O PREÇO DA ESPERTEZA

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Desde tempos antigos, quando era capital do país, os cariocas sempre se julgaram superiores a brasileiros de outros estados, principalmente em relação aos paulistas. Mesmo que os dois grandes movimentos culturais do pais no século XX tenham ocorrido em São Paulo (Semana da Arte Moderna e a eclosão da música popular brasileira através dos Festivais da Record), zombarias como a que o poeta Vinicius de Morais fez ao classificar a cidade de São Paulo como “túmulo do samba” aconteceram muitas vezes ao longo do tempo. No futebol, quando esquipes cariocas e paulistas disputavam uma final, o campo era escolhido através de bolinha e a que indicava o Maracanã era a mais gelada do saquinho, e eles sempre engavam os times daqui. Na política, nas artes, nos negócios, os cariocas sempre se gabavam de serem os mais espertos, os que sempre levavam vantagem em tudo. João Havelange, Carlos Nuzman e tantos outros dirigentes esportivos cariocas, mandaram e desmandaram fazendo o resto o país de bobos. Para exemplificar, na escolha do local para sediar os Jogos Pan-americanos de 2007, os paulistas prepararam um dossiê sério que mostrava que a Região Metropolitana da São Paulo estava preparada para sediar o evento com pequenos ajustes em praças esportivas. Já o dossiê dos cariocas era uma confusão de informações, mostrando que a cidade não tinha estrutura para sediar os jogos a não ser que verbas vultosas fossem aplicadas em obras. No final nem analisaram os dossiês pois já tinham previamente escolhido o Rio de Janeiro como sede. Tudo não passou de enganação. O que se viu depois é que os cariocas se enrolaram em mutretas e trapaças e as contas deste evento até hoje não foram aprovados pelas autoridades competentes.

E essa lenda de que eram espertos acabou sendo difundido de tal forma que nos últimos tempos todos os cariocas se consideravam espertos. Só que na vida real isso sempre acaba em encrenca porque uns sempre são mais espertos do que outros. Quem fazia parte da “tchurma” se deu bem, sejam políticos, bandidos ou empresários. Dentre estes os mais afoitos, gulosos e descuidados acabaram se dando muito mal, como o ex-governador Sergio Cabral, mas a maioria está curtindo a vida com o que surrupiaram dos cofres públicos. Com os cofres públicos vazios, a população do estado do Rio de Janeiro está vivendo uma situação de calamidade, onde quase nada funciona e que culminou com a intervenção federal na área da segurança pública. Mas toda essa situação vem de longe, começou em 1960, quando Juscelino transferiu a capital para Brasília. Perderam o título de capital, mas não a pose. Algumas décadas antes a cidade do Rio de janeiro já tinha sido ultrapassada em importância econômica por São Paulo, cuja pujança contrastava com o encolhimento e empobrecimento da outrora cidade maravilhosa. Os governos militares transferiram a maior parte dos órgãos públicos federais para Brasília, tirando o Rio de Janeiro como centro dos principais acontecimentos nacionais. Continuamente foram governados por políticos corruptos, incompetentes e perdulários, vivendo de repentes como os Jogos Pan-americanos, as Olimpíadas, Rock in Rio, Carnaval e outros eventos.

A realidade tarda mas cobra o seu preço. Os espertos cariocas estão colhendo nos dias de hoje, décadas de arrogância e irresponsabilidade. Mas como existem males que vem para o bem, quem sabe se agora eles começam a aprender que a grande malandragem da vida é ser honesto, trabalhador, esforçado, dedicado e humilde. Nada vai tirar de nós, brasileiros, este espírito alegre, festivo e carinhoso, mas a realidade está mostrando que só isso não basta. Viver cantando como a cigarra é bom, se na maior parte do tempo vivermos também como as formiguinhas. Porque como na fábula, quem viveu só cantando por muito tempo, agora está dançando!!