O PAI DA IMIGRAÇÃO

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“Quem foi Ryo Mizuno ?” Se esta pergunta fosse feita aos membros da comunidade nikkei do Brasil, pouca gente saberia responder. Até mesmo nas comemorações do Centenário da Imigração, ele não teve o destaque que merece, de vez que os membros da Comissão Organizadora se perderam em perfumarias na preparação das festividades desta data tão importante.

Mas para contar a história de Ryo Mizuno é preciso começar falando primeiro do quadro sócio econômico do Japão no início do século XX. A modernização e a política expansionista implantada pelo imperador Meiji tinham custo elevado. Os agricultores, que até então pagavam seus impostos com parte da produção, agora eram obrigados a pagar altos valores em dinheiro, sendo que muitos tinham ainda que pagar aos donos da terra. Essa massa empobrecida começou a invadir as cidades, que não tinham ocupação para todos. A solução foi transferir cidadãos japoneses para fora do país, como mão de obra temporário ou como colonos após invasões. Já nos últimos anos do século XIX, grupos de japoneses tinham sido enviados para o Havaí, Austrália, Manchúria, Ilhas Fiji, Estados Unidos e outras localidades, que tinham como ponto comum a proximidade com o Japão. Mas em todos os lugares começaram a aparecer problemas, o que dificultava o envio de mais imigrantes. Foi nesse quadro que aparece o nosso personagem.

Ryo Mizuno era um político visionário e empreendedor objetivo. Em 1906 ele leu um relatório sobre a cafeicultura no Brasil, mais precisamente no estado de São Paulo, uma atividade bastante rentável, mas que sofria com a falta de mão de obra, em grande parte devido à abolição dos escravos. Aí é que deu um estalo, o Brasil era um país sedento de mão de obra e o Japão, um país com gente sobrando. MIzuno não perdeu tempo. Como não havia transporte regular para o Brasil, teve que embarcar em um navio com destino ao Chile. No caminho conheceu um jovem, Teijiro Suzuki, que foi convencido por ele a seguir viagem até o Brasil. Chegando ao Chile, tiveram que atravessar a cordilheira dos Andes rumo à Argentina, com a ajuda de mulas, uma aventura difícil de se fazer até nos dias de hoje. Sem contar que Mizuno já tinha 47 anos, um idoso para os padrões da época. De Buenos Aires ele viajou para o Brasil e com a ajuda do corpo diplomático japonês, conseguiu contato com o governador de São Paulo, Jorge Tibiriça, a quem mostrou o seu plano imigratório. A desconfiança foi muito grande, principalmente pelo biotipo japonês, mas ele propôs que o jovem Suzuki fosse trabalhar numa fazenda por três meses, como um teste. Suzuki se saiu muito bem, o que incentivou o governador a assinar um tratado de imigração, que estabelecia a vinda de 3.000 japoneses nos próximos três anos. Mizuno voltou ao Japão e através da Companhia de Imigração Imperial, da qual era o presidente, começou a juntar interessados para a primeira leva de imigrantes, trazidos em 1908 pelo navio Kasato-Maru. E depois disso ele se empenhou em trazer levas e mais levas de imigrantes, em mais de 20 viagens que fez entre o Japão e o Brasil.

Outros personagens também tiveram importância no processo de imigração dos japoneses para o Brasil, mas sem Mizuno é bastante provável que este não seria na escala que aconteceu. O Brasil ocupa no globo terrestre a posição oposta ao Japão, tudo aqui é muito diferente do Japão, do clima aos costumes, somente um visionário para fazer aposta tão ousada. E foi graças a esta ousadia que temos hoje mais de um milhão e meio de nikkeis brasileiros vivenciando uma experiência tão rica, de mesclar culturas e costumes tão distintos. Só temos a dizer, obrigado Ryo Mizuno, o verdadeiro Pai da Imigração Japonesa!!