro de dezenas de famílias do bairro de Água Limpa, em Araçatuba (SP), realizado no dia 6 de setembro. A festança comemorou o Centenário do bairro, que recebeu diversas famílias japonesas ao longo do tempo.
Para uma comemoração deste porte, todo o planejamento começou há cerca de um ano. Em conjunto com a Associação Cultural Nipo-Brasileira de Araçatuba, três irmãos fizeram os esforços necessários para uma homenagem tão simbólica: Roberto, Horácio e Milton Kuroda. Desde a concepção do evento, passando pelo contato com antigas famílias e até chegar na fase de execução, os três capitanearam, junto com outros colegas e amigos, a festividade. O sucesso foi mais que garantido, pois dezenas de pessoas prestigiaram a festa e a solenidade alusiva à data.
A programação teve início logo cedo, com a celebração de um culto budista no próprio bairro de Água Limpa. Trata-se de uma singela homenagem para aqueles que, ao longo de tantos anos, desbravaram a região em busca de uma vida melhor. Afinal, muitos pioneiros da imigração japonesa foram para Água Limpa, constituindo família e enxergando no horizonte uma forma de melhorar sua condição. Por lá, diversas lideranças e famílias formaram um círculo de amizade que dura até os dias atuais.
Presente na solenidade, o cônsul geral do Japão em São Paulo, Takahiro Nakamae, destacou a forte presença de imigrantes japoneses em Araçatuba, parabenizando a comemoração e desejando que a amizade possa perdurar por muitos anos. “Destaco a grande amizade formada entre as famílias. Tenho certeza de que esta solenidade é uma grande maneira de homenagearmos os imigrantes japoneses que tanto lutaram para dias melhores. Araçatuba também é conhecida por ter uma grande comunidade nikkei, com destaque na agricultura. Tudo isso é um grande orgulho”, ressaltou Nakamae.
Logo após a cerimônia religiosa, o Nipo Araçatuba ofereceu uma recepção para os convidados. Toda a parte de alimentação ficou a cargo do fujinkai (associação de senhoras), que preparou pratos especiais para a festividade.
Para a família Kuroda, a representatividade e a união em torno de uma data especial fortalecem ainda mais a amizade. Para todos, o sentimento foi de relembrar momentos marcantes na trajetória daqueles que nasceram e cresceram em Água Limpa. A presença japonesa no Bairro de Água Limpa teve início em 1915 com o empreendedor Anze Molize – um dos fundadores do extinto Banco América do Sul – que adquiriu cerca de 120 alqueires para que os colonos japoneses, oriundos da província de Fukushima, trabalhassem com o cultivo de café.
Segundo os irmãos Kuroda, a vida em Água Limpa não foi fácil. Pelo contrário, pois, quando as famílias japonesas chegaram, encontraram um panorama complicado. Nos primeiros anos, os colonos tiveram que derrubar a mata, pois não tinha estrada. O plantio de café demorou um pouco, devido às dificuldades logísticas, e o próprio bairro Água Limpa ainda pertencia ao município de Birigui, distante cerca de 40 km. “O trajeto era feito a pé ou no lombo de burro”, explica Horácio, destacando que, no auge, por volta de 1950, o bairro de Água Limpa chegou a reunir cerca de 135 famílias de colonos japoneses. “Hoje são apenas cinco famílias remanescentes: os Yamada, Sakura, Sakamoto, Anze e Watanabe”, diz Roberto, explicando que seu pai, Toshiaki Kuroda, vendeu o sítio em 1969, pouco tempo depois que a produção de café começou a diminuir.
