De Natsume Soseki, obra é uma das mais populares da literatura japonesa
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Em “Botchan”, publicado em 1906, o autor Natsumi Soseki, um dos mais emblemáticos da literatura japonesa, reafirma o estilo bem-humorado e sagaz com uma trama sobre diferenças: o choque cultural que opõe a cidade grande e o interior. Lançado no Brasil pela Editora Estação Liberdade, o livro é um clássico da literatura japonesa do século XX, que se mantém até hoje como um dos livros mais populares no Japão.
O personagem que dá título ao romance é um jovem professor de matemática de Tóquio que, aos 23 anos, aceita partir para uma localidade inóspita nos rincões do Japão, na ilha de Shikoku, a fim de lecionar para aquela que será sua primeira turma de alunos ginasiais.
Habilidade social não é muito o forte do protagonista, muitas vezes comparado ao Holden Caulfield de J. D. Salinger em “O apanhador no campo de centeio”. Até aceitar o emprego, Botchan tinha passado os últimos três anos vivendo recluso em um cubículo “de quatro tatames e meio”. Seus modos são ríspidos, sua paciência com os outros é limitada, sua impetuosidade vive lhe causando problemas, sua fome é insaciável.
Por tudo isso, no olhar ferino de Natsume Soseki, o alvo da chacota e da maldade dos colegas não é o estudante desengonçado, mas sim esse professor cujo sotaque cosmopolita agride os ouvidos dos alunos da província. Aprendiz de adulto, Botchan terá de encarar o fato de que a vida real pode ser bem menos tranquila do que indicava sua experiência anterior, dividida entre a reclusão e os mimos de uma velha criada da família.
No romance, Soseki, que também foi professor na juventude, destila os predicados que lhe deram fama, como a ironia, a escrita fluida e a magistral composição psicológica de personagens.
Natsume Soseki
Nascido em Tóquio, em 1867, o autor teve uma infância difícil e solitária. E desde pequeno interessou-se por literatura chinesa, ingressando, aos 23 anos, na Universidade Imperial (atual universidade de Tóquio), para cursar literatura chinesa. Lecionou inglês na Escola Especializada de Tóquio (hoje Universidade Waseda). Crises nervosas o fizeram abandonar Tóquio e o prestigioso cargo que possuía. Estabeleceu-se em Ehime (Shikoku), onde lecionou em uma escola secundária.
Em 1905 lançou seu primeiro livro, “Eu sou um gato”, saudado por crítica e público. Dois anos depois, passou a se dedicar exclusivamente à literatura, tornando-se escritor exclusivo do diário Asahi Shimbun.
Ao lado de Ogai Mori (1862 – 1922), Soseki foi um renovador da literatura japonesa, ao construir uma obra consistente e que remou na contramão das tendências da época. Assim como Mori, que também viveu por um período na Europa, Soseki soube assimilar a inevitável influência que o Japão passava a sofrer do Ocidente, oportunizando-a em sua produção literária ao pôr em perspectiva os valores nipônicos mais tradicionais.
O autor faleceu em 1916, por sequelas de suas frequentes crises de úlcera. Além de Botchan, a Editora Estação Liberdade também publicou as seguintes obras de Soseki: “Eu sou um gato” (2008), “E depois” (2011), “Sanshiro” (2013) e O portal (2014).
“Botchan”
Natsume Soseki
Tradução do japonês Jefferson José Teixeira
Editora Estação Liberdade
184 páginas
R$ 38,00