Entidade: 60 anos de Bunkyo

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Uma das entidades mais importantes da comunidade nipo-brasileira completa seis décadas com muitas novidades e pela primeira vez em sua história tem uma mulher como presidente

Fotos Divulgação Bunkyo

Reconhecida como multiplicadora e divulgadora das tradições e cultura japonesa, além de fortalecer o intercâmbio entre o Brasil e o Japão, promover o entendimento e confraternização dos nipo-brasileiros e ser protagonista das principais realizações da comunidade nikkei, a Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, mais conhecida por Bunkyo, completa seis décadas de atividades como uma das entidades mais importantes da comunidade nipo-brasileira. E no ano do sexagenário aniversário tem, pela primeira vez em sua história, uma mulher como presidente. A okinawana Harumi Arashiro Goya foi eleita, no final de abril, como a nova líder da entidade.

Nomeada pelo governo de Okinawa como Embaixadora da Boa Vontade da Província, Harumi divide as atividades do Bunkyo com as da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, em que é diretora. Mesmo com a experiência acumulada em anos de atuação em outras entidades, a presidente sabe dos desafios que vai enfrentar a frente da associação: “É muita responsabilidade assumir tudo isso, e esse ano é muito importante para nossa entidade, pelos 60 anos de fundação, e para nossa comunidade, devido aos 120 Anos do Tratado de Amizade Brasil-Japão”, declara. Mas sabe exatamente o quer para o futuro: “Quero um Bunkyo com brilho próprio, uma entidade referência”, exalta.

“O Bunkyo é muito importante para a comunidade nipo-brasileira, já que agrega e divulga a cultura e as tradições japonesas não só para a comunidade nikkei, mas também para toda a sociedade brasileira. A diretoria que está assumindo agora é uma nova geração, com novo vigor para melhorar e modernizar a entidade”, destaca o ex-presidente, Kihatiro Kita. “Estou bastante satisfeito e feliz, e acredito que eu esteja saindo da presidência e deixando o Bunkyo melhor do que quando eu entrei e desejo o mesmo a Harumi”, completa.

Construção do Edifício-Sede do Bunkyo, no bairro da Liberdade
Construção do Edifício-Sede do Bunkyo, no bairro da Liberdade

Um pouco de história

Com a Segunda Guerra Mundial, e as leis proibitivas da época, as entidades mantidas por estrangeiros foram dissolvidas, e para os imigrantes japoneses que viviam no país essas associações eram extremamente importantes, já que cuidavam das atividades econômicas, dos eventos sociais, da educação, do relacionamento com o Japão e dos assuntos cotidianos da comunidade.

Só após alguns anos do final da guerra é que os nipo-brasileiros tiveram a possibilidade de se reorganizar. E essa chance surgiu em 1954, com a comissão organizada para participar das comemorações do 4º Centenário da cidade de São Paulo. Passada a festa, em 1955, visando a comemoração do 50º aniversário da imigração japonesa no Brasil, em 1958, decidiu-se manter a comissão.

Nascia assim, em 17 de dezembro de 1955, a Sociedade Paulista de Cultura Japonesa, que em 1968, devido a sua abrangência e atuação, passou a se chamar Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social, mais conhecida por Bunkyo. Em 1964, o edifício-sede, localizado no bairro da Liberdade, na esquina das ruas Galvão Bueno e São Joaquim, foi inaugurado, depois de uma extensa campanha junto às entidades, empresas e órgãos governamentais brasileiros e japoneses para a sua construção.

De lá para cá o Bunkyo continua cumprindo o seu papel de promover a confraternização dos nipo-brasileiros, além de fomentar e divulgar os diversos aspectos da cultura oriental. “O Bunkyo é uma entidade central, com presença forte na divulgação da história da imigração e da tradição japonesa. Histórias essas que fazem parte da trajetória do Brasil, que é um país de imigrantes”, destaca a vice-presidente do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, Lidia Yamashita, que desde 2007 atua no Museu e há 15 anos participa de perto das atividades do Bunkyo.

Espaço Multiuso
Espaço Multiuso

Por dentro do Bunkyo

No tradicional prédio da Liberdade, permeando os nove andares e os mais de 17 mil m², destaca-se uma estrutura com dois auditórios – o Grande, com capacidade para 1300 pessoas, e o Pequeno, para 180 visitantes –, o Salão Nobre, para realização de cerimônias para 200 pessoas, salas de reuniões, sala de exposições, uma biblioteca com 60 mil livros, uma sala para aulas de pintura e um estacionamento para mais de 100 veículos.

No ano passado, após algumas reformas, ganhou novos ambientes, o Espaço Multiuso, localizado no antigo ginásio, e uma área para exposição no primeiro andar, além de ter o Grande Auditório modernizado. E em 2015 as novidades continuam. No 1º subsolo será lançado o Espaço Cultural Bunkyo, um local de integração e difusão da cultura japonesa, com área de exposição, oficinas e o Centro de Difusão da Gastronomia e Culinária Japonesa.

Mantido com os recursos advindos das anuidades dos seus membros e da locação de suas instalações para outras entidades e empresas, o Bunkyo é organizado em 28 Comissões, que estão agrupadas em três Comitês, liderados pelos vice-presidentes e diretores: Comitê Administrativo, destinado a auxiliar os outros comitês no desenvolvimento de seus objetivos; Cultural/Social, voltado para criar e viabilizar as atividades voltadas para a divulgação da cultura japonesa; e o Comitê de Relacionamento, que tem como missão se relacionar com todas as entidades dentro e fora da comunidade nipo-brasileira, além de promover ações na área social. Além da participação de 30 regionais, representadas pelos presidentes das entidades locais, que contribuem para a expansão das atividades do Bunkyo a nível nacional.

Ao todo, são aproximadamente 300 eventos promovidos pela entidade durante o ano, desde os cotidianos, como as sessões semanais de cinema, até os grandes eventos culturais como o Gueinosai – Festival de Música e Dança Folclórica Japonesa, que em 2015 chega a sua 50ª edição, e reúne os melhores praticantes das artes de palco; as comemorações de datas marcantes da comunidade como o aniversário da imigração japonesa no Brasil, celebrado no dia 18 de junho; as campanhas sociais; as homenagens aos imigrantes com 99 anos ou mais, no Hakujusha Hyushou, ou aos destaques na área agrícola com o Premio Kiyoshi Yamamoto; além das atividades que extrapolam os limites físicos da entidade e ajudam a unir ainda mais as comunidade como o Fórum de Integração Bunkyo – FIB e o Festival de Danças Folclóricas Internacionais, que reúne apresentações de mais de 20 países.

Para manter toda essa engrenagem funcionando, a entidade conta com o combustível e trabalho de cerca de 350 voluntários que juntos fazem o Bunkyo e todas as suas atividades darem certo. Eles ocupam tanto os cargos na diretoria, como a condução das diferentes atividades promovidas pelas comissões. “Manter uma instituição como o Bunkyo é um desafio e sem voluntários não seria possível”, afirma Marcelo Hideshima, que desde 1995 participa da entidade e ajudou a fundar várias comissões como a de Jovens e do Bunka Matsuri.

Entre esses voluntários, os jovens marcam presença, colaborando não só na montagem e funcionamento dos eventos como também na organização. “Os jovens têm cada vez mais participação efetiva na realização dos principais eventos da entidade, dando continuidade a várias comissões, que existem há muitos anos, como a do Gueinosai.”, enfatiza Hideshima. “E isso é muito bom, porque significa que essas comissões vão perdurar ainda por muito tempo. O jovem tem papel fundamental na entidade, o futuro sem ele não tem sentido”, completa.

Além das atividades e da administração do edifício-sede, o Bunkyo também mantém outras três unidades: o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil, o Pavilhão Japonês e o Centro Esportivo Kokushikan Daigaku. A seguir, conheça um pouco sobre a história e as atividades de cada uma das unidades.

Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil
Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil

Idealizado pelos imigrantes japoneses como a grande realização do 70° aniversário da imigração japonesa no Brasil, com o objetivo de preservar e transmitir a história dos pioneiros às gerações seguintes, o Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil – MHIJB foi inaugurado em 1978, após uma ampla campanha de arrecadação de recursos tanto em terras brasileiras como no Japão.

Com o maior e mais completo acervo relacionado à história da imigração japonesa no exterior, o Museu ocupa quatro andares do edifício-sede do Bunkyo e “mantém um acervo de mais de 90 mil itens, aproximadamente. E esse número só cresce, já que continuamos recebendo objetos, fotos, quimonos…”, explica Lidia. “Além disso, contamos com uma reserva técnica no Kokushikan, onde guardamos as peças grandes como carroças”, completa.

Atualmente, o MHIJB soma 1592 m² de área expositiva, dividida no 7º, 8º e 9º andares. Os dois primeiros reúnem documentos e objetos que abrangem desde a assinatura do Tratado de Amizade Brasil-Japão (1895), a chegada dos primeiros imigrantes (1908), os núcleos coloniais (a partir de 1913), até a policultura. Já o 9º andar, inaugurado em 2000, enfoca os 50 anos pós-guerra, retratando as mudanças da comunidade nikkei, a chegada das empresas japonesas e a contribuição dos nipo-brasileiros à sociedade brasileira.

Segundo Lidia, o Museu está passando por um processo de renovação com a realização do Projeto de Modernização e Acessibilidade do Museu, iniciado no final de 2013. “A primeira ação foi a instalação da plataforma de acessibilidade entre o 8º e o 9º andar do MHIJB, inaugurada no ano passado”, conta.

No final do mês passado, outra etapa do projeto foi colocada em prática como a inauguração do espaço expositivo, localizado no 8º andar, e que aborda a história da comunidade japonesa no período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial, entre os anos de 1930 e 1940. “Também montamos uma área dedicada ao escritor japonês Tatsuzo Ishikawa (1905-1985), autor do romance ‘Sobo – uma saga da imigração japonesa’, que conquistou uma premiação de grande prestígio no Japão, o 1º Prêmio Akutagawa, em 1935”, explana Lidia. “Para montar esse espaço contamos com a ajuda do Museu Ishikawa, da Biblioteca Central da Província de Akita, mais uma realização das comemorações dos 120 anos de Tratado”, ressalta a vice-presidente.

Imagem do futuro Espaço Cultural Bunkyo que deve ser inaugurado até o final de 2015
Imagem do futuro Espaço Cultural Bunkyo que deve ser inaugurado até o final de 2015

Lidia revela ainda que para completar o projeto ainda serão realizadas mais duas ações: “Uma é o lançamento do catálogo do museu, que deve acontecer em breve, e a outra, com previsão para o final de 2015, que são os áudio-guias, versão trilíngue, que vão auxiliar o público durante a visitação com explicação sobre as obras”, detalha.

O terceiro andar, onde estão localizados o acervo e a biblioteca, também foi reformado. “Conseguimos melhorar a organização e catalogação de nossas peças, com móveis deslizantes que facilitam o armazenamento e visualização dos objetos”, relata Lidia.

Com a inauguração do Espaço Cultural Bunkyo, outras ações do Museu também serão realizadas. Na faixada, por exemplo, também haverá uma indicação para o MHIJB, já que atualmente o público tem um pouco de dificuldade de encontrar a entrada. “Também vamos instalar vitrines com alguns objetos de nosso acervo, além de televisões que vão mostrar outras peças que não estão expostas. O que vai nos ajudar a divulgar ainda mais nosso acervo, já que apenas 5% do nosso material estão à mostra no Museu”, enumera Lidia. “Acredito que todas as reformas e modernizações que estão sendo realizadas vão servir para promover e divulgar ainda mais esses e outros aspectos da cultura da terra do sol nascente”, finaliza.

Pavilhão Japonês
Pavilhão Japonês

Pavilhão Japonês

Projetado pelo professor Sutemi Horiguchi, a construção do Pavilhão Japonês, no Parque do Ibirapuera, antecedeu à do Bunkyo, e foi concretizada em 1954 pelo governo japonês e pela comunidade nipo-brasileira. O Pavilhão foi um presente à cidade de São Paulo, que comemorava o IV Centenário.

Ocupando uma área às margens do lago do parque, o espaço é composto por um edifício principal suspenso, que se articula em um salão nobre e diversas salas anexas, salão de exposição, além de um belíssimo lago de carpas e um jardim japonês.

O local, símbolo da amizade entre japoneses e brasileiros, foi construído com materiais trazidos especialmente do Japão, como as madeiras, pedras vulcânicas do jardim e lama de Kyoto, que dá textura às paredes.

A partir de 2014, os visitantes que visitaram o Pavilhão também puderam apreciar o jardim brasileiro – inaugurado em 2014 juntamente com as obras de revitalização do espaço, realizada em comemoração aos 60 anos do Pavilhão Japonês.

Centro Esportivo Kokushikan Daigaku
Centro Esportivo Kokushikan Daigaku

Centro Esportivo Kokushikan Daigaku

Com uma área de 23 alqueires, incluindo uma área coberta pela Mata Atlântica, localizado na Estância Turística de São Roque, o Centro Esportivo foi construído pela Universidade Kokushikan do Japão e doado ao Bunkyo, em 1997.

Capítulo representativo no intercâmbio Brasil-Japão, a principal construção do Centro é um ginásio destinado à prática de artes marciais, além do campo de mallet golf e de quadras de tênis.

No mês de julho, o espaço recebe uma das mais belas festas organizadas pelo Bunkyo, em conjunto com entidades nipo-brasileiras da região sudoeste paulista: o Sakura Matsuri, Festival das Cerejeiras, em que centenas de pés de cerejeiras atraem um público de mais de 10 mil pessoas que aproveitam para apreciar o visual e as diversas atividades culturais que acontecem ao longo do evento.

Anote na Agenda

Confira os principais eventos realizados pelo Bunkyo, que acontecem nos próximos meses

 

7ª Noite do Havaí – Jantar Dançante

Data: 30 de maio, às 19h

Local: Espaço Multiuso

 

Concerto Bunkyo aos Domingos

Datas: 14 de junho; 20 de setembro e 29 de novembro, sempre às 11h.

Local: Pequeno Auditório

 

Missa em Ação de Graças à Memória dos Imigrantes Japoneses e Culto Budista em Memória dos Imigrantes Japoneses

Data: 18 de junho

8h – Missa Católica, na Igreja São Gonçalo

14h Culto Budista, no Grande Auditório

 

50º Gueinosai – Festival de Música e Dança Folclórica Japonesa

Tradicionalevento que reúne escolas, professores e seus alunos (individual ou em grupo) com a apresentação de diferentes atrações da chamada “arte de palco”.

Data: 20 e 21 de junho (sábado, às 9h / domingo, às 10h)

Local: Grande Auditório

 

Hakujusha Hyoushou

Homenagem aos imigrantes japoneses com 99 anos de idade ou mais, indicados pelas entidades nipo-brasileiras de todo país (as indicações ainda podem ser enviadas até o dia 22 de maio para a Secretaria do Bunkyo).

Data: 21 de junho, às 9h

Local: Grande Auditório

 

19º Sakura Matsuri – Festival das Cerejeiras

Evento anual realizado durante a floração das cerejeiras, reunindo uma série de atrações e atividades da cultura japonesa.

Data: 4 e 5 de julho, das 10h às 17h

Local: Kokushikan – São Roque/SP

 

6º Concurso Nacional de Haiku

Promovido pela Comissão de Atividades Literárias, reúne poetas haikaístas de todo o país.

Data: 16 de agosto, às 9h

Local: Edifício-sede

 

Revitalização 2015 – XIV Fórum Nacional de Jovens Líderes das Entidades

Organizado pela Comissão de Jovens, reúne líderes jovens representantes de diferentes entidades nipo-brasileiras para tratar de temas relacionados à sua formação e informação.

Data: 05, 06 e 07 de setembro

Local: Kokushikan – São Roque/SP

 

44º Festival de Dança Folclóricas Internacionais

Festa anual que reúne quase 40 grupos de danças folclóricas relacionados às comunidades das mais variadas origens, em média 23 países.

Data: 26 e 27 de setembro (sábado, às 16h / domingo, às 15h)

Local: Grande Auditório

 

5ª Primavera Dançante – Jantar Beneficente

Data: 03 de outubro, às 19h

Local: Espaço Multiuso

 

9ª Grande Exposição de Arte Bunkyo

Coordenado pelas Comissões de Artes Plásticas e Arte Craft, congrega obras selecionadas de pintura (arte Contemporânea e Biten) e de artesanato (com destaque para cerâmica). As inscrições serão realizadas nos dias 14 a 16 de julho, no Bunkyo.

Data: de 11 a 18 de outubro (2ª a 6ª, das 12h às 17h / sábado e domingo, das 10h às 17h / Último dia, das 10h às 15h)

Local: Edifício-sede

 

45º Prêmio Kiyoshi Yamamoto

Destinado a homenagear destaques na área agrícola, cujos candidatos são indicados por organizações nipo-brasileiras de todo o país (as indicações podem ser enviadas até 8 de junho para a Secretaria do Bunkyo).

Data: 6 de novembro, às 19h

Local: Salão Nobre

 

45º Prêmio Literário

Tem o objetivo de homenagear os autores e as melhores publicações em língua japonesa e portuguesa e também das obras/autores de mangá.

Data: 14 de novembro, às 13h

Local: Salão Nobre

 

Feira de livros usados

Na feira é possível encontrar livros em japonês e português sobre diversos assuntos, inclusive mangás.

Data: 25 de novembro, às 9h

Local: Sala de Exposição

 

Cerimônia dos 60 anos de fundação do Bunkyo

Solenidade comemorativa aos 60 anos de fundação do Bunkyo e de homenagem aos colaboradores e voluntários na trajetória da entidade.

Data: 17 de dezembro

Local: Espaço Multiuso

 

Nova diretoria

Pela primeira vez na história, uma mulher assume a liderança da entidade. Aos 62 anos, Harumi Arashiro Goya é a nova presidente do Bunkyo

Harumi Goya assumi a presidência do Bunkyo, pela primeira vez na história uma mulher vai comandar a entidade
Harumi Goya assumi a presidência do Bunkyo, pela primeira vez na história uma mulher vai comandar a entidade

Conhecida pela atuação em diversas entidades da comunidade nipo-brasileira, a okinawana Harumi Arashiro Goya assumiu, no final de abril, o comando da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social – Bunkyo. Aos 62 anos, a engenheira civil é a primeira mulher a chegar à presidência na história da entidade. Dois dias após tornar-se presidente, Harumi conversou com a Mundo Ok e contou sobre os desafios de presidir o Bunkyo e os planos para a entidade. Confira o bate-papo!

Mundo Ok: Como se sentiu ao se tornar presidente do Bunkyo?

Harumi Goya: A sensação foi natural, porque não cheguei ontem na entidade. São 12 anos de trabalho no Bunkyo. Primeiro como tesoureira, mais tarde como 4ª vice-presidente e depois como 1ª vice-presidente.

MOK: Como é ser a primeira presidente mulher da história da entidade?

Harumi: Eu estou impressionada com a mudança de pensamento dos dirigentes. Fiquei realmente surpresa. Não achei que seria presidente tão rápido. Acredito que isso é uma quebra de paradigmas e tendo o Bunkyo como exemplo, outras entidades também podem abrir espaço em suas diretorias para as mulheres. E esse movimento já vem surgindo nas entidades, cada vez mais as mulheres ganham novos espaços e são reconhecidas por suas qualidades.

MOK: O que vai mudar na entidade com uma administração feminina?

Harumi: Vai mudar a forma de gerenciar, de mostrar o Bunkyo para a sociedade. Acho o Bunkyo muito sério e sisudo, quero torná-lo mais charmoso, mais aconchegante e receptivo.

MOK: E como pretende deixá-lo mais charmoso?

Harumi: Acredito que vamos começar com o atendimento. Um novo comportamento, uma nova conduta na forma de atender, mais cordial e acolhedora. Acho que uma mudança nos móveis e na decoração também ajude para uma energia mais receptiva. Também pretendo trabalhar essa nova visão e postura com os diretores e vice-presidentes. Tenho sorte de ter uma diretoria homogênea, formada por pessoas mais jovens e favoráveis a mudanças.

MOK: Quais são as suas principais atribuições como presidente da entidade?

Harumi: Tem toda a parte administrativa, o cotidiano da entidade mesmo, os projetos e atividades das comissões, nossos grandes eventos, além das reformas que estão acontecendo e das mudanças que quero realizar. Sem falar, nas comemorações dos 60 anos do Bunkyo, que será realizada em dezembro. Tenho que tomar cuidado para não ser “engolida” pelos afazeres do dia-a-dia e conseguir planejar e executar todo o resto.

Harumi Goya: “Quero um Bunkyo com brilho próprio... uma entidade referência”
Harumi Goya: “Quero um Bunkyo com brilho próprio… uma entidade referência”

MOK: E quais os principais desafios de ser presidente de uma entidade desse porte?

Harumi: A entidade é muito complexa, referência em várias áreas da cultura. Acredito que barreiras sempre vão ter, mas conversando vamos conseguir resolver. Até porque as decisões são tomadas em conjunto, em consenso com a diretoria, após muita conversa e trocas de ideias. Contudo, acredito que o nosso grande desafio é o financeiro.

MOK: O que pretende fazer para tentar driblar a questão financeira, uma dificuldade que atinge a maioria das entidades da comunidade?

Harumi: Pretendo trabalhar mais na divulgação da entidade e dos nossos eventos, e rever o conceito de capitalização de dinheiro para as atividades do Bunkyo. Temos que trabalhar mais a nossa marca para conseguir ampliar essa captação. Sendo uma instituição cultural o apelo para conseguir apoio é muito mais difícil, do que nas entidades assistenciais, por exemplo. Quando o Bunkyo foi construído as pessoas doavam por doar, atualmente encontrar essas pessoas é muito difícil, geralmente tem que ter uma contra partida. E o equilíbrio disso é muito difícil, porque não podemos deixar que vire um comércio de cultura.

MOK: Quais serão suas primeiras ações como presidente?

Harumi: Minha primeira ação será mudar a cara do Bunkyo. Precisamos modernizar nossa gestão, nosso atendimento. Vou continuar a reforma, iniciada pelo presidente Kita, ainda faltam o Espaço Cultural, os banheiros e outras áreas. Também quero divulgar melhor nossos espaços de locação, com uma espécie de tour virtual no site, para as pessoas conhecerem melhor nossas áreas. Além de otimizar e melhorar o Grande Auditório com vendas de ingressos pela internet para as apresentações.

MOK: Umas das reclamações da maioria das entidades é que o número de jovens está diminuindo nas instituições. Isso também acontece no Bunkyo?

Harumi: Eu sinto que o número de jovens está caindo, mas vou delegar para os próprios jovens da nossa comissão para que eles atraiam seus pares, vamos trabalhar em projetos juntos para mudar essa situação. Precisamos sempre motivá-los para eles continuarem na entidade, vamos sempre fortalecer esse relacionamento, porque os jovens são muito importantes para a preservação e difusão da cultura japonesa, pois são eles que não vão deixar nossas entidades e nossas tradições morrerem.

MOK: Por outro lado, tem algum projeto voltado para o público da melhor idade?

Harumi: Temos um grupo grande da melhor idade aqui, quero ampliar e melhorar os diversos projetos que já temos voltados para esse público, quero um Bunkyo mais acolhedor para eles também. Um bom exemplo a se seguir é o que acontece em algumas entidades do Peru, que vão buscar as pessoas de mais idade em casa e levam até a associação, servem lanches, são ideias que serão estudadas por nós.

MOK: E como pretende aproximar o Bunkyo da comunidade brasileira?

Harumi: São poucos os brasileiros que participam ativamente da entidade, acho que um dos nossos desafios será atrair mais brasileiros para participar efetivamente do Bunkyo, além dos eventos, que já contam com um bom público de não-descendentes.  Acho que o novo Espaço Cultural que está sendo construído pode atrair esse público, já que vamos investir em cursos e workshops de culinária japonesa, assunto que os brasileiros se interessam bastante. Nesse espaço (que ainda estamos correndo atrás de investimento para finalizar as obras) também pretendemos montar uma biblioteca de mangá e uma sala de música de instrumentos japoneses.

MOK: Para finalizar, o que os associados, a comunidade nipo-brasileira e a sociedade em geral podem esperar da sua gestão?  

Harumi: Podem esperar muitas novidades. Pretendo fazer um planejamento estratégico para os próximos 5 ou 10 anos. Retomar o intercâmbio com o Japão, a parceria tanto na parte cultural, quanto na empresarial. Quase não temos mais atrações do Japão se apresentando no Brasil, e quero ampliar essa interação. Expandir a parte de palestras, trazendo especialistas e pessoas interessantes para contar suas histórias. Na medida do possível, pretendo visitar as entidades do interior para reiterar e ampliar nossas parcerias. Além de desenvolver projetos que atendam os dekassegui (trabalhadores brasileiros no Japão) que voltaram ao Brasil e aproximá-los mais da entidade, um desafio para nós e para várias associações. E também precisamos pensar em profissionalizar alguns cargos dentro da entidade. Atualmente, tirando os funcionários, todos são voluntários. Mas, acredito que em alguns projetos seria interessante um profissional que o tocasse até o fim, com total comprometimento. Mas, para isso é necessário uma mudança profunda de paradigma que deve começar a ser discutida, uma transformação para ser colocada em prática a longo prazo. Quero um Bunkyo com brilho próprio, que não seja um labirinto, que tenha uma acessibilidade clara. Enfim, uma entidade referência.