Tradição: A vida entre o canto e a viola

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O sanxian em chinês era um instrumento típico do sudeste da China, que deu origem ao sanshin, sendo o instrumento musical mais importante e popular de Okinawa, o seu bojo fechado funciona como uma caixa acústica, é revestido de couro de cobra ou pele sintética, tem três cordas e com o braço geralmente de mogno ou ébano, é tocado com um dedal chamado chimi…

Shinji YonamineO sanshin é um instrumento informal e a grande característica do seu desempenho, é o fato de que é necessário tocá-lo acompanhado de um canto, formando um conjunto “utato sanshin”, fazendo disto um momento de descontração e purificação da alma, tanto nas horas de tristeza ou alegria. Desta informalidade de presença constante junto ao seu dono, faz ter uma forte relação espiritual entre os mesmos. Tornando se um patrimônio familiar, de difícil comercialização pelo seu valor afetivo.

Uma grande parte dos imigrantes que aportaram do navio Kasato Maru trouxeram a sua viola, tendo recebido de seus pais como se fosse uma herança de seus ancestrais, posteriormente aqui no Brasil, muitos imigrantes ganharam sanshins, confeccionados por amigos. A Segunda Grande Guerra, praticamente dizimou uma grande parte da ilha de Okinawa e muitos sanshins se perderam.

No início das comemorações do Centenário da Imigração Japonesa no Brasil, no ano de 2008, em pesquisas realizadas pela Associação Okinawa Kenjin do Brasil, veio ao nosso conhecimento a existência de um sanshin de propriedade do sr. Seisim Miyashiro, herança do seu pai sr. Ihati Miyashiro, que foi um dos 1º imigrantes. Para o nosso espanto além da viola, o estojo protetor mantinha as suas características originais, ao levarmos este conhecimento para as autoridades de Okinawa, este fator despertou o interesse de outras famílias também, que passaram a nos oferecer as suas violas para serem avaliadas pelo público em geral, pois até então estavam guardadas no seio familiar.

Para a nossa alegria e satisfação, juntamente com as comemorações dos 85 anos da Associação Okinawa Kenjin do Brasil, sob o patrocínio da província de Okinawa, vieram três técnicos avaliadores de sanshin, no período de 07 a 16 de julho. Felizmente entre São Paulo e Campo Grande (MS) cinquenta e um instrumentos foram considerados de grande valor, sendo que foram encontrados uma viola pertencente ao sr. Wake Chooko, confeccionado pelo artesão Hiranaka Chinen em 1.850 e que este tipo de viola supõe-se a existência de somente dois ou três sanshins no mundo, e outras  violas do estilo Makabi e Yona do ano de 1870 pertencente ao sr. Shinko Kuniyoshi, e em Campo Grande (MS) encontraram uma viola do período de 1870 a 1890, pertencente ao sr. Hissagui Shimada. Todos os sanshins receberam o “Certificado de Autenticidade” enriquecendo o patrimônio familiar.

Existe um ditado, “que os chineses têm o costume de colocar livros na edícula principal da casa, os japoneses com muito orgulho expõe a espada do samurai, e o uchinanchu (pessoas nascidas em Okinawa) expõe o sanshin enaltecendo a harmonia do espirito”.

Nota: Nas comemorações do centenário o sanshin do sr. Seisim Miyashiro foi alvo de grandes reportagens na mídia em geral, inclusive no ano de 2011, na vinda da famosa Banda Begin de Okinawa ao Brasil, foi realizado um grande show no Centro de Exposições do Anhembi em São Paulo, com o público estimado em 7.000 pessoas,  o vocalista Eisho Higa executou uma música com o sanshin centenário, emocionando a plateia.