Com história de vida inspiradora, Hideyo Kato notabiliza-se pelo brilhantismo na carreira e contribuição à comunidade nipo-brasileira
Fotos Arquivo Pessoal
Na história da imigração japonesa no Brasil, muitos podem ser lembrados pelas histórias de garra, superação e sucesso. No campo profissional e acadêmico, o brilhantismo dos descendentes de japoneses sempre chamou a atenção. Neste âmbito, Hideyo Kato possui uma das trajetórias de grande sucesso, que exemplifica a saga vivaz da perseverança nipo-brasileira.
Atual presidente do Conselho Deliberativo do Enkyo (Beneficência Nipo-Brasileira de São Paulo), Kato foi um dos homenageados pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão, em comemoração aos 120 anos de Tratado de Amizade, Comércio e Navegação Brasil-Japão. No dia 14 de dezembro, na residência oficial do cônsul geral do Japão em São Paulo. No total, o governo reconheceu a contribuição dele e de outras 57 personalidades no fomento do intercâmbio entre os dois países.
Também, pudera. Em seu extenso currículo, o engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) sempre se destacou por onde passou. Foi assim nos estudos junto a outros alunos – quando ganhou uma vaga no Diretório do Grêmio Politécnico, derrotando na eleição interna o então estudante Alberto Goldman -, e na área acadêmica da POLI, quando fora convidado para ser assistente de um renomado professor do MIT (Massachussets Institut of Techonology), na cadeira de professor em Tecnologia Mecânica. “Lembro bem desta época, pois era, praticamente, um recém-formado e recebi este convite. Dessa época em diante, tomei gosto pela área acadêmica”, conta. Teve a chance de inovar na (FEI) Faculdade de Engenharia Industrial da P.U.C. criando dois cursos relevantes: o de Máquinas Operatrizes e Ferramentas, bem como o de Mecânica Automobilística. “Foi uma grande evolução e tenho orgulho disso, pois adequou o ensino à prática, com a expansão da indústria de automóveis e de máquinas- ferramentaria. Até hoje existe o curso de Mecânica Automobilística”, afirma ele, orgulhoso.
Todavia, se a realização como docente era um fato, Hideyo Kato sentia que poderia ir além. Virtude essa herdada do pai, Yasutomo, que veio ao Brasil com recursos próprios em 1930 – e nunca teve de trabalhar no campo, diferentemente da grande maioria dos imigrantes japoneses. Técnico em grau superior, viveu no interior paulista e montou a retífica de motores pioneira na região noroeste do Estado. “Meu pai era um grande idealizador, sempre incentivou a estudar. Por isso, sou grato aos ensinamentos”, destaca Hideyo. Passagem histórica foi que seu pai trabalhou com o lendário Soichiro Honda, na Art Shokai (Oficina Mecânica de Automóveis – Japão), que posteriormente fundaria a Honda Motors, hoje uma das líderes mundiais de produção e venda de automóveis. “O próprio Honda, quando veio ao Brasil, fez questão de conhecer o país junto com os meus pais. Manteve uma amizade sólida até o final da vida com meu pai. É um orgulho muito grande”, relembra Hideyo.
Tamanha inspiração o fez trocar a carreira acadêmica pela indústria. Mais especificamente nas áreas de metalurgia e mecânica. Assim, aos 37 anos alcançou o primeiro cargo de diretor industrial, galgando posições em outras empresas, em uma verdadeira escalada para o sucesso. Passou por grandes corporações, casos da então Gradiente (voltada para o setor eletrônico); Engesa (focada no setor bélico e que rendeu passagens até históricas, como a prisão em um hotel na Líbia por uma semana), e VTA Amazônia Eletrônica. Foi nesta empresa que Hideyo Kato ganhou ainda mais destaque, pois em sua empresa a gestão era focada em resultados e qualidade chamando a atenção da grande imprensa. Matérias no O Estado de São Paulo e no DCI (Diário do Comércio, Indústria e Serviços) eram recorrentes. O sucesso, portanto, estava mais que consolidado, “mas era muita dedicação. Ficava mais de 12 horas em horário de trabalho, acompanhando linhas de produção. Tudo em prol da qualidade”, rememora. Sem se contentar com as realizações na indústria, o comércio também ganhou destaque em sua vida. Entre 79 e 83, montou uma revendedora de motos da Honda, famosa pela originalidade e qualidade técnica, e batizada de “Projeto H”.
Por 12 anos consecutivos, foi também Juiz do Prêmio Nacional de Qualidade (PNQ), órgão da Assessoria do Presidente Fernando Henrique Cardoso.
Época essa que, aliás, relembra da família. Com três filhos, Hideyo Kato matinha uma rotina puxada de trabalho, mas sem esquecer de casa. Afinal, a esposa, Hosanna Kato, sempre o apoiava nas decisões, bem como servia (e serve) de alicerce para vencer as adversidades. A distância, por vezes, era bem complicada: em suas contas, ele fez mais de 40 viagens internacionais. Só para o Japão foram 17 idas, além de Estados Unidos, Canadá, Europa, Oriente Médio e América do Sul. “Conheci muitos países, pude vivenciar outras culturas. Tudo isso devo ao meu trabalho. Foi uma época de ouro, que relembro com detalhes cada momento. Sou muito grato por tudo”, destaca.
Aposentado desde 1992, Kato serve ao voluntariado. Atual presidente do Conselho do Enkyo, participa de reuniões para definir as decisões da diretoria executiva. Além disso, joga seu futebol com alguns colegas da Poli-Usp toda quarta-feira, relembrando as passagens esportivas na época da faculdade. Afinal, com tantas conquistas ao longo da vida, é necessário dar um descanso, “mas não muito. Olhando para trás, minha felicidade é ver que ideias saíram do papel e foram executadas, trazendo soluções para a indústria. Defino minha vida com a palavra ‘dedicação’, pois, em tudo que fazemos, se colocarmos a dedicação em nosso comportamento, podemos ir longe”, finaliza Kato.