Especial: Ano Novo oriental  

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Conheça os ritos e tradições das celebrações de novo ano dos povos asiáticos

Imagens Divulgação/Reprodução

No Japão, exatamente à meia noite, acontece o rito “Joya no Kane”, os 108 badalos dos grandes sinos em templos budistas, anunciando a passagem do ano
No Japão, exatamente à meia noite, acontece o rito “Joya no Kane”, os 108 badalos dos grandes sinos em templos budistas, anunciando a passagem do ano

Seguindo diversos costumes e tradições, o Ano Novo dos povos orientais é marcado por ritos que ocorrem não só na data da virada, mas antes, durante e depois do último dia do ano. Ao contrário da festa ocidental, a passagem para um novo ano na Ásia é, normalmente, ligada a religião.

Para os japoneses, o Ano Novo é o mais importante festejo social do País, é quando inicia uma nova vida, com nova energia e nova animação. “As tradições budistas de origem japonesa celebram com grandes festividades a passagem do ano. Os chineses também comemoram com muitas festas, preces e encontros culturais, só que em outra data”, ressalta Monja Coen, missionária oficial da Tradição Sotoshu – Zen Budismo do Japão.

Na terra do sol nascente a preparação para o Ano Novo começa no início de dezembro. Segundo a pesquisadora da cultura e etiqueta social japonesa, Lumi Toyoda, são dois ritos principais que iniciam no começo de dezembro: primeiro resolver todos os problemas pendentes durante o ano, e segundo realizar os preparativos para receber o novo ano. “Saldar débitos, presentear pessoas que fizeram favores durante o ano, presentear os clientes vips, e preparar a decoração especial de ano novo, e as comidas típicas da data”, enumera.

A Monja Coen também esclarece que antes do final do ano é importante fazer uma grande faxina em todo templo, casa, escritório ou empresa. “Limpar cantos, armários, gavetas, documentos e veículos, jogando foram o desnecessário e abrindo espaço para os novos objetos e maneiras de se pensar a vida”, conta. “Toda alimentação dos três primeiros dias do ano devem ser preparadas até o dia 31 de dezembro, pois não se deve cortar, nem usar facas nos primeiros dias do ano. Também não se deve varrer as casas para não tirar o que o ano novo trouxe de bom”, detalha.

 No dia 31 de dezembro, a maioria das famílias se reúne e é comum ir até um templo budista para o rito Joya no Kane, o tocar dos grandes sinos anunciando a passagem do ano. “São 108 badalos que significam a renovação da vida”, revela Lumi. “Os grandes sinos bonsho são tocados 108 vezes representando a capacidade de superar os 108 obstáculos à iluminação, entre eles dúvida, desânimo, sonolência, preguiça…”, complementa Coen.

Exatamente à meia noite os japoneses consomem o toshi koshi sobá da passagem do ano, “para que as coisas boas e os bons relacionamentos sejam mantidos”, afirma a Monja Coen. Lumi conta que sobá é o nome macarrão, porém, existe outro significado: ao lado, próximo, estar lado a lado com as pessoas presentes na ceia naquela noite. “E o comprimento do macarrão significa vida, quanto mais longa a massa, mais longa a vida”, enaltece Lumi.

Complementam as celebrações, de acordo com Coen, orar e pedir bênçãos aos seres iluminados para que o novo ano transcorra em tranquila sabedoria e profunda compaixão, com saúde, prosperidade, contentamento, sucesso e bons relacionamentos. E é importante não falar, não pensar e não agir de forma grosseira ou desagradável. “Fogos de artifício, luzes nas montanhas e celebrações longas e alegres também são comuns em algumas regiões do País”, ressalta. “No Japão, como é inverno e muito frio, depois das pessoas tocarem os grandes sinos, muitos templos ainda oferecem o amazake, saquê doce e quente com gengibre”, completa.

No Brasil, Lumi explica que infelizmente os jovens preferem ignorar os ritos tradicionais e passar o Ano Novo descansando. “Apenas em casas que preservam muito a tradição, ou em comunidades, como no Bunkyo (Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social), que ainda realizam as comemorações e festas, como a que acontece na praça da Liberdade”, justifica.

Entre os okinawanos, segundo Shinji Yonamine, especialista em cultura e tradições de Okinawa, o Ano Novo se inicia a partir do santuário familiar, o Butsudan (oratório), em que as mulheres da casa preparam comidas para serem oferecidas aos antepassados no oratório. “A família mais visitada é a casa principal, onde moram os pais ou avós e onde, normalmente, está o Santuário Familiar. Por lá, os familiares acendem três senko (incenso japonês) e, sucessivamente, as visitas são efetuadas nas casas dos parentes mais velhos para receber a bênção dos mais iluminados da família”, explica. “É nesta ocasião, para a alegria das crianças, que elas recebem de presente o otoshidama (dinheiro no envelope), para lhes trazer sorte”, completa o especialista.

Shinji também revela que no Brasil, ultimamente, essas tradições vêm caindo em desuso, e só as famílias mais tradicionais que mantêm esses rituais.

Celebração chinesa

Na China - e em outros países asiáticos - a celebração só é encerrada no 15º dia do novo ano com o Festival das Lanternas, que ilumina o céu com centenas de luzes
Na China – e em outros países asiáticos – a celebração só é encerrada no 15º dia do novo ano com o Festival das Lanternas, que ilumina o céu com centenas de luzes

Já na China, ao contrário do ocidente que segue o calendário gregoriano e a virada de ano acontece do dia 31 de dezembro para o dia 01 de janeiro, o Ano Novo é comemorado segundo o calendário lunar, o que adia as comemorações para o mês de janeiro ou fevereiro. “Em 2015, por exemplo, será no dia 19 de fevereiro, e celebraremos a entrada do ano do carneiro – cada ano na China é regido por um signo animal, em um total de 12 bichos”, explica o professor de Relações Governamentais e representante do Instituto Aliança Brasil-China, Sung Tien Lo.

Marcada por muita festa e pela reunião familiar, “a data é a mais importante do ano não só para os chineses como para todo o sudeste e sudoeste da Ásia, em um total de mais de 20 países”, detalha Sung. “Mesmo hoje com toda a globalização, a China, literalmente, para durante 15 dias, tanto o comércio, quanto as indústrias e repartições públicas”, esclarece.

Para os chineses é o momento de retornar as origens, de visitar os avós, pais e parentes, de reviver, ao longo de duas semanas, suas origens e alimentar suas crenças e tradições milenares.

Como no Japão, o rito de passagem de ano na China tem início semanas antes, pois os chineses costumam limpar seus lares para afastar os maus espíritos.

A mesa farta também é uma marca das comemorações chinesas. “O principal prato consumido na data é o jiaozhi, tradicionais trouxinhas envolvidas em uma massa e cozida, semelhante ao guioza, preparados por todos os integrantes da família”, conta Sung. O peixe é outro elemento sempre presente, já que para eles simboliza prosperidade e boa sorte.

“Nesta época, é comum também os mais velhos, de idade e hierarquia familiar, darem presentes em forma de dinheiro, dentro de envelopes vermelhos, os hongbao, que simbolizam a fertilidade e a continuidade de gerações. O dinheiro dado aos netos, sobrinhos e filhos, representa a economia que os pequenos devem, desde já, realizar para o futuro”, elucida o especialista.

E as comemorações não param. As ruas das cidades são invadidas por lanternas vermelhas e decoração especial, e centenas de pessoas se reúnem para ver as apresentações das danças do leão e do dragão, e para acompanhar a tradicional queima de fogos de artifício, que atrai sorte e espanta as energias negativas.

A comemoração chinesa só termina no 15º dia do novo ano, quando acontece o tradicional Festival das Lanternas, que ilumina e enfeita o céu com centenas de luzes.

Segundo Sung, as comunidades chinesas espalhadas pelo mundo, principalmente a grande comunidade em torno da cidade de São Paulo, ainda seguem fielmente as tradições. “As famílias acendem incensos, oferecem aos seus entes queridos e festejam a entrada de mais um ano de trabalho, e acreditam na fertilidade e continuidade de suas gerações. Também há troca de telefonemas e mensagens de bom novo ano, e algumas associações fazem suas próprias festas”, conta.

Na Liberdade, o bairro mais oriental da capital paulista, a JCI Brasil-China (Junior Chamber International) organiza uma grande festa pelas principais ruas da região para celebrar o Ano Novo Chinês. Em 2015 o evento chega a sua 10ª edição, reunindo milhares de pessoas em dois dias de festa.

Sebae, costume em que os mais jovens cumprimentam respeitosamente as pessoas mais velhas da família
Sebae, costume em que os mais jovens cumprimentam
respeitosamente as pessoas mais velhas da família

Seollal – O Ano Novo Coreano

Os coreanos comemoram o Ano Novo, tanto no dia 01 de janeiro, como seguindo o calendário lunar, mas segundo a especialista em cultura coreana e general manager do Centro Cultural Coreano do Brasil, Yoo Na Kim, o lunar é o que tem mais força na Coreia e é chamado de Seollal.

A data é uma ocasião muito especial para os coreanos, pois é uma época para prestar homenagem aos antepassados e também uma oportunidade de rever os membros da família. “Muitos vão para a casa dos pais para encontrar toda a família e comemoram reunidos e de trajes tradicionais, o Hanbok”, detalha Yoo Na.

“O Seollal e o Chuseok, que é a comemoração da colheita, realizada em setembro, são os dois feriados prolongados de tradição dos coreanos, que costumam passar com a família”, lembra a especialista.

Durante o Seollal os coreanos também jogam jogos tradicionais, como o yut – jogo de mesa coreano, ouvem histórias e conversam noite a dentro com a família.

A comida é outro ponto muito importante e levado a sério por eles. As famílias costumam passar o dia inteiro antes do Seollal para preparar a comida para ser servida à família e as oferendas aos antepassados. Yoo Na explica que o prato principal é o teok-guk, sopa de bolinhos de arroz. Mas outros pratos também acompanham a celebração como o galbijjim (costelas assadas), japchae (massa com legumes salteados), jeon (tipo de omelete) e os doces tradicionais coreanos.

A manhã do Ano Novo começa com o charye, ritual ancestral, em que uma mesa cheia de comidas como o teok-guk, vegetais e frutos é preparada e a família vestindo as roupas típicas reúnem-se em a frente ela, fazendo referências, oferendas e orações aos antepassados. Os coreanos esperam que as virtudes dos ancestrais sejam passadas para eles. Quando o ritual termina, a família come a comida que está disposta na mesa.

Após o Charye, os coreanos fazem o Sebae, costume em que as pessoas jovens ajoelham e cumprimentam respeitosamente as mais velhas como saudação de Ano Novo. “Depois das crianças fazerem o jol, que seria a reverência às pessoas com mais idade da família, os avós, pais e tios, recompensam os mais jovens oferecendo um envelope com dinheiro e desejando que os mais novos ganhem muito dinheiro e que alcancem todos os seus desejos no novo ano”, explica Yoo Na.

Já na comunidade coreana no Brasil, a especialista conta que a maioria das famílias não chega a usar roupas tradicionais, mas comem o teok-guk. “As que têm avós fazem a reverência, mas é a minoria. Muitos da nova geração de coreanos comemoram o ano novo igual aos brasileiros”, finaliza.

 

Templo Zu Lai celebra o Ano Novo com a Peregrinação pela Senda da Iluminação
Templo Zu Lai celebra o Ano Novo com a
Peregrinação pela Senda da Iluminação

Celebração Ano Novo Templo Zu Lai

O Templo Zu Lai, localizado em Cotia, Região Metropolitana de São Paulo, e a Associação Internacional Luz de Buda oferecem aos visitantes uma programação especial de Ano Novo, na Celebração do Ano Novo – Peregrinação pela Senda da Iluminação, realizada nos dias 31 de dezembro e primeiro de janeiro de 2015. O Templo também faz uma celebração especial de Ano Novo Chinês, no dia 01 de março de 2015. Confira a seguir as atividades da virada do ano:

Programação:

31 de dezembro de 2014

18h – Jantar de confraternização com culinária vegetariana (Necessário a aquisição antecipada de convite para o jantar).

 21h – Peregrinação pela Senda da Iluminação: cerimônia de peregrinação que permite a purificação dos carmas que operam em nosso corpo, nossa fala e em nossa mente, permitindo que desenvolvamos o cultivo dos preceitos da meditação e da sabedoria, e também que atravessemos o mar de sofrimento em segurança, chegando à Terra dos Mil Budas com tranquilidade. Dentro do Templo Principal haverá alguns minutos de meditação silenciosa, a leitura da Oração de Dedicação de Méritos e, em seguida, a mestra Miao Yen (Abadessa) fará uma breve retrospectiva do ano que termina, concluindo suas palavras com votos de Feliz Ano Novo.

23h30 – Toque do grande tambor e repicar do “grande sino”, simbolizando a despedida do ano que se vai e as boas-vindas ao ano que se inicia.

24h – Celebração do Ano Novo com oferenda do Primeiro Incenso do ano e com os presentes do Templo.

24h30 – Fim da Celebração com a partida dos convidados.

01 de janeiro de 2015

10h – Cerimônia dos Mil Budas

Informações

Templo Zu Lai

Estrada Municipal Fernando Nobre, 1461, Jardim Pioneira – Cotia / SP

Tel.: 11. 4612-2895

zulai@templozulai.org.br

www.templozulai.org.br

 

No Templo Taikozan Tenzui Zenji, a Monja Coen realiza uma celebração especial do Ano Novo, seguindo os preceitos budistas
No Templo Taikozan Tenzui Zenji, a Monja Coen realiza uma
celebração especial do Ano Novo, seguindo os preceitos budistas

Ano Novo Especial

No Templo Taikozan Tenzui Zenji (Templo Zen Seguidor da Imensidão da Montanha Luz de Paz), comandado pela Monja Coen o Ano Novo também é comemorado de forma especial: “Encerramos o ano com a prática de Zazen (meditação sentada). Por volta das 23h as pessoas adentram as salas de meditação, tendo chegado antes e trazido alimentos e bebidas para compartilhar mais tarde”, explica Coen.

Seguindo os costumes, “pouco antes da meia noite iniciamos os 108 toques do sino, em que todas as pessoas presentes participam, levantando-se em silêncio e tocando o sino”, detalha. Coen conta que exatamente à meia noite todos comem ao mesmo tempo uma pequena taça com o toshi koshi soba, o macarrão da passagem do ano, e só então conversam, se congratulam mutuamente e desejam saúde e felicidades para todos.

“Em seguida iniciamos as liturgias do primeiro dia de janeiro, e as preces de Revolver o Sutra da Sabedoria Completa para afastar todas as dificuldades e dar boas-vindas ao discernimento correto e às atitudes de respeito, inclusão e compaixão. Também oramos pela paz na Terra, a harmonia entre todas as nações, o compartilhamento de bens materiais para que acabe a fome e a miséria no mundo, pelo bem do País e a sabedoria aos dirigentes, e pedimos pela saúde de nossos amigos, parentes, professores e mestres dos ensinamentos de Buda”, esclarece a monja.

Após as orações, as pessoas são banhadas pelo vento do Sutra da Sabedoria Completa e recebem “fudas” – pedaços de papel grosso onde estão escritos caracteres japoneses  dando boas-vindas à nova Primavera (Ano Novo), invocando a Sabedoria Perfeita e solicitando que não haja desastres na casa, templo, residência, escritório ou oficina.  “Esses “fudas” são mais tarde colocados em cada residência, templo ou local de trabalho”, revela Coen. “Terminadas as preces, iniciamos o compartilhar de alimentos e bebidas.  Algumas pessoas cantam, tocam instrumentos, recitam poemas. Não servimos bebidas alcóolicas.  Por volta das três horas da manhã finalizamos”, completa.

O ponto principal, segundo Coen, é celebrar a vida e nunca deixar de se maravilhar com a existência. “E que todos os seres possam ser felizes e que possamos nos tornar o Caminho Iluminado”, finaliza a monja.

Informações

Templo Taikozan Tenzui Zenji

Rua Desembargador Paulo Passaláqua, 134 – Pacaembu

Tel.: 11. 3865-5285

zendobrasil@gmail.com

www.zendobrasil.org.br

Centenas de pessoas se reúnem na praça da Liberdade para participar do Festival e comer o tradicional moti
Centenas de pessoas se reúnem na praça da Liberdade para participar do Festival e comer o tradicional moti

Moti Tsuki Matsuri

Com o objetivo de celebrar a passagem do ano, a Associação Cultural e Assistencial da Liberdade – Acal, realiza a 44ª edição do Moti Tsuki Matsuri ou Festa do Bolinho da Prosperidade, no dia 31 de dezembro, a partir das 9h, na praça da Liberdade.

O nome do festival vem do passado quando as famílias japonesas se reuniam para fazer o moti (bolinho de arroz), que era socado no pilão de madeira, no primeiro dia do ano. Ainda hoje, algumas famílias mantêm a tradição, mesmo morando no Brasil. Outras famílias se reúnem na sua respectiva associação de bairro, ou clube, para fazerem o moti.

Durante o evento são realizadas cerimônias xintoístas de purificação e do moti tsuki, desejando um maravilhoso próximo ano. Os bolinhos de arroz, abençoados, são distribuídos ao público presente, em saquinhos contendo dois motis, um branco e um vermelho, representando paz e felicidade.

Mais informações sobre o festival na Acal pelo telefone 11. 3208-5090 ou pelo e-mail acalliberdade@terra.com.br.