Análise: O balanço geral da Copa

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Nunca uma Copa causou tanta confusão, revolta e até agressões físicas e verbais como esta que se encerrou na cidade do Rio, no dia 14 de julho, mobilizando 26 mil homens no esquema de segurança…

As manifestações populares começaram bem antes da estreia, motivadas pelas fantásticas despesas previstas para a realização desse evento em contraste com as notórias deficiências de nossos serviços essenciais.  Atingiu seu auge no dia da abertura dos jogos, quando a nação inteira assistiu com espanto as ofensas verbais perpetradas em coro pela multidão contra a Presidente da República. Logo, o senhor de barba espessa e branca vociferava culpando a “elite branca,” expressão cunhada para tentar minimizar a justa reação da sociedade que veio à tona, quiçá, com excesso de linguagem. Façamos um balanço geral da Copa.

Do ponto de vista financeiro o evento foi desastroso. Dos 83 projetos de mobilidade urbana aprovados em 2010 ao custo estimado de 23,5 bilhões, somente 71 foram mantidos. Desses, apenas parte deles foram concluídos, mas  já gastaram 29,2 bilhões, cerca de 2,5% de toda arrecadação tributária prevista para  2014.  As obras desses projetos, a exemplo das do PAC,  quando não empacadas, custam bem acima do preço inicial fixado.  A maioria dos projetos de monotrilhos foi cancelada, e os em andamento, como os de Cuiabá e  Morumbi, estão longe do seu  término.  As reformas dos aeroportos de Viracopos, Confins, Fortaleza e Salvador, também não foram terminadas. Ninguém sabe quanto mais irão custar essas obras inacabadas.

Esses atrasos contribuíram na decretação de feriados ou ponto facultativo, interdições de voos e de trânsito terrestre, antecipações de férias escolares etc. afetando gravemente a 7ª economia mundial, de sorte a causar impacto negativo no PIB do ano.

As únicas obras concluídas a tempo referem-se aos 12 faraônicos estádios, mas alguns deles representam um elefante branco a gerar prejuízos com a sua manutenção e conservação por um tempo indefinido. Talvez, o custo de sua implosão seja compensador no longo prazo. Quem vai lotar o mirabolante estádio de Manaus?

A tão falada entrada abundante de divisas não ocorreu. Segundo dados oficiais no primeiro semestre de 2014 ingressaram apenas U$4,14 bilhões, isto é, 56% a menos que no mesmo período de 2013, quando entraram U$9,53 bilhões. Não é estranho?

A Copa trouxe consigo o recrudescimento dos atos de corrupção decorrente da dispensa de licitação e de disputas de ingressos encarecidos por conta da ação dos cambistas da FIFA, uma instituição privada que enriquece seus “donos” com sede na Suíça e que usou e abusou do comércio isento de tributos e foi-se embora deixando a conta para nós. Andrew Jennings bem retrata a nefasta ação clandestina da FIFA em sua obra “UM JOGO cada vez mais SUJO” (SP: Ed.Original Ltda., 2014).

Danos morais também foram cometidos contra a população em geral que sofreu com as restrições ao direito de ir e vir, agressões físicas de pacatos cidadãos colhidos de surpresa e cacetadas abundantemente distribuídas aos jornalistas que cobriam as perseguições aos ativistas do black bloc.

Em 2007, o bazófio senhor de barba espessa, então grisalha, bramia com a sua estridente voz metálica: “quiero dizê a vocéis qui vamo realizá uma copa do mundo pra argentino nenhum colocá defeito.” A bravateira frase premonitória não se concretizou, mas restou-nos a esperança de um dia tornar realidade a fala de sua filha guerreira: “a derrota é a mãe de todas as vitórias.”

Kiyoshi Harada é Jurista, Acadêmico, escritor e Presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo. Contato: harada@haradaadvogados.com.br.