O Bunkyo completa este ano exatamente 60 anos de existência. Cresceu bastante e deu várias floradas nos últimos tempos. Mas, precisamos reverter a natureza das coisas segundo a qual tudo nasce, cresce, floresce e morre…
Precisamos inovar para assegurar o futuro. Preservar tudo que o Bunkyo fez de bom e está fazendo é muito importante. Só que preservar as tradições não significa, nem pode significar, o engessamento das entidades no tempo determinado. Se fizermos isso, com o decorrer do tempo elas não passarão de relíquias do passado. Permanecer estático é próprio de um Museu. As entidades são órgãos vivos e funcionais para atender às suas finalidades institucionais que são dinâmicas, porque os fins devem refletir às exigências da sociedade em contínua transformação. Daí a absoluta compatibilidade entre a tradição e a renovação. Se pararmos no tempo, as tradições tornar-se-ão apenas velhos hábitos, sem sentido e sem utilidade, representando um peso morto na sociedade em que vivemos.
Se até hoje não conseguimos a adesão considerável dos descendentes da terceira geração, além do crescente número de associados inadimplentes a cada ano que passa, pergunta-se: o que acontecerá com o Bunkyo quando os nisseis se forem? Não conseguimos fazer a transição nos cargos diretivos do Bunkyo, como o fizeram os isseis. É de nossa responsabilidade a modernização do Bunkyo. É preciso, como passo inicial dessa modernização, fazer uma reforma pontual no estatuto da entidade, principalmente, restabelecendo as eleições diretas que no passado mobilizaram de forma impressionante os associados, independentemente daqueles recrutados nas vésperas eleitorais.
É claro que a alteração estatutária, por si só, nada representa, sendo mais importante a vontade política de mudar. Mas, tenho a convicção de que a escolha aberta e democrática dos dirigentes, ao invés de escolha de alguns poucos em gabinetes fechados, para ulterior homologação pelo Conselho Deliberativo, despertará maior interesse dos associados que se sentirão úteis e prestigiados.
Por isso, constituímos uma Comissão de Reforma cujo projeto final será debatido na reunião extraordinária do Conselho Deliberativo para ulterior encaminhamento à Assembleia Geral. Segundo o estatuto em vigor, a reforma do estatuto pode ser proposta diretamente a Assembleia Geral Extraordinária por convocação do Presidente do Conselho Deliberativo, do Presidente da Diretoria ou por iniciativa de 1/5 dos associados com direito de voto.
Entretanto, é conveniente que essa reforma pontual, que envolve o polêmico tema das eleições diretas, seja exaustivamente debatida entre os 100 Conselheiros antes de seu encaminhamento à Assembleia Geral que dará a palavra final. É o procedimento que mais se aproxima do ideal democrático.
Se o corpo de associados entender que o sistema atual de eleições indiretas é o que mais convém ao Bunkyo, tudo bem. O importante é abrir a oportunidade de manifestação de opiniões em respeito ao quadro social que é a célula mater de toda e qualquer entidade, assim como o povo é o elemento indissociável do Estado.
Contudo, resta claro que, com ou sem reforma, é perfeitamente possível a modernização do Bunkyo buscando sua afirmação no âmbito nacional, agregando ao seu quadro social maior número de pessoas que tenham afinidade com a cultura japonesa, independentemente de sua origem étnica. Nesse sentido, é importante a implementação das ideias da dinâmica Presidente Harumi Goya que, dentre outras coisas, quer mudar “a cara do Bunkyo” e construir um novo Espaço Cultural para promover a diversidade cultural. Penso que é o caminho certo para a longevidade do Bunkyo.
KIYOSHI HARADA é jurista e acadêmico com 29 obras escritas e Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social.