Analista sugere participação do Brasil em crise envolvendo China e Japão
O Brasil tem interesses e precisa se empenhar nos esforços internacionais para pôr fim à tensão territorial entre China e Japão, mesmo com capacidade limitada para atuar na questão. A avaliação é do pesquisador e professor Alfredo Valladão, da Universidade Science Po Paris, que participou, no fim de novembro, da 10ª Conferência de Internacional de Segurança do Forte de Copacabana, promovida pela Fundação Konrad Adenauer e pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio de Janeiro.
“A questão do Japão e da China é que aquela região é chave para a economia mundial, que está toda interconectada. Nós vamos sofrer muito porque vendemos soja e ferro para a China, que é o que mantém a nossa balança comercial. Para nós, o fato de ter ou não um conflito na região vai nos atingir diretamente”, disse o pesquisador.
Em caso de acirramento das tensões entre as duas potências, que são a segunda (China) e a terceira (Japão) economias do mundo, investimentos e uma das principais cadeias de valor poderiam ser paralisadas, causando prejuízos a todo o mundo. Para o Brasil, a questão seria especialmente delicada por outra questão que foge à economia, segundo lembrou o pesquisador: os laços criados pela imigração asiática.
“Temos uma grande e importante comunidade de origem japonesa. Se houver um conflito entre Japão e China, será difícil tomarmos posições e até ficarmos neutros. Teremos no Brasil sentimentos e emoções que serão difíceis. Isso criaria problemas na nossa relação estratégica com o Japão e a China”, avalia Valladão.
Para o professor, a força do Brasil virá da ação multilateral. “Temos todo o interesse em tentar fazer parte dos grupos que estão tentando acalmar aquela tensão. Não podemos fazer isso sozinhos, porque não temos nenhuma força nem legitimidade para isso, mas, junto com os outros, vamos trazer mais força e legitimidade para as decisões que podem ser tomadas em comum pelas grandes potências e pela ONU”.
Membro do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), o diplomata Marcos Azambuja concorda que o Brasil tem um limitado poder de ação, mas que precisa atuar na questão: “Temos que agir através das Nações Unidas e dos órgãos multilaterais, mas reconhecendo que o poder brasileiro não se estende tão longe nem tem efeito contra países tão importantes. Temos que nos, fóruns internacionais, falar pelo entendimento e a negociação”.
Japão e China disputam o direito às Ilhas Senkaku/Diaoyu, na região do Oceano Pacífico conhecida como Mar da China Oriental, onde Taiwan e Coreia do Sul também reivindicam território. Reservas de recursos naturais e rivalidades históricas estão entre os motivos.
(com Agência Brasil)