Relação Familiar

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O oratório familiar “Guansu”está localizado na casa, onde se dá a continuidade do culto com orações durante o ano. Em Okinawa o túmulo da clã familiar “Muntyu Baka” está localizado distante da casa normalmente,em uma colinanas cidades ou nas vilas, as visitas neste local são realizadas somente em ocasiões especiais.

Shinji

Os túmulos mais antigos têm os formatos do útero da mulher “Kameko Baka”,ou de uma carapaça de tartaruga, o falecido não é enterrado ele volta para o seio da Mãe Natureza, os ossos são depositados em uma urna de porcelana na forma fetal, é como se voltasse para o ventre da mãe.

O túmulo da clã familiar “Muntyu Baka” ou mesmo a relação espiritual com os ancestrais por meio do Ihai, é um conjunto que faz parte desta tradição, não dispensando nenhum elemento da família, cada um ocupando o seu lugar indiferente a religião, pois ao final ele é aceito no túmulo como membro.

O espírito não veio por acaso, mostra que o nada existe, ele é eterno e que fazemos parte deste conjunto de Energia de Transformação infinita, a vida é um ritual de passagem “Muutu Ya”– Casa de origem.

O tronco familiar “Muutu”é uma só estrutura com muitos filhos, fazendo o equilíbrio entre os ascendentes e os descendentes.

Sendo o ponto de referência e o princípio da relação familiar, a casa do pai e avô, onde sempre voltamos em Okinawa, é o local, que se valoriza o eterno, esta casa tem o papel de um Santuário Familiar, divididos em níveis, quanto maioro número de descendentes, maior será a sua relação com os ascendentes, significa a existência de uma grande Energia Familiar.

As casas de acordo com o seu valor espiritual

“Ufuyá”: é a Casa dos Pais com 3 gerações;
“Naka Muutuyá”: casa intermediária com 7 gerações;
“Muutuyá”: casa intermediária com 12 gerações;
“Ufu Muutuyá”: casa com a raiz maior, acima de 25 gerações.

São casas de intensa peregrinação e oração familiar, neste sistema cria-se uma relação de conjunto, dependendo da importância da casa chega a envolver a comunidade com os seus laços de parentesco, fortalecendo o conceito de “shimantchu” – conterrâneo. São pessoas que mesmo distantes fazem parteda sua ramificação familiar, e quanto mais antiga a tradição da casa, maior é o seu peso espiritual.

A união de duas pessoas no sentido religioso,significa que estão unidos até que a morte os separe. No costume de Okinawa, o casamento tem um significado especial,“nibiti” – arrancar pela raiz, significa criar um novo ambiente e uma nova Estrutura Familiar.

Esta união é considerada eterna,é o casamento de duas metades,o solteiro é considerado metade, e o casado é considerado inteiro, assim “miitundaadutiiti” – o casal de um corpo só, “kaami nu tibimaditiichi” – as cinzas do casal permanecem juntas, até mesmo na urna funerária.

Todo o ritual do noivado e o pedido de casamento, são efetuados no oratório familiar “Guansu” , respeitando a relação familiar juntamente com os ancestrais.

Esta tradição devido ao seu forte vínculo familiar tem influência na relação pessoal. Daí ao encontrar um conterrâneo, a primeira pergunta é: De que lugar você é? A conversa se estende chegando ao ponto de se tornarem conhecido ou parente, fortalecendo o conceito de “Ichariba Chode” – se encontrar somos irmãos.

SHINJI YONAMINE é Palestrante e aborda questões históricas sobre Okinawa. E-mail: shinji.yonamine@uol.com.br.