No Brasil jovens negros, quase sempre moradores de favelas, são mortos por policiais periodicamente, viram manchete por no máximo uma semana, um protesto dos parentes e amigos e tudo fica esquecido. Os responsáveis muitas vezes nem são punidos pois justificam os atos como retaliação a um provável ataque, a justiça funciona pela metade e tudo continua a acontecer como sempre. Nos Estados Unidos a morte de um adolescente, asfixiado por um policial acendeu uma pólvora e os protestos atingem proporções alarmantes. Todos eles começam de forma pacífica, mas muitos acabam descambando para a violência e saques a lojas e outros estabelecimentos. O presidente Trump ameaça colocar a Guarda Nacional para combater os protestos, no que pode virar uma guerra campal que pode gerar muitos mortos e feridos. Uma pergunta que sempre fica no ar. Apenas 13% da população americana é formada por negros (lá, como se diz na gíria, passou de branco é considerado negro) enquanto no Brasil eles são mais 50%, se considerados os pardos. O Brasil é o país onde existe o maior número de organizações que atuam da defesa dos direitos dos negros. Então, quais motivos levam os negros americanos a se revoltarem de forma contundente contra a violência policial, enquanto no Brasil os protestos são tímidos?
A principal razão seja de formação, de história. Até pouco mais de meio século, os negros americanos não eram tolerados pelos brancos. A discriminação era descarada e até legal em alguns estados do sul. Esse ódio racial pode ser explicado pelo fato de os brancos americanos serem descendentes de ingleses, um povo que por muito tempo se achava superior a outros. Essa separação absoluta fez nascer um sentimento de orgulho nos negros e ao invés de se sentirem acuados, sempre foram à luta, mesma quando elas eram desiguais. Assim foi que nos anos 60 do século passado, a luta pelos direitos dos negros se intensificou na figura de Martim Luther King, cujo assassinato ajudou a acabar legalmente com a discriminação racial. A partir daí os americanos adotaram uma lei nunca escrita, mas sempre obedecida por negros e brancos. Negros podem frequentar as mesmas escolas, os mesmos restaurantes, praticar os mesmos esportes enfim podem tudo igualzinho os brancos, só não podem entrar na intimidade do lar, ou seja, negros não casam com brancos. Quando acontece são casos isolados, desprezíveis estatisticamente. Como os negros também acham que casar com brancos não é bom negócio, a regra tem funcionado bem. Ou seja, o negro americano quer ter os mesmos direitos dos brancos, mas quer continuar negro. Negros ricos, famosos ou poderosos na sua grande maioria são todos casados com mulheres negras. No Brasil a colonização foi feita pelos portugueses, povo mais amistoso, e a miscigenação já começou a acontecer durante a escravidão e foi se ampliando, mesmo com a chegada dos imigrantes italianos e espanhóis. A discriminação que aconteceu e ainda acontece no Brasil de forma bem camuflada, reside basicamente nas poucas oportunidades que os brancos dão aos negros de ascenderem social, profissional e financeiramente. É o pior tipo de racismo pois eterniza a escravidão. Tivemos uma janela de oportunidade no século passado, quando escolas públicas eram de boa qualidade. Mas por motivos ainda a serem estudados, poucos negros aproveitaram dessa janela. Esse misto de miscigenação e falta de oportunidades fez do Brasil um país “sui-generis” em matéria de racismo. A maioria dos policiais que praticam violência contra jovens negros, tem sangue negro correndo em suas veias. A maior discriminação contra as mulheres negras, é praticada por homens negros que ficam ricos ou famosos e as desprezam para casar, fato nunca estudado por sociólogos e outros intelectuais. Dificilmente o Brasil vai ter, como teve os EUA, uma primeira dama negra. Por essa confusão toda de valores é que a população negra do Brasil não faz grandes protestos quando é atingida. E só com cotas raciais não se erradica o racismo camuflado que existe no Brasil!!