Animação de Hayao Miyazaki, indicada ao Oscar, celebra a inventividade e lamenta o uso que se faz dela
Fotos Divulgação California Filmes
Chega às telonas brasileiras, no mês de março, mais um longa, e talvez o último, de um dos mais famosos e respeitados criadores do cinema japonês, Hayao Miyazaki – que anunciou recentemente sua aposentadoria. Responsável por filmes consagrados como “A viagem de Chihiro” e “O Castelo Animado”, o diretor faz em “Vidas ao Vento” (Kaze Tachinu no título original), uma das animações mais adultas e românticas de sua carreira.
O filme, indicado ao Oscar de melhor animação, conta a história de Jiro Horikoshi – o designer que criou o famoso avião de combate japonês Mitsubishi A6M Zero, considerado um dos mais mortíferos usados na Segunda Guerra Mundial e protagonista do ataque que arrasou a base norte-americana de Pearl Harbor, no Havaí, em 1941. Desde os dias da infância do engenheiro, ao papel fundamental no esforço da guerra, o longa acompanha Jiro nos tempos difíceis que antecederam o conflito, passando também pelo grande terremoto, que devastou Tóquio, em 1923.
No filme, o jovem Jiro sonha em voar e desenhar lindos aviões com formato de pássaro, inspirado pelo designer aeronáutico italiano Caproni. Como não pode ser piloto, por ter miopia desde a infância, Jiro se dedica a desenhar aeronaves, e faz do sonho de colocar um avião no ar, a meta da sua vida. Assim, ele entra na divisão de aviões de uma grande empresa de engenharia japonesa. Enquanto luta pelo seu objetivo, Jiro conhece Naoko, uma jovem encantadora por quem se apaixona. E é exatamente durante os sonhos de Jiro, que Miyazaki emprega elementos fantásticos e irreais na história, uma das características dos filmes do diretor.
Apesar de ser uma animação, o longo de 126 minutos, não é voltado para o público infantil. É um filme para os adultos, com áudio original em japonês e legendas em português. E tem em seu elenco Hideaki Anno, Miori Takimoto e Hidetoshi Nishijima.
Como em outros trabalhos de Miyazaki, a animação tem uma mensagem clara de pacifismo, em que se aborda, com frequência, que voar é um “sonho amaldiçoado”, e Jiro é atormentado pelo drama de criar armas de guerra, ao invés de inventar, como é o seu desejo, algo belo.
Completam a história, a belíssima arte e sonoplastia do filme, pontos de sucesso também nas demais obras do diretor. Dos fundos pintados, passando pela retratação dos aviões, até os detalhes dos projetos, tudo é mostrado com maestria. A trilha sonora fica por conta de Joe Hisaishi, que trabalha novamente com Miyazaki, depois de colaborações em filmes como “Princesa Momonoke” e “A Viagem de Chihiro”.