Águia de Ouro faz história no Carnaval de São Paulo, com temática do Japão moderno
Fotos Daniel Yonamine
Ser coroada como a grande campeã do Carnaval de São Paulo ainda não foi neste ano, mas a Águia de Ouro mostrou, mais uma vez, o quanto seus desfiles causam impacto e contagiam as pessoas. Quarto lugar na classificação geral, a agremiação da Pompeia levou toda a energia de uma grande escola para o Sambódromo do Anhembi, homenageando os 120 Anos de Tratado de amizade, Comércio e Navegação entre Brasil e Japão. E que homenagem.
Em números, a Águia foi soberana, especialmente nos corações dos mais de 600 nipo-brasileiros que desfilaram pela escola. Os cerca de 3200 integrantes, divididos em 26 alas mostraram a religião, cultura, costumes e os frutos dessa união com o Brasil. Através de carros alegóricos bastante modernos, o desfile focou no Japão atual, com seus contrastes culturais entre tradição e modernidade, além da influência no Brasil – como a explosão dos mangás e animes.
“Foi um desfile muito bem pensado, uma grande celebração entre os dois países (Brasil e Japão). Acho que conseguimos mostrar toda a exuberância e a beleza do Japão na avenida. Valeu a pena”, destacou o presidente da Águia, Sidnei Carriuolo. Empenhado 24 horas em promover um desfile “mágico”, ele envolveu todos os departamentos da escola nesta homenagem especial à terra do sol nascente. “Fizemos pesquisas no Japão, conseguimos trazer muitos descendentes para a quadra, além de contarmos com a presença de autoridades e ilustres personalidades. Enfim, fizemos um grande desfile, em um Carnaval cada vez mais competitivo”, sintetiza o presidente.
Vale lembrar que toda a mobilização feita junto à comunidade teve como elo o Instituto Paulo Kobayashi. Através do presidente de honra, Victor Kobayashi, e do diretor de projetos, Celso Mizukami, entidades, associações e outros grupos engajaram-se continuamente – por meses. “As alas com nipo-brasileiros tiveram uma energia positiva e ficamos muito contentes com o resultado. Isso mostra o quanto a comunidade é forte e representativa. A sensação é de dever cumprido”, explica Victor Kobayashi. Vale lembrar que, na história do Carnaval, nunca uma escola teve tamanha participação de nikkeis. A Vai-Vai, em 1998, levou menos de 600 pessoas no desfile que homenageou a imigração japonesa.
Terminada o desfile, agora é a hora de pensar na segunda etapa: o carnaval de Asakusa, que acontece em agosto, no Japão. A Águia de Ouro quer levar para lá cerca de 100 integrantes do Brasil, para fechar com chave de ouro todo o projeto envolvendo Brasil e Japão. “Já estamos estudando a forma como vamos participar em Asakusa. A ideia é levar integrantes e fantasias que utilizamos no Sambódromo para o Japão. Acredito que será muito positiva a nossa participação”, ressalta Carriuolo. Para o embarque, contudo, é necessário buscar recursos que subsidie itens como passagens, hospedagem e alimentação.
‘Tem japonês no samba’ – Se pela parte brasileira a palavra que descreve o desfile da Águia foi “engajamento”, pelo lado japonês o Carnaval também movimentou centenas de pessoas. Desde expatriados que puderam, pela primeira vez, contemplar um desfile, até as autoridades. Foi assim com o vice-ministro de Negócios do Japão, Takashi Uto, a estilista Junko Koshino e o corpo diplomático japonês no Brasil, a cargo do embaixador Kunio Umeda e o cônsul geral do Japão em São Paulo, Noriteru Fukushima.
Um dos responsáveis por viabilizar o tema “Japão” junto à Águia de Ouro, Fukushima destacou a força dos nikkeis e a importância do desfile no contexto dos 120 anos de tratado de amizade. “Todos estão de parabéns. Muitas pessoas do Japão acompanharam a repercussão do desfile. A própria Junko Koshino nos informou que foi um grande sucesso, com cobertura da mídia japonesa intensa. Foram meses de trabalho intenso, mas que valeu a pena. Nikkeis, brasileiros e japoneses trabalharam juntos e juntos construíram mais um capítulo desta história”, comemorou.
Como todo grande projeto, o carnaval da Águia teve um toque majestoso, que engrandeceu ainda mais o desfile: a presença do ex-jogador Zico. Elo entre Brasil e Japão, especialmente após ser o responsável pelo crescimento e desenvolvimento da J-League (liga japonesa de futebol), o “Galinho” desfilou no último carro alegrórico – produzido especialmente para ele, diga-se de passagem. “Foi uma grande homenagem ao povo japonês, sempre tão disciplinado e carinhoso. A Águia está de parabéns pela festa e eu me sinto honrado por ter sido, também, homenageado”, explica.
Entoando a plenos pulmões o samba-enredo, Zico relembrou a passagem pelo país oriental, sintetizando de forma categórica o período de 15 anos no Japão. “Se fosse preciso, faria mais com o mesmo prazer. Mas chega um ponto que tudo tem seu limite. O trem está nos trilhos para que outros possam tocar”, disse Zico, finalizando com um sentimento que, com certeza, reflete bem o Carnaval da Águia de Ouro: “O Japão se emocionou com este desfile. E esse sentimento que eu tenho é o de gratidão. Nós, brasileiros, somos gratos por tudo que os japoneses contribuem. O Japão é um exemplo e merece uma homenagem tão grandiosa como esta.”