Eu estive lá no dia 15 de março. E vou avisando, não fui porque tenho ódio de pobre, de nordestino, de negro, ou seja lá de quem for. Fui para mostrar minha indignação…
Até tentaram encobrir a indignação de milhões de brasileiros com falsos pretextos. Ora diziam que era coisa da elite branca que não se conformava em ver gente pobre no poder. Ou que os burgueses não queriam perder os seus privilégios. Ou que os tucanos queriam um terceiro turno. E outras babaquices do gênero. Acho que a grande maioria dos que participaram da passeata não queria a destituição da presidenta Dilma e nem estava dando força para os partidos da oposição, afinal, eles fazem parte do jogo tanto quanto os que estão no poder. O grito de protesto foi direcionado para todos aqueles que, após o fim da ditadura militar, aproveitaram o clima do vale tudo que se instalou no Brasil e, através de leis compradas ou na cara dura mesmo, roubaram e estão roubando descaradamente os cofres públicos e o bolso da população. E isso vale para os políticos e seus comparsas de todos os partidos e em todos os níveis, que desviam dinheiro público para seus bolsos; empresários desonestos que sonegam impostos e mamam nas tetas do governo, seja através de empréstimos suspeitos ou de negociatas nas licitações; banqueiros e empresas de cartão de credito, que praticam a “agiotagem consentida”, os milionários e bilionários (a verdadeira elite branca) que pagam quase nada de impostos e compram os políticos para que nada mude na política fiscal do país; enfim, todos os brasileiros que enriquecem de forma desonesta neste país.
E verdade seja dita, nesta passeata não tinha muito do que se convencionou chamar de povão. A grande maioria era de classe média mesmo, burgueses como somos carimbados pelos “pseudo-esquerdistas”, os tais defensores dos pobres e oprimidos. E não temos medo e nem vergonha dessa nossa condição de burguês. Sim, moramos numa boa casa, temos bons carros, nossos filhos estudam em boas escolas, temos plano de saúde, alguns até tem casa na praia ou uma chácara, mas não muito mais do isso. Mas não somos a elite branca e não discriminamos ninguém pela cor da pele, pela posição social, pela origem ou por questão ideológica. Não vivemos de renda, temos que trabalhar para ter uma vida razoavelmente confortável. Somos privilegiados dentro do universo populacional do país, mas isso não é culpa nossa. Chegamos onde estamos com o sacrifício de nossos pais e pela nossa dedicação e trabalho. Não ganhamos nenhum tipo de bolsa, nossa aposentadoria é uma merreca, dificilmente usamos hospitais públicos e o único benefício que recebemos do Estado, depois de 60 anos de idade, é o transporte gratuito. O resto que usamos de público nós pagamos através IPVA, IPTU, pedágios, contas de água, de luz e de telefone. Aliás, nossa relação maior com o Estado são os impostos. Isso nós pagamos muito, praticamente sustentamos este país. Nada a reclamar se esses impostos fossem bem empregados, daí a razão principal da nossa indignação. Como usaram mal o dinheiro público nos governos pós ditadura, como os políticos fizeram maracutaias para beneficiar parentes, aliados e amigos. Por mais que aumentem a carga tributária, não dá para tanta farra com os cofres públicos.
É esta a razão principal das passeatas, um alerta para o grande buraco que está logo ali na frente. Um buraco que vai atingir a todos, mas principalmente os mais pobres, que Lula insiste em colocar como nossos inimigos. O país ainda pode desviar do buraco, mas para isso precisamos de competência e honestidade. Melhor seria com Dilma, mas mesmo os a apoiam precisam entender que o Brasil é maior do que uma presidenta, por mais legitimidade que tenha. E competência e honestidade não parecem ser os pontos fortes deste governo. Por muito menos Collor foi obrigado a fazer suas caminhadas pelas praias de Macéio e não mais na Lagoa de Paranoá!
NELSON FUKAI é engenheiro, escritor e analisa questões do presente e passado da comunidade nipo-brasileira. E-mail: nelsonfukai@yahoo.com.br.