Análise: A política e a comunidade nipo-brasileira

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A política exerce um papel fundamental em qualquer segmento social. Costumo dizer que ela representa um caminho com degraus. A política é forma de atividade humana ligada ao exercício do poder. Este, na esteira dos ensinamentos de Max Weber, Lasswell e Talcot Parson, pode ser sintetizado como um fato de participar das decisões em prol do sistema social. Em uma linguagem popular, o poder é considerado como uma das molas que movem o mundo, ao lado do dinheiro e do sexo…

HaradaNa prática, às vezes,  o exercício do poder político descamba para assuntos menos relevantes, principalmente no âmbito do Legislativo, onde são apresentadas proposituras para comemorar o “dia da árvore”, o “dia da onça pintada”, “do pássaro preto”, etc. Devemos digerir os inevitáveis acidentes de percurso.

No Brasil, em menos de 50 anos de imigração a comunidade nikkei elegia o primeiro integrante do Parlamento no mundo Ocidental, o Vereador e depois Deputado, Yukishigue Tamura, cujo exemplo foi seguido vários outros, contrastando com outros países de imigração mais antiga. Esse fato tem muito a ver com a rápida integração e ascensão do nikkei que deixou de se constituir em uma comunidade fechada, para integrar a sociedade brasileira como um de seus segmentos significativos.

Entretanto, essa tese que apresentei no Seminário de avaliação da imigração japonesa ao longo dos cem anos, realizado em São Paulo, no ano de 2010, não foi levada em conta. Na exposição que fiz no módulo coordenado por Sedi Hirano inclui a participação política como um dos fatores relevantes no processo de evolução, integração e ascensão do nikkei ao lado da cordialidade do povo brasileiro, desprovido de preconceitos e discriminações e, naturalmente, a sua afeição à milenar cultura japonesa que envolve fundamentalmente a educação. Mas, o coordenador da área centrou todo o sucesso desse processo de integração e ascensão do nikkei ao seu apego à cultura japonesa, caracterizada pela valorização da educação e pela solidariedade familiar, repetindo o que já era voz corrente, não passível de qualquer contestação.

Em que pese a importância desse aspecto, esta é uma visão parcial que desconsidera a realidade social do mundo onde vivem os nikkeis, além de não valorizar a participação dos políticos nipo-brasileiros. Se o apego à cultura japonesa é comum aos nikkeis do mundo inteiro, como sabemos, o processo de integração e ascensão deveria ter acontecido de forma uniforme, principalmente nos países de imigração mais antiga como Estados Unidos (1885), Canadá (1890), Peru (1899),  México (1897), Bolívia (1899) etc. Nos três primeiros países a repressão à comunidade nikkei foi de tal ordem que deixou uma mancha inapagável na memória dos que sofreram humilhações nos campos de concentração e na de seus descendentes. No Canadá, até 1949, os nisseis não haviam adquirido a plena cidadania de seu País. Sabemos que a discriminação racial, tipificado como crime no Brasil, constitui um óbice à escalada do nikkei na política. Isso explica o fato de que no Canadá, até hoje, apenas dois nikkeis tiveram assento no Parlamento, enquanto que no Brasil, de 1948 para cá, a participação do nikkei na política evoluiu de forma considerável. Hoje, existem inúmeros políticos tanto no Executivo, como no Legislativo, onde despontam parlamentares valorosos, dentre outros, como Walter Ihoshi, Junji Abe e Aurélio Nomura que constroem a grandeza deste País e muito valorizam a sociedade nipo-brasileira pela visibilidade positiva que conferem as suas ações.

Kiyoshi Harada é Jurista, Acadêmico, escritor e Presidente do Conselho Deliberativo do Bunkyo. Contato: harada@haradaadvogados.com.br