Tradição: Shimanchu – Parte 2

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Em 1908 vieram os primeiros imigrantes no navio Kasato Maru, dentre os 871 imigrantes que vieram para o Brasil, 325 eram provenientes da Província de Okinawa correspondendo aproximadamente 42%. Os imigrantes vieram em busca de uma vida melhor, com o objetivo de juntar dinheiro e voltar para o Japão, muitas famílias deixaram os filhos sob a guarda dos avós…

Shinji YonamineDesembarcaram no Porto de Santos, vieram para a cidade de São Paulo para a Hospedaria dos Imigrantes, de onde os mesmos foram encaminhados para os locais de trabalho, os okinawanos foram para as fazendas paulistas localizadas na linha Mogiana e Sorocabana.

Com o decorrer do tempo, os imigrantes viram que as propostas apresentadas no Japão, não estavam de acordo com a realidade brasileira, dando início às fugas noturnas. Eles se debandaram para outros locais, os okinawanos se instalaram na região portuária de Santos e posteriormente na construção da Ferrovia Santos Juquiá e da Ferrovia Noroeste rumo ao Mato Grosso, em consequência disto em seis meses dos 871 imigrantes, sobraram nas fazendas somente 191 imigrantes.

Este fato criou uma repercussão negativa principalmente em relação a duas comunidades, Kagoshima e Okinawa que eram grupos de maior contingentes, foram acusados de não cumprirem contrato e criaram confusões entre os brasileiros que trabalhavam na lavoura, com estas acusações foi proibida a entrada de novos imigrantes. A partir deste momento, um okinawano só poderia vir para o Brasil, caso houvesse um chamamento de um familiar, que ficasse responsável pela pessoa – Yobiosse.

Em pouco tempo os hábitos dos okinawanos começaram a causar estranheza – o que fazia com que muitos japoneses ainda não estivessem habituados às diferenças culturais em relação aos okinawanos e para muitos japoneses o dialeto falado pelos okinawanos requeria a intervenção de intérpretes.

Muitos okinawanos se sentiam ressentidos e discriminados, quando eram chamados de “okinawa san” , achavam o termo pejorativo, porque “san” conjugado a uma região passa a ser produto da região. Exemplo: cana de açúcar, abacaxi etc. Os primeiros imigrantes ficavam irados com esta denominação, o termo certo seria “okinawa kenjin”, nascido na região.

Com todas as acusações que receberam, alimentou o sentimento de injustiça entre os okinawanos, que acreditavam que muitas questões eram distorcidas e os problemas apontados não eram de responsabilidade exclusiva deles, mas era comum a todos os imigrantes. Dessa forma os okinawanos se mobilizaram para reivindicar os seus direitos e pleitear a revisão das medidas de restrições.

Em 1926, o Ministério das Relações Exteriores do Japão permitiu novamente a imigração okinawana, na condição que fosse formada uma entidade que se responsabilizasse pela fixação e educação dos imigrantes que viessem para cá. Em vista disso, foi fundada a Kyuyo Kyokai, que foi o embrião da formação da atual Associação Okinawa Kenjin do Brasil, na região do Mercado da Cantareira, na capital de São Paulo, fundado por 27 líderes da comunidade.

A Associação Okinawa Kenjin do Brasil mantém 42 subsedes que procuram divulgar, valorizar e manter a cultura okinawana. Sendo também o elo entre a comunidade e o governo de Okinawa.

SHINJI YONAMINE é palestrante da cultura e tradições de Okinawa. E-mail: shinjiyonamine9@gmail.com.