Eventos: Onda de festivais

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Nos meses de julho e agosto a cultura nipônica invade a cidade de São Paulo com a realização de diversas festas com temática japonesa

 Tamires Alês/ Fotos: Cinara Piccolo

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Música, dança, artes, exposições, gastronomia, costumes, tradições… essas e outras peculiaridades da cultura milenar japonesa invadem e agitam as cidades brasileiras em várias épocas do ano, nos chamados matsuris – festivais, pequenos ou grandes, que abrangem um ou muitos aspectos da cultura nipônica.

São tantos eventos que não existe uma estatística de quantos são realizados ao longo do ano, só se sabe que a maioria das entidades que fazem parte da comunidade japonesa no Brasil realiza pelo menos uma festa em que as culturas e as tradições da terra do sol nascente são ressaltadas.

“Os festivais, a meu ver, podem ser vistos como manifestações de identidade dos japoneses no Brasil. Isto é, como uma forma de demarcar a sua identidade apelando para as tradições japonesas como os matsuris”, opina a pesquisadora e antropóloga, Celia Sakurai, de 60 anos.

Os meses de julho e agosto, em especial, reúnem as maiores e mais famosas festas da comunidade nipo-brasileira. Com destaque para o Festival do Japão, considerado a maior festa de cultura japonesa da América Latina, e que em 2013 está em sua 16ª edição; o Festival Yosakoi Soran, que traz toda a energia e vibração dessa dança contemporânea, que une tradição e modernidade; o Festival de Taikô, que em sua 10ª edição reúne centenas de tocadores espalhados pelas terras tupiniquins; e o Okinawa Festival, o maior evento de cultura uchinanchu fora de Okinawa.

Tradição dos Matsuris

Com o objetivo de manter a essência de suas raízes, bem como rever antigos amigos, almoçar todos juntos e confraternizar, os imigrantes japoneses promoviam pequenos encontros. Os frequentadores eram exclusivamente os japoneses e seus filhos a fim de trazer um pouco da terra do sol nascente e enfrentar a saudade da terra natal.

Como eram apenas encontros de famílias, é difícil precisar a primeira festa nipo-brasileira. Alguns historiadores acreditam que tenha sido após a fase de trabalho nas fazendas de café, quando os imigrantes iniciam a formação das colônias. Outros apostam na teoria que esses eventos começaram com os undokais, as festas poliesportivas organizadas pela associação cultural local em conjunto a escola de língua japonesa, inspirados na comemoração do aniversário do imperador, que para os imigrantes era o símbolo e a referência de sua pátria.

Das reuniões informais e pequenos encontros para grandes ocasiões, os matsuris aos poucos começaram a ganhar maiores proporções. Foi entre as décadas de 1970 e 1980, quando a cultura japonesa no mundo e também no Brasil ganha mais visibilidade e espaço, que esses festivais começam a se desenvolver.

 14jul-FJ2012_0214_Foto-Cinara PiccoloEssas festas que eram realizadas na sede da própria associação para a comunidade local passam a atrair não só os descendentes de japoneses, mas também os ocidentais, que se interessavam pela cultura e gastronomia oriental. Assim, surge a necessidade de procurar lugares cada vez maiores para realizá-los. “Foi no final do século passado que eles ganharam mais força e começaram a ‘pipocar’ pelo Brasil, quase todas as cidades realizam um”, conta Celia.

Essas festas cresceram tanto – principalmente depois das comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil, em 2008 – que se tornaram verdadeiros eventos turísticos, com cada vez mais público. “São parte de um ‘marketing’ da comunidade diante da sociedade abrangente. Na realidade ocorre que os significados desses matsuris são pouco conhecidos pela maior parte dos integrantes da comunidade nipo-brasileira. Também, precisa-se ressaltar que nem sempre seguem os significados originais para dar lugar a eventos midiáticos que chamem a atenção para a comunidade”, avalia a pesquisadora.

Se antes eram apenas uma forma de lazer, organizados pela própria comunidade, atualmente, os matsuris tornaram-se grandes acontecimentos, com uma promoção formal e um público que pode ultrapassar a margem de 200 mil pessoas. Contudo, há aspectos que, desde então, nem mesmo o tempo conseguiu alterar: o espírito de congregar e unir pessoas, mesmo que seja só por alguns dias.