Análise: Cento e seis anos corridos de imigração

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Desde a década de 70, a chamada colônia japonesa, formada pelos imigrantes e seus filhos, ocupando determinados espaços territoriais com estilo de vida própria, já havia perdido a sua característica inicial…

HaradaNos anos 80 havia-se transformado em um dos segmentos da ampla sociedade brasileira composta por japoneses autóctones, seus filhos, netos e bisnetos (nikkeis). Porém, esse fato, para a sociedade em geral, só veio à luz por ocasião dos festejos comemorativos do centenário da imigração japonesa no Brasil que trouxe bastante visibilidade a diversos aspectos da cultura japonesa que não eram do conhecimento do grande público. Isso contribuiu para que a nossa sociedade assimilasse vários desses aspectos da cultura oriental incorporando-os como valores a serem perseguidos por parcela ponderável do povo brasileiro. Esse fenômeno de absorção da cultura japonesa consolidou-se de forma definitiva com os festejos comemorativos dos cento e vinte anos do Tratado de Amizade, de Comércio e de Negação firmado entre o Brasil e o Japão em 1895, que contribuiu para a assimilação da cultura brasileira pelos japoneses.

Hoje, os nikkeis têm participação ativa no cenário nacional em todos os setores da atividade.

Em janeiro de 2016 assumiu a presidência do Tribunal de Justiça Militar o juiz  Silvio Hiroshi Oyama, tornando-se o primeiro Nikkei a presidir um Tribunal de Justiça no Estado de São Paulo. Massami Uyeda foi o primeiro Nikkei a assumir a cargo de Ministro do Superior Tribunal de Justiça, seguido de perto por Fernando Eizo Ono que até hoje ocupa o cargo de Ministro do Tribunal Superior do Trabalho.

No âmbito da Forças Armadas há presença de nikkeis compondo o quadro de oficiais generais nas três Forças Singulares: no Exército temos três generais de brigada, Angelo Kawakami Okamura, Riyuzo Ikeda e Rui Yutaka Matsuda. Paulo Kazunori Komatsu alcançou o posto de general de Divisão; na Aeronáutica Masao Kawanami e Juniti Saito atingiram o posto máximo de Tenente Brigadeiro-do-Ar  sendo que o último foi  Comandante da Força Aérea Brasileia; na Marinha o Sr Noriaki Wada alcançou o posto de Contra-Almirante em agosto de 2015, tornando-se o primeiro nikkei a integrar o generalato na Marinha.

No Poder Legislativo temos inúmeros Deputados Federais e Estaduais, bem como Vereadores de importantes cidades como São Paulo. Muitos deles, como Yukishigue Tamura, Sussumu Hirata, Diogo Nomura e Paulo Kobayashi marcaram passagem na história.

No Poder Executivo temos vários prefeitos e vice-prefeitos, além de quatro nikkeis que foram ministros de Estado, sem contar um número enorme deles exercendo cargos de 2º e 3º escalões nas três esferas políticas. Igualmente, nas universidades públicas temos muitos professores titulares, além de Diretores de Faculdades. Entre profissionais liberais são incontáveis as personalidades que ganharam a projeção nacional e internacional, como artistas plásticos, engenheiros, arquitetos, médicos, advogados, doutrinadores e juristas. O mesmo acontece no mundo da música, dos esportes, da culinária, da beleza e em todos os campos da vasta cultura que por fala de espaço deixamos de detalhar.

A expressão “colônia japonesa”,  utilizada pelas autoridades brasileiras, não tem  mais o sentido de uma comunidade concentrada em determinados espaços para juntos enfrentarem as adversidades comuns, mas o sentido carinhoso para relembrar os valores positivos da cultura japonesa. Outrossim, a expressão o  “futuro da comunidade Nikkei” que se vê em algumas das publicações especializadas, também, já perdeu o seu sentido etiológico porque aquela comunidade de então não está mais em construção; atingiu o ápice no processo de evolução e integração formando um segmento atuante da sociedade brasileira contribuindo decisivamente no fortalecimento da inteligência nacional.

Kiyoshi Harada é jurista, acadêmico, escritor e Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.